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Manoel Afonso - "Ex-deputado Sérgio Naya: sem saudade!"
Canalhas acabam se dando bem em qualquer lugar. No Brasil nem se fala! Um país generoso, do jeitinho, onde as amizades são chaves que abrem portas estratégicas para quem busca poder, fama e dinheiro.
Como os escândalos se sucedem, a mídia nem se lembrava mais da figura do ex-deputado Sergio Naya, abrigado confortavelmente na falta de nossa memória. Claro que algumas centenas de brasileiros não se esqueceram deste personagem. São familiares e amigos daqueles que morreram (8) ou que perderam (106) seus apartamentos e pertences em conseqüência do desabamento do prédio Palace II construído com materiais reciclados pela empresa do ex-deputado no Rio de Janeiro.
A sua morte recente é uma boa oportunidade para se discutir o uso do mandato parlamentar como escudo da impunidade. Afinal, ele foi deputado federal por três mandatos consecutivos, tinha bom trânsito no circulo do poder, recebeu comendas e condecorações, inclusive da Inconfidência Mineira e pasmem: ainda era beneficiário de pensão da Câmara Federal.
O balanço final da trajetória de Naya decepciona aqueles que sonhavam com uma punição exemplar. Ora! Ficou apenas 106 dias na prisão e aqueles que ele prejudicou receberam apenas 15% do que tinham direito e ainda foi absolvido criminalmente das acusações do Ministério Público. O pior é que com sua morte outros credores como ex-empregados e a União terão preferência no recebimento de dívidas e não há garantias que sobrará patrimônio suficiente para indenizar os ex-moradores do Pálace II.
Por conta disso, o ex-deputado não tinha do que reclamar: continuava empresário, com bens e contas bancárias no exterior e levando uma vida tranqüila longe dos holofotes da mídia. Confiava na superioridade do malabarismo de seus advogados contra a Justiça recheada de brechas que só beneficiam os culpados.
Centrada nos festejos carnavalescos, infelizmente a imprensa não deu o destaque necessário a péssima conduta de Sergio Naya. Não falou, por exemplo, dos males que ele causou a tantas pessoas, dos seus negócios obscuros e nem advertiu a população quanto aos riscos de eleger outros personagens de igual caráter.
Seria o caso de perguntar: quantos choraram a sua morte? Se não levou absolutamente nada do que usurpou de terceiros, pelo menos não deixou saudades junto à opinião pública.
E em tempos de Quaresma, a reflexão implacável: E valeu a pena tanta cobiça? De leve...
Manoel Afonso
Comentarista da TV.Record-MS
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