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Escolas de samba do Rio de Janeiro usam a criatividade
Brasília - Com a finalização dos protótipos das fantasias, em setembro, a escola de samba carioca Viradouro iniciou então a cotação de preços dos adereços e materiais. Já faltavam produtos na praça e os importados estavam mais caros do que o normal. Com o agravamento da crise econômica mundial, a situação piorou em dezembro, segundo o carnavalesco da Viradouro, Milton Cunha, que teve muita dificuldade de encontrar produtos a preço accessível, como isopor e plumas.
Alguns importadores não compraram com força total então faltou estoque. O produto que me trouxe mais dor de cabeça, neste ano, foi o isopor. Por ser um derivado de petróleo aumentou muito o preço. Tive de substituir muitas esculturas por espuma, diz ele.
O alto preço das plumas e dos galões, produtos em sua maioria importados, foram as maiores queixas dos carnavalescos, que disseram ser itens de difícil substituição. O jeito foi buscar o que havia de similar no mercado nacional. Eu trabalhava com as plumas choronas que passou a custar R$ 300 o quilo e tive então que substituir pela pluma palito, bem mais barata.
A Império Serrano, escola do bairro de Madureira, não chegou a sentir tanto os efeitos da crise, pois como explicou o diretor da escola, Waltinho Honorato, a maioria dos materiais já haviam sido comprados com certa antecedência. Já havia indícios da crise, mas não havia chegado ao mercado no início de setembro quando compramos a maior parte dos materiais.
Segundo, Waltinho, cerca de 40% dos produtos utilizados na confecção do carnaval carioca são importados, como tecidos de brilho e plumas. Ele explicou que 90% do material utilizado nas alegorias e fantasias são novos, pois a escola acabou de sair do Grupo de Acesso e não quis arriscar perder o luxo e o glamour na avenida. Ainda assim, materiais alternativos como as garrafas pet foram usados como enfeites em carros alegóricos.
As garrafas pet também são itens presentes há alguns anos na Mangueira, segundo o carnavalesco Roberto Szaniecki, que vem utilizando materiais recicláveis com cada vez mais freqüência. Também usamos chapas de alumínio. Tem muita coisa legal que está funcionando muito bem e é quase a metade do preço. O Polietileno em folha, por exemplo não é comum no carnaval, mas estou usando por ser muito prático na forração de carros alegóricos, além de ser mais barato que a madeira. Outra estratégia do carnavalesco da Mangueira é buscar materiais que já tenham alguma textura que possibilite eliminar etapas, como forração e pintura.
Mesmo com os improvisos de última hora e substituições de emergência, os carnavalescos não acreditam que a crise possa prejudicar a beleza do carnaval, mas sim incentivar a criatividade. Se a crise se agravar, disse Waltinho, os carnavalescos vão arranjar alternativas, buscar com produtos nacionais e recicláveis, afirmou.
Segundo ele, esta não é a primeira nem será a última crise pela qual passam as escolas de samba. Na década de 80, houve uma forte crise e as escolas sentiram e se readequaram ao momento. Acredito que o carnaval sempre acha uma saída para se reinventar e para não perder o glamour.
Milton, da Viradouro, vai mais além: Acho que a crise pode incentivar a Viradouro a ter mais garra, a cantar com mais felicidade. Dá para driblar a crise, mas não a alegria que deve sempre ser em dobro no carnaval.