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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!
Língua portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva
Vota Brasil
A televisão nos últimos dias está nos concitando a votarmos conscientemente
e escolhermos os melhores candidatos no próximo dia 5. Campanha institucional
como é chamada a publicidade desse tipo.
Antes, em outra campanha publicitária, mostrou-nos o cantor Gabriel, o Pensador, com meia dúzia de palitos de fósforos, tentando nos ensinar a atravessar as ruas. Teve um tempo em que a mais que bela Ana Paula Arósio sugeria-nos a utilização dos serviços de telefonia interurbana de determinada empresa. Outros apelos, para ficarmos só nos mais recentes, foram para que fizéssemos nossas transações em determinada instituição bancária e para que entrássemos em clima de campeonato mundial de futebol.
Sei que para os publicitários, a criatividade deve estar acima da linguagem formal, do padrão culto, do certo (bem) ou do errado (mal) e que a sonoridade de uma frase muitas vezes justifica o atropelo gramatical. A finalidade é incutir no ouvinte ou leitor, destinatário da propaganda, a mensagem do anúncio. Esse objetivo, porém, justificaria o erro matemático, a ausência de lógica ou a falta de concatenação das idéias?
Nem sempre, porém, a mensagem publicitária foi de vocabulário mediocrizado: Melhoral, melhoral, é melhor e não faz mal! é um exemplo típico dos tempos em que a correção do texto era um dos pressupostos da propaganda.
Hoje, em nome de uma tal de globalização (banalização, diríamos melhor), a sintaxe que se arda!
A solicitação de agora é Vota Brasil. Gabriel, dito Pensador, há pouco tempo apelava: Pedestre, atravessa na faixa; Ana Paula Arósio convidava Faz um 21; o banco chamava, Vem pra Caixa você também; e na época da Copa do Mundo o locutor conclamava o telespectador, com o seu bordão Se liga Brasil a se interessar pelos jogos prestes a se realizarem.
Como está na frase, Vota Brasil é uma forma imperativa na terceira pessoa do singular, como também o são atravessa na faixa, Faz um 21, Vem pra Caixa e Se liga, pois os verbos (votar, atravessar, fazer, vir e ligar) estão exortando o ouvinte ou leitor a cumprir a respectiva ação por eles indicada. Só que ao invés de empregar o verbo no modo imperativo, tais frases o trazem no indicativo.
A terceira pessoa do imperativo deriva de igual pessoa do presente do subjuntivo; que ele vote; que ele atravesse; que ele faça; que ele venha; que ele ligue. Então o correto seria: Vote Brasil,Pedestre, atravesse na faixa, Faça um 21, Venha para a Caixa e Se ligue Brasil.
É sabido que o verbo mostra as diferentes maneiras como um fato se realiza: o indicativo (exprime um fato certo, positivo: Ele vota); o imperativo (enuncia uma ordem, um conselho ou um pedido Vote corretamente).; e o subjuntivo expressa possibilidade, suposição, fato possível ou hipotético, ou, ainda, duvidoso: Tomara que ele vote certo.
Claro está que a mensagem da Justiça Eleitoral é um chamamento ao
exercício correto e livre do voto. Então o verbo, pelo padrão aceito da linguagem,
deverá estar no imperativo: vote. Não há outra norma ou regra gramatical diferente.