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Pesquisadora critica ONGS; devem se re-politizar

Agência Notisa - 10 de dezembro de 2004 - 06:09

Segundo a antropóloga gaúcha, Daniela Knauth, ONGs desenvolvem trabalhos muito localizados e específicos e não atingem o cidadão comum. Problema estaria, principalmente no vínculo com o Estado e na não sustentabilidade das mesmas.


Após 1983, quando foram tomadas as primeiras ações de vigilância do HIV/Aids no Brasil, houve diminuição da mortalidade e aumento da sobrevida. Entretanto, foi somente a partir da segunda metade da década de 90 que o panorama da doença no Brasil sofreu realmente mudanças: se, por um lado, a epidemia passou a atingir mais os pobres, por outro, os anti-retrovirais foram largamente disponibilizados e a difusão de informações ajudou a desmistificar a doença. Entretanto, paralelamente, houve, segundo Daniela Riva Knauth, a despolitização do debate. “Não há vínculo com a idéia de vulnerabilidade social. As reivindicações de direitos são direcionadas às redes sociais de apoio e não às instituições responsáveis”, criticou a pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), durante o 14º Seminário do Programa Franco-Brasileiro de Aids, que está sendo realizado no Rio de Janeiro.



Na opinião da cientista, as ONGs vêm ganhando cada vez mais espaço no combate ao HIV/Aids, entretanto ainda é o Estado que tem maior penetração junto à população. “São os serviços públicos de saúde que têm maior participação no cotidiano das pessoas. A maior parte das ONGs desenvolve trabalhos ou muito específicos ou muito localizados, atingindo, assim, poucos cidadãos ‘comuns’”, afirmou Knauth, referindo-se à realidade do Rio Grande do Sul. Segundo ela, os principais problemas enfrentados pelas organizações não-governamentais são a despolitização — “em parte fruto de seu forte vínculo com o Estado”— e a concorrência por financiamento, em função de sua não sustentabilidade.



Daniela Knauth criticou, ainda, as atividades desenvolvidas pelas ONGs em geral, que se restringiriam “a atividades, basicamente, assistenciais”. A pesquisadora gaúcha citou como exemplo as oficinas de geração de renda, nas quais os portadores do HIV/Aids aprendem algum ofício, como artesanato em geral, os programas de combate à carência (falta de moradia, fome etc) e a pouca articulação entre os projetos desenvolvidos e os serviços de saúde. “Esses elementos revelam a pauperização da epidemia e reforçam a despolitização das ONGs”, afirmou.



A pesquisadora criticou também a pouca penetração nos contextos locais (periferia), desassistidos tanto pelo poder público quanto pela sociedade civil organizada. Knauth defendeu a promoção de políticas que fortaleçam as redes sociais de apoio, mas que, paralelamente, resgatem o aspecto político do combate ao HIV/Aids. “Devemos transformar as demandas e as situações de discriminação (do portador do HIV/Aids) em questões de Direitos Humanos”, defendeu.



Nota da redação: a Agência não ouviu representantes de ONGs presentes, o que deverá ser tentado amanhã, na continuação da cobertura do seminário.



Agência Notisa (jornalismo Científico - science Journalism)

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