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Geral

Manoel Afonso diz que o aval é o terror dos candidatos

Manoel Afonso - 11 de fevereiro de 2008 - 07:00

É só conversar com quem já militou ou milita na política para concluir que a vida de candidato não é fácil. Ele é obrigado a enfrentar um mar de incertezas e dificuldades sempre com bom humor para gerar expectativa positiva a quem o procura.
Quando alguém manifesta a intenção de concorrer a qualquer cargo eletivo, abre-se a porta da esperança para muita gente; não só aos oportunistas de plantão como também para os reais necessitados. E aí agüenta: pedido de fiança, serviço funerário, remédio, óculos, despesa hospitalar, cadeira de roda, dentadura, emprego, material de construção, certidão cartorial, conta de água e luz, taxa de condomínio, IPTU, IPVA, mensalidade escolar e de plano de saúde integram essa longa lista de “mordidas”. No fundo, o eleitor entende que essa é a sua chance de levar algum tipo de vantagem com as eleições, pois acredita que os políticos são todos iguais: só querem seu voto e ponto final.
Os políticos mais experientes aconselham: o melhor é tentar empurrar com a barriga, procrastinar enquanto for possível, pois o eleitor não guarda segredo e logo a tal generosidade eventual do candidato fica pública. Aí a fila de pedidos ficará ainda mais extensa. Claro que alguns atendimentos devem ser imediatos, pois dependem menos de dinheiro e mais da interferência prestigiosa do candidato. Um telefonema por exemplo, pode agilizar o parecer num processo administrativo de interesse do eleitor.
Mas existem casos fatais que funcionam como faca na garganta do candidato. O mais antigo deles, e de efeito devastador é o aval. O candidato precisa ser articulado para se livrar da coação do eleitor esperto, que traz em mãos, na maioria das vezes, a nota promissora preenchida inclusive. Já presenciei essa cena constrangedora e delicada. Não tem escapatória. É sim ou não! O eleitor não aceita o papo “fica pra depois”. O candidato tem que fazer a contabilidade das perdas e dos ganhos. Aliás, conheço inúmeros ex-candidatos que simplesmente perderam todo o patrimônio, adquirido com suor ao longo da vida, graças aos avais eleitoreiros.
No livro sobre a vida do saudoso Ramez, há o relato sobre um episódio interessante e que mostra bem a realidade pré-eleitoral no Brasil. Ramez tinha dúvida sobre a viabilidade de sua candidatura e certo dia passou a receber correligionários para sentir o clima e avaliar suas possibilidades de vitoria. Ao final chamou o assessor Castilho Coaraci e desabafou: “Não sou mais candidato. Somei os valores dos pedidos destes eleitores e o total é muito acima do meu patrimônio pessoal.”
Infelizmente nem todos tem o juízo, o equilíbrio e o bom senso de Ramez e aí as bobagens acontecem. Aos pretendentes, ingênuos ou não, fica o alerta.

Manoel Afonso


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