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Leia - Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 03 de maio de 2007 - 11:23

Língua portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva
Publisher ou Editor
Como fenômeno social, a língua, que é dinâmica, está sempre em contato com outros idiomas e desse intercâmbio absorve palavras e modos fraseológicos. O português que se fala diariamente, anda agora mesclado de termos ingleses, em virtude da informática, da tecnologia, dos esportes, da economia, da vida moderna e até da macaquice. Há cem anos, eram as palavras francesas que imperavam.
Faleceu domingo passado, 29 de abril, aos 94 anos, o jornalista Octavio Frias de Oliveira, dono do “Grupo Folha”, talvez o maior empreendimento jornalístico do Brasil. Homem síntese de liderança, capacidade, trabalho e dinamismo. Homem de seu tempo.
A notícia correu mundo: “Faleceu Octávio Frias, o publisher da “Folha”. “Publisher” na linguagem auriverde é “editor”, o chefe de uma determinada publicação. Ora, se temos no português castiço um vocábulo que todos entendem, que exprime uma determinada noção com absoluta nitidez, porque substituí-lo por uma palavra forasteira?
Se o emprego regular de termos estrangeiros pode aparentar cultura, o excesso ou o desnecessário estrangeirismo, porém, estraga o texto, tornando-o pedante e de leitura cansativa. A anglofilia abusiva é tão condenável quanto qualquer solecismo. Virtus est in médio – “a virtude é ficar no meio termo”, diziam os latinos.
Deixemos, enquanto há tempo, o publisher para os anglófilos e ianquistas e cultivemos um pouco mais o nosso maltratado português. A língua é a derradeira fortaleza de uma nação.
Se, contudo, tivermos de utilizar palavras peregrinas, duas observações são necessárias: 1º - nunca se deve escrever como se no idioma original palavras já aportuguesadas, como uísque, boate, abajur, conhaque, caratê, muçarela, motobói, turnê, picape, estresse, clipe etc.; 2º - sempre que houver equivalente em português, prefira-o: camisola (e não baby-doll), botão ou broche (e não button), campismo (camping), defensa (guard rail), conjunto (kit), fretado (charter), retorno (feed back), superdose (overdose), painel (outdoor), passatempo (hobby), patinete (skate), lema (slogan), e outros mais.
Todavia, há palavras que, embora tenham correspondente no vernáculo, permanecem vivas. No “Fora, Collor”, o termo impedimento parecia muito pouco, não era o que o povo queria. A palavra com mais conotação emocional e maior vibração cívica era a inglesa impeachment e foi a que pegou. E isso acontece também com know-how (tecnologia, conhecimento), show (espetáculo), short (bermuda), leasing (arrecadamento mercantil), pizza (píteça), flash (clarão) e muitas outras, cujas traduções não possuem a mesma “força de expressão”, ou a igual carga referencial da palavra estrangeira. “Espetáculo” pode ser uma extraordinária apresentação de danças, de peça teatral, de uma ópera, de música sinfônica, erudita, mas jamais de música popular ao vivo (por pior que seja) que, queiram ou não os puristas da língua, continuará sendo show.
No computador existe a tecla de apagar, de cancelar: é a do delete. Essa palavra imediatamente ingressou no vocabulário normal e hoje se constitui num verbo regular da primeira conjugação: deletar. Já está dicionarizada. Embora seja uma palavra de origem inglesa, tem raiz latina, que é a mesma de indelével (= aquilo que não se apaga). Todavia, esse verbo deletar nem sempre pode ser sinônimo de apagar, afastar ou cancelar. Não posso deletar uma luz ou uma paixão, nem um perigo ou um compromisso. Isso, porém, não é uma regra: é uma questão de opinião, vez que as palavras semanticamente têm vida e, como tal, podem mudar de significado com o passar do tempo: “Secretária” já significou “móvel onde as coisas secretas ou pessoais eram guardadas” e hoje é a moça que nos auxilia e organiza nossa vida profissional.
No aportuguesamento de termos estrangeiros há umas práticas comuns: o sh geralmente se torna x (shampoo = xampu – gueisha = gueixa), os dois ss transformam-se em ç (como em açougue, do árabe assolt) ou c, se antes de e ou i (acitara=assitara * véu para cobrir as coisas da igreja, tapete), o n das terminações tornam-se m ou ao (gin=gim – coupon = cupão ou cupom – moleton = moletom) e as consoantes recebem um e ou ue (clip= clipe – club=clube – lord=lorde – gang=gangue – chic= chique – grog=grogue – ring=ringue).

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