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Incra colocou indígenas em um ''brejo'' diz líder Kaiowa

Alessandra Bastos e Cecília Jorge/ABr - 16 de dezembro de 2005 - 17:31

Os 26 hectares destinados pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) a 580 índios Guarani-Kaiowá são um brejo, um "império de sapos", diz o líder indígena Isaías Sanches Martins. "Não existem condições para manter um ser vivo lá dentro. Nós índios saímos de lá porque não agüentávamos mais aquela situação", desabafa. Ontem, eles foram obrigados a sair da área onde estavam e ocupar esses 26 hectares, mas estão na beira da estrada que liga a cidade de Antonio João a Bela Vista, no Mato Grosso do Sul, por recusarem-se a ficar no local.

Além de não oferecer condições de moradia, Martins afirma que o solo também é impróprio para o cultivo. Os Guarani-Kaiowá, que tradicionalmente vivem da agricultura de subsistência, hoje sobrevivem com cestas básicas doadas pelo programa Bolsa Família. "Pelo número que a gente conta pela escola, estimamos (que temos) 360 crianças de zero a oito anos", afirma Isaias.

Em entrevista à Agência Brasil, os índios Guarani-Kaiowa pedem socorro. O líder indígena Isaías conta como está a situação dos Kaiowá, que ontem foram despejados, por decisão da justiça, da terra já homologada. Boa parte das casas, roupas, comida e vestuário foram queimadas pelos fazendeiros enquanto os Guarani-Kaiowá carregavam o que tinham para fora da área onde estavam. Os policiais não impediram o início da ação dos fazendeiros, que queimaram boa parte das casas indígenas

Ontem, o despejo
"Não adianta a gente estar ali, a terra homologada dentro da lei e, de uma hora para outra, eles chegam nos despejando. Sabemos muito bem que a terra já era nossa. Ali não entramos em conflito com ninguém, a gente está no nosso direito. Saímos de uma forma pacífica e evitamos a violência. Está chegando o fim do ano e não queremos ver ninguém morto, criança sem pai ou sem mãe. Por isso nós saímos assim, entramos com a nossa vontade e saímos com a própria vontade. Os policiais não fizeram ação nenhuma".

Hoje
"A gente espera que o poder público e organizações não-governamentais que estão defendendo as causas indígenas e a imprensa divulguem (a situação). A gente espera que os poderes que estão acima, comandado o Brasil, não se oponham. A gente pede socorro à sociedade brasileira, ao cidadão comum que esteja nos dando apoio. Porque a Justiça em que a gente tanto confiava deu uma solução dessa."

O futuro
"Temos crianças e a gente vai ficar esperando eternamente ali. A gente sabe muito bem que o processo pode demorar séculos e a educação, a saúde, a sustentação de uma agricultura familiar de um povo não pode esperar esse processo todo. A boca e a barriga não esperam. Quando a gente tem fome a gente tem que batalhar. Então vamos esperar um pouco, estamos cumprindo apenas um acordo entre os fazendeiros e o representante da Funai, de esperar o julgamento até o dia 7 ou 13 janeiro. Nem nós vamos, nem os fazendeiros vão entrar nessas terras. A gente tem umas lavourinhas ali, a gente não vai deixar eles entrarem".

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