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Fapesp apoia estudo sobre medicamento que pode tratar esquistossomose

Governo SP - 20 de agosto de 2019 - 14:00

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, apoia uma pesquisa de cientistas da Universidade Guarulhos que investiga o anti-inflamatório ácido mefenâmico. O medicamento é amplamente usado no combate a cólicas menstruais e mostrou eficácia no tratamento da esquistossomose.

Em experimentos na instituição de ensino, o fármaco reduziu em mais de 80% a carga parasitária em camundongos infectados com o verme Schistosoma mansoni. O índice ultrapassa o chamado padrão-ouro estipulado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para novos medicamentos.

Os resultados da pesquisa, publicada na revista “EbioMedicine”, do grupo Lancet, sugerem que o ácido mefenâmico pode ser mais eficiente do que o único medicamento existente para a doença, o praziquantel.

No entanto, para que o anti-inflamatório seja receitado contra a esquistossomose, será necessária a realização de testes em humanos com a verminose. Vale destacar que a descoberta ocorreu a partir de um estudo de reposicionamento de fármacos conduzido no Núcleo de Pesquisa em Doenças Negligenciadas da Universidade Guarulhos.

Metodologia

Foram analisados 73 anti-inflamatórios não esteroidais comercializados no Brasil e em outros países. De todos os medicamentos testados, cinco apresentaram eficiência no tratamento da infecção, sendo os resultados do ácido mefenâmico os mais promissores.

“Os testes in vitro demonstraram que a substância afetou a motilidade e a viabilidade do parasita e também induziu um grande dano tegumentar, na superfície. Ainda não se sabe exatamente o mecanismo de ação do ácido mefenâmico nesse tipo de infecção, mas isso não é o mais importante agora, pois os fármacos usados para tratamento das verminoses também não possuem mecanismos elucidados”, explica Josué de Moraes, professor da Universidade Guarulhos e autor do artigo.

“Por isso, estudos de reposicionamento de fármaco são tão importantes para doenças negligenciadas, como a esquistossomose”, completa o docente. Dados da OMS indicam que esquistossomose atinge mais de 240 milhões de pessoas em todo o mundo e há 40 anos um único fármaco tem sido usado no tratamento da doença.

“Além de o praziquantel não atuar em vermes jovens, ele apresenta limitações em relação à eficácia. Após tanto tempo sem nenhum tratamento alternativo e sendo o medicamento receitado tanto para humanos como para uso veterinário, é esperado que o parasita tenha adquirido resistência à droga”, salienta o professor.

Eficácia

O ácido mefenâmico se mostrou mais eficiente em comparação ao praziquantel por agir também na fase larval do platelminto. Atualmente, segundo o docente, é preciso esperar que os vermes jovens no paciente se tornem adultos para que o fármaco tenha efeito. Isso significa que, se o tratamento não for repetido, o ciclo de vida do parasita não é interrompido e o indivíduo continua com a doença.

Pessoas infectadas, em um contexto de saneamento inadequado ou inexistente, tendem a contribuir para a disseminação dos vermes no ambiente e, consequentemente, expõem a população ao risco de infecção. “É claro que o ideal seria um saneamento adequado, mas o ácido mefenâmico se mostra importante nesse aspecto da prevenção também”, diz Josué de Moraes.

Tratamento

O professor ressalta que estudos de reposicionamento de fármacos têm se tornado mais comuns, sobretudo para as chamadas doenças negligenciadas, aquelas que, embora afetem parcela significativa da população, carecem de estudos, vacinas e tratamentos mais avançados.

Esse é o caso da esquistossomose, cuja transmissão está ligada a locais sem saneamento básico adequado e pelo contato de água com caramujos infectados pelos vermes. Uma vez infectado, o Schistosoma se aloja nas veias do mesentério e no fígado do paciente. A doença, ainda sem vacina, é assintomática nas primeiras duas semanas, mas pode evoluir e causar problemas crônicos de saúde e morte.

“A descoberta e o desenvolvimento de um novo fármaco custam em média US$ 1,5 bilhão, dinheiro que não existe para doenças negligenciadas. Não há interesse comercial. Por isso, estamos buscando ação contra o parasita em drogas já existentes e comercializadas”, afirma o docente.

“Isso possibilita cortar uma série de etapas, uma vez que não é preciso fazer testes clínicos sobre toxicidade, interação medicamentosa e outros. Ainda é preciso fazer testes em humanos, mas não todos. O processo todo fica muito mais barato”, acrescenta Josué de Moraes.

Diuréticos

O grupo do Núcleo de Pesquisa de Doenças Negligenciadas da Universidade Guarulhos também analisou o efeito de 13 diuréticos, amplamente comercializados, no verme Schistosoma. Os resultados foram publicados na revista “Antimicrobial Agents and Chemoterapy”, da American Society of Microbiology.

Entre os diuréticos, a espironolactona, indicada no tratamento da hipertensão, foi a única que nos testes in vitro teve ação contra o parasita. “No entanto, na comparação entre os dois estudos, o ácido mefenâmico continua sendo o mais eficiente”, finaliza Josué de Moraes.

O artigo Phenotypic screening of nonsteroidal anti-inflammatory drugs identified mefenamic acid as a drug for the treatment of schistosomiasis, de Eloi M. Lago, Marcos P. Silva, Talita G. Queiroz, Susana F. Mazloum, Vinícius C. Rodrigues, Paulo U. Carnaúba, Pedro L. Pinto, Jefferson A. Rocha, Leonardo L.G. Ferreira, Adriano D. Andricopulo, Josué de Moraes, pode ser lido pela internet.

Os interessados podem conferir o artigo In Vitro and In Vivo Studies of Spironolactone as an Antischistosomal Drug Capable of Clinical Repurposing, de Rafael A. Guerra, Marcos P. Silva, Tais C. Silva, Maria C. Salvadori, Fernanda S. Teixeira, Rosimeire N. de Oliveira, Jefferson A. Rocha, Pedro L. S. Pinto, Josué de Moraes, também pela internet.

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