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Neta e avó de 94 anos são cumplicidade comovente
Se a cumplicidade fosse "personificada" com certeza seria dividida em duas. Renata e Delmira. Neta e avó que protagonizam o sentimento quase que diariamente nas redes sociais. O amor da vida de uma é a outra, a ponto de elas tirarem uma foto peladas para mostrar como o tempo faz história ou combinarem que ao invés da "morte", quando chegar a hora, dona Delmira fará uma viagem, de avião, para o Rio de Janeiro.
Renata tem 25 anos. Delmira, 94. As duas sempre foram próximas, mas passaram a dividir o mesmo teto há 16 anos, depois que a transferência do genro saiu, dona Delmira seguiu de Bela Vista para Ponta Porã com a filha, genro e a neta.
São 11 netos, nove bisnetos. Renata é a terceira das meninas, mas a mais próxima, tanto fisicamente, quanto de alma. "A minha mãe ficou na casa da vó quando engravidou, porque era de risco e a vó ajudou, não sei se isso justifica, porque desde sempre tem uma coisa que eu não sei explicar. A vó sempre foi meu amor e eu o dela. Parece que sinto isso de forma concreta até", explica a neta, a jornalista Renata Boeira.
Dona Delmira guarda segredo como ninguém. E se a neta pede algo que exija responsabilidade, ela desenvolve incrivelmente. "Ela é impecável com acordos, nunca me deixou na mão. No tratamento que faço para depressão, já perdi as contas de quantas vezes ela foi meu norte", diz a neta.
Um dos acordos selados entre as duas é quanto à partida. Sem data para chegar, neta e avó sabem que não falta muito. "A parte ruim é que a vida toda tive medo dela ir 'viajar', como a gente combinou de chamar a hora que ela ir embora", descreve Renata. A avó brinca que quando isso acontecer é para dizer que ela viajou, de avião, para o Rio de Janeiro. "Ela só conhece São Paulo, o Rio é como um desejo mesmo. Acho que ela tem vontade porque sempre vê na TV. Tem aquela ideia romântica", imagina a neta.
É por telefone, no viva-voz, que a gente conversa com a dona Delmira. Eu pergunto daqui, a neta repete de lá. A lucidez é perfeita, mas a audição já ficou alguns anos para trás. Na primeira resposta, a avó já solta uma risada e todo bom humor.
"Eu amo a minha neta. No que a gente mais se parece? Ela é muito bonita, não é parecida comigo agora, porque eu já estou velha e ela está nova".
No dia a dia, a senhorinha diz que o mais ama na neta são as conversas e o fato de que Renata explica tudinho para ela. "As coisas que antigamente não tinha, a internet, eu fico admirada com o computador. É tanta coisa diferente que eu não sei e ela me explica", ri.
A gente não vê a feição, mas entende a alegria pelo tom de voz. Dona Delmira estava toda contente não pela entrevista em si, mas pelo orgulho de falar da neta. "A gente toma chimarrão todo dia. De manhã e à noite, mesmo no calor. Se eu não tomo, me dá dor de cabeça", relata.
O que ela mais gosta de fazer é jogar baralho. Escopa de 15. A 'velhinha' dá um banho em todo mundo e é difícil ganhar dela na mesa. "É difícil mesmo, mas olha é tudo brincadeira, não é dinheiro não", frisa. Se fosse, dona Delmira já tinha era deixado a família toda pobre.
"Eu chamo ela de Renatinha porque ela é a minha netinha. Ela dorme comigo, sai para passear comigo, eu sou muito apegada à ela", explica.
Benzedeira oficial da família, Delmira tem para si que "a fé faz muita coisa" e que guardar segredo, também. "Eu guardo e muito. Palavra por palavra, a gente guardando, passa melhor minha filha. Renata me conta o segredo dela e eu guardo no meu coração. Custa sair da minha boca, eu não conto", reforça.
Quando "aperta" o coração, é para a neta que ela recorre e vice-e-versa. "A gente sempre foi amiga. Ela é minha neta e minha amiga do coração".