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O recado do Cheida: Muitas razões para amar

Luiz Eduardo Cheida - 22 de fevereiro de 2008 - 08:49


Você sabe que lixo deve ir para a lixeira. E todas as vezes que possível, deve ser separado, mandando-se o que é orgânico para uma composteira, e o que não é orgânico para reciclar.

Muitas vezes, porém, nas ruas de nossas cidades não se encontram lixeiras. Outras vezes, mesmo existindo, há quem as ignore, atirando o lixo fora delas.

Mas, em raras e compreensíveis ocasiões pode haver quem necessite jogar o lixo no chão. No chão? Sim, e por uma questão de sobrevivência. Da espécie. Digamos, um chamado da natureza, daqueles que é impensável resistir.

Foi o que aconteceu:

Tinha especial pendor por uma farda. Se o fardado, então, tivesse bigode, o coração de Celestina batia redobrado. Coturnos? Seu coração tamborilava, destravando a maçaneta da caixa do peito.

Encalhada nos jardins de suas passadas e repassadas primaveras, ultimamente não fazia mais questão de tantos adereços militares, naquela de melhor-seria-assim-mas-se-assado-fosse-também-estaria-bom.

Genarinho Benevides, no primeiro dia de ofício, mal chegado aos portões do familiar residencial Treme-Treme, foi logo arriado nos trajes de ascensorista. Moço forte e descasado, cabelos pretos e rosto pintado no azul da barba cerrada. De lambuja, ainda sobrava um bocão vermelho, tendo por chapéu do lábio de cima um vasto bigode.

Naquele entra e sobe, desce e sai sem fim, as horas não aborreceram sua autoridade no comando do elevador. Chegada a hora de almoço, bem depois da hora de almoço de todos, Genarinho escapuliu para o balcão da mercearia.

Celestina, à distância, com uma penca de bananas embrulhada em jornal, ajeitou os óculos. Mal acreditava no que acreditava ver: em sua direção, e a largos passos, aproximava-se um desenvolto jovem, fardado em azul, sapatos pretos e quepe marrom. Seu coração tamborilou.

Com a rapidez de um raio imaginou o ardil.

Descascou três das bananas e, enquanto o jovem aproximava-se, atirou as cascas próximo a uma lixeira que jazia na calçada. No chão. Fora do lixo. Um delito!

- Estou (agora ou nunca) em apuros, desejou.

Em duas passadas o jovem chegou e, em três, pulou por sobre as cascas de banana de Celestina, desviando-se delas com destreza.

De mãos nas cinturas, e olhos apertados sob as grossas lentes, ela gritou:

- Guarda, não vai me prender?

- Moça, eu sou ascensorista!

E ela, para não dar o braço a torcer para o destino:

- Serve.

E desviando-se das cascas de banana que a vida joga no caminho, os dois foram felizes para sempre.

Um forte abraço e até sexta que vem.

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Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.


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