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Há 31 anos morria Pixinguinha

Gilberto Evangelista/ABr - 28 de fevereiro de 2004 - 09:12

Pizundim é uma expressão carinhosa de um dialeto africano, que significa menino bom. Coisas de uma avó coruja. Bexiguinha é uma brincadeira de crianças para caçoar um colega que contraiu varíola. Misturando as duas palavras, temos Pixinguinha, o apelido que acompanhou por toda a vida aquele que foi tido como o maior flautista brasileiro de todos os tempos: Alfredo da Rocha Viana Júnior. Há 31 anos, no dia 17 de fevereiro de 1973, morria o grande mestre.

Compositor, maestro, arranjador e intérprete. Pixinguinha foi um negro alto, de mãos enormes, rosto marcado pela varíola e olhos amendoados, que mudou a forma sem graça de se fazer samba no Brasil. Ary Barroso foi um dos primeiros nomes de peso a criticar o formato dos sambas brasileiros em plena expansão do mercado fonográfico no país. Os arranjos que tinham um quê de estrangeirismo eram tocados como nos tempos dos maxixes. Depois do aparecimento do grande flautista, as orquestras ganharam ritmo, graça e alegria.

Ainda criança, Pixinguinha teve que participar de um rodízio para poder estudar. Seus pais tiveram dezessete filhos e só podiam colocar na escola três a cada vez. Conforme os filhos iam crescendo e atingiam idade suficiente para trabalhar, ajudavam em casa pagando os próprios estudos. Quando chegou a sua vez, Alfredo Júnior foi estudar no colégio mantido pelo Mosteiro São Bento. Tempos depois, Heitor Villa-Lobos, Noel Rosa, Lamartine Babo, entre outros, passaram pelas salas da mesma escola.

Pixinguinha não chegava a ser um estudante com ótimo desempenho, mas satisfazia aos pais e à avó, que era uma legítima africana. O menino bom acompanhava o pai, que também era músico, em bailes e festas. Aos doze anos, já tocava cavaquinho e flauta de forma excepcional. Nessa época compôs seu primeiro choro, Lata de Leite. Era uma homenagem aos amigos traquinas, que costumavam roubar leite nas casas da vizinhança.

Quando completou dezessete anos, compôs duas de suas mais famosas músicas: Rosa e Sofres Porque Queres. Em 1922, um fato transformou a maneira de se relacionar com a arte musical. Pixinguinha e seu grupo Os 8 Batutas foram excursionar pela Europa. O grande mestre se encantou com a música daquele continente e com o jazz, que era moda em Paris.

O presidente do Clube de Choro de Brasília, Reco do Bandolim, acredita que a música popular é um verdadeiro tesouro e Pixinguinha um grande presente para os ouvidos dos brasileiros. “Pixinguinha deu forma à música brasileira. O genial mestre é o melhor perfil da alma nacional. Ele nos colocou de frente com a nossa essência”, ressalta.

Cheguei, Ingênuo, Lamentos, Carinhoso e Um a Zero são composições que eternizaram a obra de Pixinguinha. Da música carnavalesca às canções românticas, tudo passou por seus virtuosos improvisos e orquestrações. Alfredo da Rocha Viana Júnior foi o primeiro maestro-arranjador contratado por uma gravadora no Brasil, a Odeon. Isso, em uma época em que a maioria dos músicos brasileiros era de amadores.

A influência da obra de “Bexiguinha” é tão grande que o dia do seu nascimento, 23 de abril, é o Dia Nacional do Choro. Depois de quase 104 anos do nascimento do virtuoso músico e maestro, seu legado influencia e inspira músicos de todas as partes do mundo. O compositor da famosa Carinhoso foi aplaudido diversas vezes por gente de peso, como Ruy Barbosa, Ernesto Nazareth e Louis Armstrong.

Pixinguinha morreu vítima de um enfarte, na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema (RJ). Na ocasião, ele iria batizar o filho de um grande amigo. Relatos posteriores afirmam que quando ele fechou os olhos, começou a chover do lado de fora da igreja. Segundo o maestro Villa-Lobos, “O Bom Menino” era um verdadeiro músico na amplitude do termo.

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