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Geral

Manoel Afonso homenageia Josafá Dantas

Manoel Afonso - 21 de julho de 2006 - 15:40

JOSAPHAT DANTAS: UM SÍMBOLO DE GARRA


“Noite de gala na tradicional Exposição de Animais de Paranaiba , e a programação artística culminando com a apresentação do sanfoneiro Mário Zan, o xodó da época. A diretoria escalou um porteiro falante e firme, determinando: ingresso - só pagando. O porteiro cumpriu à risca a ordem e horas depois, um cidadão insistia em entrar, sem pagar, para finalmente revelar sua identidade: era o próprio Mário Zan. Mas o porteiro não recuou em seu propósito e disparou: “Leis é leis”! Essa frase ficou famosa na região. O porteiro era o Josaphat Dantas, que na época já era chamado de Józa.
Era o irreverente dr. Adaias, quem gostava de contar esse episódio, fazendo questão de reperguntar os detalhes ao próprio Josaphat, que confirmava e enriquecia o relato de seu médico e amigo, ao meio de boas gargalhadas. O fato mostra exatamente o lado da fidelidade do “Józa”, como cumpridor zeloso dos seus deveres e encargos em qualquer circunstancia.
A biografia de nosso homenageado confunde-se na verdade, com o perfil de todo aquele bom nordestino, que em busca de vida melhor, acabou deixando sua terra natal, Jardim do Seridó (RN.) e por volta de 1946, com 23 anos de idade, com pouco estudo e sem dinheiro, veio tentar a sorte em Uberaba, onde aclimatou-se para chegar em Sant’ana de Paranaiba em 1.949. Ali foi o pioneiro na cultura de legumes e hortaliças com fins exclusivos de comércio, e logo montou um açougue . Com o passar dos anos conseguiu amealhar bom patrimônio. Falante, trabalhador e popular. Isso valeu-lhe o convite de leiloeiro oficial das quermesses, onde ele desenvolvia com sucesso seus dons de relações públicas nato. Em 10 de maio de 1952 casou-se com dona Eva, sendo pai de 7 filhos, 10 netos e 1 bisneto. Granjeou um seleto grupo de grandes amigos e compadres, entre eles: ex-prefeito Osíres, dr.Leolino, dra. Lígia, Toga, Díndico, Ismar Brandão, Azarias, Daniel Português e Frei Pedro. Com o último engajou-se na luta pela construção do Patronato São José, da Igreja da Matriz e do Colégio Sta. Clara.
Infelizmente Józa foi mais uma das vítimas daquela crise brava ocorrida em 1967, quando perdeu praticamente todo seu patrimônio financeiro. Em situação difícil, aos 45 anos, com a família e coragem, mudou-se para sua fazendinha perto do Chapéu Azul, onde dedicou-se ao plantio de banana e arroz. Ao meio das dificuldades da época, acabou por mudar-se para nossa cidade em 1971, onde voltou ao comércio, ali num prédio do Zé Adão e transferindo-se depois para a rua Sebastião Leal. Com os anos de lutas, veio a mercearia e finalmente o supermercado. Católico fervoroso, sempre homenageou seus santos, dos quais é devoto, batizando com seus nomes os estabelecimentos comerciais. Foi assim com Nossa Senhora Aparecida, São Judas Tadeu e São José.
Józa não nega sua gratidão a algumas pessoas que sempre o ajudaram no difícil período de recomeço em Cassilandia, cidade aliás, que em reconhecimento ao seu trabalho, acabou por adotá-lo como filho honorário, com o Legislativo outorgando-lhe esse título de cidadania. O ex-prefeito Pernambuco, o Salim Padeiro, o Ataidinho, o Venancio da Serraria, o Afonsinho Pereira e o Eliseu Mecânico também estão nesta lista. Tudo que ele conquistou em Cassilandia, ao longo destes 35 anos, foi com suor de seu trabalho e da dileta companheira Eva, quase que silenciosa, tal como uma formiga útil, sempre previdente com o incerto amanha e que merece compartilhar dessa nossa homenagem, também pela admiração e conceito que desfruta na comunidade. Grande mulher, essa guerreira, “dona Eva”, que nos piores momentos, sempre esteve ali firme ao lado do Józa.
Quem conhece o Józa, sabe que ele, pela sua formação, pelas suas origens, é um bom homem, de coração aberto, que compartilha o pão com seus seus companheiros de jornada. Sei por exemplo, de sua ajuda expontânea para vários e vários ex-funcionários, que enxergam nele um segundo pai. O nosso homenageado, é do tempo da lei do fio do bigode, e até de certa forma ingênua, acredita nesta mesma postura por parte de terceiros. Aos 83 anos de idade, ele parece não se vergar ao tempo, e não abre mão de sua rotina; levanta de madrugada e só dorme quando cumpriu todos seus compromissos, faça chuva, faça sol. Nem mesmo uma paralisia facial conseguiu abatê-lo. É um homem de luta, com ligações profundas com o meio rural, amante apaixonado pela natureza. Sua chácara, onde por muito tempo funcionou o matadouro, é uma de suas paixões. Ver o gadinho no pasto, as galinhas no terreiro e os porcos no chiqueiro, provocam brilho incomparável aos seus olhos, pois ali é o seu reino encantado, onde passa boas horas, feliz da vida. Figura simpática, Józa gosta de conversar, de jogar conversa fora e passar um pouco de sua valiosa experiência de vida ou de suas observações, guardadas cuidadosamente no livro de sua memória.
Nossa homenageado, filho de Luiz de França Dantas e Inêz Julieta Dantas, nascido em 2 de março de 1923, , é verdadeiramente um símbolo à perseverança, ao recomeço, ao destemor, a fibra, raça, coragem acima de tudo, e fé num futuro melhor para seus filhos, todos encaminhados para a vida, devidamente preparados .em sólidos princípios. Por tudo isso, por esse gigantismo de propósito, de sacudir a poeira e começar quantas vezes fossem necessárias, é que incluímos o Josaphat Dantas, merecidamente nesta galeria, para servir de exemplo, de guia e farol para essa nova geração, que muito reclama e nem sempre faz.
Para melhor traduzir, a admiração de todos nós, arrematamos com o pensamento da lavra do alemão Goethe, e que encaixa como uma luva na caminhada do homenageado: “Cada qual é o melhor auxiliar de si mesmo. É preciso mudar de vida, para tentar a sorte; é preciso meter mãos à obra, sacudir o corpo para agarrá-la. Divindades propícias podem intervir para guiar e abençoar. Baldadamente o preguiçoso desejará ser feliz, e , se isso lhe for concedido, é em sua pura perda.”
Grande “Józa”: um abraço!

Manoel Afonso.





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