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O resumo do depoimento de Roberto Jeferson na CPMI

Agência Câmara - 05 de agosto de 2005 - 07:40

Em depoimento de mais de 14 horas à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Compra de Votos, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) apontou nesta quinta-feira como "uma fraude" os empréstimos feitos pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para beneficiar o PT. Ele argumentou que, quando um banco não recebe o valor de um empréstimo, esse montante é lançado no balanço anual da instituição como perda financeira e deixa de ser pago no Imposto de Renda. A ausência desse procedimento, segundo Jefferson, mostra que os empréstimos foram feitos para "esquentar" dinheiro, já que a dívida bancária não seria paga.
Apesar de inocentar o presidente Lula de participação no esquema do "mensalão", Jefferson disse que o presidente pode ter sido induzido a erro pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. "O presidente Lula é meio parecido comigo: ele mata no peito os amigos, não os abandona no meio do caminho", afirmou, ao apontar no governo federal a origem da corrupção que se estende ao Congresso.

Planalto sabia
Questionado pelo deputado José Rocha (PFL-BA) sobre quem no Planalto sabia do esquema de "mensalão", Jefferson reafirmou que José Dirceu, a quem Lula teria delegado a chefia do governo para exercer a do Estado, era o comandante do esquema. Segundo ele, o então ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Luiz Gushiken também sabia do pagamento de mesada a parlamentares, assim como outros então ministros (alguns já deixaram os cargos) alertados por Jefferson: Walfrido dos Mares Guias (Turismo), Ciro Gomes (Integração Nacional), Antonio Palocci (Fazenda), Miro Teixeira (Comunicações) e Aldo Rebelo (Coordenação Política).
"Ao presidente Lula eu daria um cheque em branco, retribuindo a confiança que ele depositou em mim, mas não faria o mesmo com José Dirceu", disse Jefferson, ao elogiar o fato de que Lula não está poupando ninguém nem impedindo as investigações das comissões de inquérito.
Para o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), é difícil acreditar que o presidente Lula de nada sabia. "A quem serve comprar votos em favor de projetos de interesse de governo se não ao presidente da República?", questionou o parlamentar na reunião da CPMI.

Onde está o dinheiro
Em seu depoimento, Jefferson se contradisse sobre o destino dos R$ 4 milhões que teria recebido do PT para financiar a campanha municipal do PTB no ano passado. Primeiro, ele disse que distribuiu os recursos a candidatos cujos nomes não iria revelar, já que eles teriam recebido a verba pensando tratar-se de doação. Em outro momento, admitiu que não transferiu o dinheiro aos petebistas.
Questionado pelo relator da CPMI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), Jefferson contou que, quando percebeu que os recursos poderiam ser provenientes do caixa 2 do PT, pediu ao então tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, que guardasse o valor em um cofre e entregasse a chave a ele. Assim, ele assumiria o dinheiro como pessoa física "para não comprometer o partido".
Ao dizer que não distribuiu o dinheiro do PT aos candidatos do PTB, Jefferson favoreceu quatro deputados de seu partido que foram acusados pelo PL, em representações enviadas à Mesa da Câmara, de terem se beneficiado dos recursos irregulares: Sandro Matos (RJ), Neuton Lima (SP), Alex Canziani (PR) e Joaquim Francisco (PE).

Banco do Brasil
O ex-presidente do PTB afirmou ainda que, quando recebeu o dinheiro do PT, as notas estavam dispostas em duas malas, sendo que 40% delas vinham marcadas com etiquetas do Banco Rural e 60%, com fitas do Banco do Brasil (BB). Ele sugeriu que o Controle de Atividades Financeiras (Coaf) encaminhe à CPMI a documentação das contas do BB, pois acredita que o dinheiro não vem do fundo partidário do PT. "As CPIs têm de investigar detalhadamente os documentos, que contêm muitas informações duvidosas que precisam ser confirmadas".
Diante da declaração, a direção do Banco do Brasil enviou nota à CPMI, lida pelo vice-presidente Paulo Pimenta (PT-RS), esclarecendo que, como cabe ao BB abastecer toda a rede bancária, o fato de o dinheiro movimentado por outros bancos terem a fita com o carimbo do BB não significa que as notas saíram de contas daquela instituição.

Campanhas do PTB
Em resposta ao deputado Luiz Couto (PT-PB), Jefferson admitiu que recebeu dinheiro não-contabilizado para campanhas eleitorais durante todos os anos em que atua como deputado - ou seja, desde 1982. Mas alertou para o fato de que esse tipo de artifício é usado por todos os partidos, pois os empresários preferem fazer contribuições não registradas para evitar possíveis exposições na mídia. "Quando surge um escândalo, a primeira lista a surgir é a das empresas que contribuíram", afirmou o depoente, para quem o ex-líder do PT Paulo Rocha (PA) teria usado o mesmo recurso.
Jefferson disse ainda que, embora os partidos aceitem financiamento não-contabilizado para sobreviver politicamente, essa prática representa o afrouxamento moral da classe política.

Jefferson diz que denúncia do ‘mensalão’ irritou Dirceu

O deputado fluminense reafirmou que seu desentendimento com José Dirceu começou quando ele começou a falar dentro do governo sobre o esquema do "mensalão", do qual teria tomado conhecimento por meio do então tesoureiro do PT Delúbio Soares. Delúbio teria revelado a Jefferson que pagava a mesada aos deputados José Janene (PP-PR), Pedro Henry (PP-MT), Carlos Rodrigues (PL-RJ) e Valdemar Costa Neto (PL-SP) – o último renunciou ao mandato.
Foi naquele momento, segundo Jefferson, que o então ministro-chefe da Casa Civil teria mandado investigar irregularidades nos Correios atribuídas a pessoas indicadas pelo PTB. “Foi aí que o Zé Dirceu botou fogo na história do Marinho contra mim", disse, referindo-se à gravação que mostra o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios Maurício Marinho recebendo propina.
Jefferson disse que decidiu denunciar publicamente o "mensalão" quando percebeu que o seu partido seria acusado pelo governo de corrupção nos Correios, no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e na Eletronorte. Ele teria reagido telefonando para o então ministro José Dirceu (PT-SP) para que ele impedisse as denúncias. Diante da "falta de atitude" de Dirceu, resolveu revelar o esquema. "Ele estava no aeroporto, embarcando para a Espanha, quando eu disse: 'Quando você voltar, a notícia será outra'".

Jefferson explica porque não denunciou ‘mensalão’ antes

O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) disse, que não denunciou antes o chamado “mensalão” porque preferiu esgotar todas as possibilidades de negociação dentro do governo, ao alertar vários ministros para a existência do esquema. Ele disse que o papel de denunciante não lhe agrada. “Em CPIs anteriores, todos se lembram que eu sempre defendi os acusados”.
A declaração foi feita em resposta à deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), que chamou a atenção para os saques mensais atribuídos ao PTB na lista entregue à Polícia Federal pelo empresário Marcos Valério Fernandes, suposto operador do “mensalão”. Ela disse que, se o esquema de fato existe, o partido de Jefferson também está envolvido.
O depoente afirmou que só responde pelos saques realizados pelo PTB durante sua gestão na presidência do partido, e lembrou já ter confessado o recebimento de R$ 4 milhões do PT. Mais uma vez, Jefferson recusou-se a revelar o destino desses recursos, limitando-se a afirmar que não os repassou para outros deputados federais.


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