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Geral

A capacitação e o aperfeiçoamento do nosso professorado

Nelson Valente* - 04 de julho de 2009 - 07:38

Surge, por iniciativa do MEC, o Pacto Nacional de Educação. Como em todos os demais, não se sabe se dará certo, apesar das suas magníficas intenções, principalmente no que se refere à qualidade de ensino.
Os debates se sucedem e nem sempre as teses são renovadas. Repetem-se conceitos e reclamações, como se a educação brasileira fosse mesmo um imenso e monótono realejo.
Como não custa especular, resolvi propor um "Pacto Nacional de Educação", onde procurei sintetizar o que poderia ser um programa de governo a partir de necessidades mais imediatas do povo brasileiro:
Pagar condignamente a professores e especialistas (o Brasil dispõe de 1 milhão e 300 mil), fator essencial para se alcançar a qualidade de ensino preconizada pela Constituição.
Atribuir recursos generosos à Educação de Jovens e Adultos, a fim de erradicar o analfabetismo até em 2012.
Utilizar na educação, inclusive a distância, os modernos recursos da tecnologia, como rádio, televisão, computador e satélite (este custou 250 milhões de dólares ao povo brasileiro e não está sendo usado para educação, embora disponha de capacidade ociosa).
Dar prioridade à educação pré-escolar, com um amplo programa de assistência pedagógica e médico-odontológica. Nessa fase, a nutrição é fundamental para formar adequadamente o cérebro das nossas crianças.
Reduzir os índices de evasão e repetência no ensino fundamental, criando novos estímulos para a permanência das crianças nas escolas urbanas e rurais. E acabar com a praga do absenteísmo, que leva 4 milhões de crianças na faixa dos 7 aos 14 anos de idade e não frequentar escolas.
Aproximar o ensino médio do mundo do trabalho, abrindo chances de estágio nas empresas brasileiras, adotando-se o moderno conceito de politecnia.
Garantir o ensino gratuito a todos os estudantes que demonstrem falta ou insuficiência de recursos, inclusive distribuindo bolsas para estimular a sua formação.
Reformar profundamente o ensino superior, exigindo a qualidade reclamada pela sociedade brasileira.
Estimular os trabalhos de pesquisa na Universidade, dobrando o número dos nossos cientistas e assegurando desenvolvimento científico e tecnológico autônomo. Temos hoje somente 30 mil cientistas.
Fazer da educação uma prioridade efetiva na atribuição de recursos financeiros, indo além dos limites estabelecidos pela Constituição de 1988, como atestado de uma decisão política de apoio efetivo.
Reciclagem permanente dos professores em todos os níveis de ensino em didática e prática de ensino (a maioria dos professores não tem didática e não sabem o que é um planejamento educacional, curricular, ensino e não tem critério em suas aulas - o que é lamentável).
Já não era sem tempo. Depois de tantas promessas parece que chegou a vez de
modificar as condições de as condições de vida dos profissionais de educação, para que finalmente corrija o que talvez seja a maior deficiência na educação brasileira: a capacitação e o aperfeiçoamento do nosso professorado.
No Brasil, a canoa da educação parece furada, por falta de uma clara vontade política e por uma deficiente mentalidade que nela ainda não enxergou o futuro. Além das questões estruturais, existem problemas concretos, como a valorização do professor, que precisa ganhar mais e deve ser cobrado pelos resultados. É por isso que estamos longe de uma perspectiva favorável.
"Todos são brasileiros, todos deveriam ter direito à cidadania, mas enquanto uns têm o privilégio do ensino superior, outros de candidatam ao vestibular da marginalidade, com a pós-graduação no crime organizado".
Há muito defendo a idéia da criação, no Brasil, de uma Universidade do Trabalhador. Não é preciso que tenha uma estrutura pesada, como as demais universidades, pois ela poderia cumprir suas tarefas básicas de ensino, pesquisa e extensão com dispositivos extremamente simples e ágeis de administração, controle e avaliação. Num primeiro momento, pode-se ministrar treinamento em serviço, além de cursos de cultura geral e de especialização nas fábricas, indústrias e comércio, com o pleno emprego de metodologia da educação à distância, hoje consagrada no mundo inteiro. Na China, por exemplo, há 1 milhão e 500 mil trabalhadores frequentando tais cursos, com o uso do seu satélite doméstico de telecomunicações.
Democratização do ensino não é baixar o nível de ensino na escola (igualando a todos na ignorância), mas levar o bom ensino a todos, para que cada um chegue aonde quer e pode chegar.



(*) é professor universitário, jornalista e escritor.

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