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Crônica do Corino - O Psicólogo’ de Jacobina II

Corino Rodrigues Alvarenga - 16 de setembro de 2006 - 07:22

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Era a tarde do domingo dia 14 de outubro de 1990. José Antônio, o nosso herói Sena, entra no estádio da Fonte Nova, em Salvador, para cobrir o jogão pela semifinal do Campeonato Brasileiro, envolvendo as equipes de Bahia e Corinthians. Dias antes, o Corinthians havia vencido o Bahia, no estádio do Pacaembu, em São Paulo, por 2 a 1, e precisava de pelo menos um empate para ir à final do Brasileirão.
E Sena estava lá, com sua filmadora, desempenhado a sua missão de cinegrafista da suposta TVS Canal Independente. A Fonte Nova estava superlotada com cerca de 80 fanáticos torcedores. A grande maioria era de tricolores da Bahia de Todos os Santos.
Sena enfrentou um probleminha logo na entrada do estádio: foi barrado na portaria por um forte segurança, porque apresentou como credencial de repórter uma carteira velha de um extinto jornal jacobinense. O jornal já não existia mais. E a carteira só existia para Sena. Mas, afinal de contas, era melhor do que nada.
Como está sempre bem acompanhado por respeitados jornalistas e radialistas, os seguranças da portaria foram convencidos a deixar o nosso herói entrar para desempenhar sua função de bem-informar, com seus registros de cinegrafista e de repórter, os fatos que são de interesse do grande público.
Já dentro do gramado, o barbeiro Sena, ali na função de cinegrafista, provocou a ira do árbitro da partida, uma vez que permaneceu no campo para uma demorada entrevista com o bandeirinha, atrasando o início da partida. O jogo que esperasse, ora, ora! A informação, para o cinegrafista Sena, está sempre em primeiro lugar. Furo de reportagem, então, nem se fala.
Naquela época não havia o monopólio da Globo nas transmissão esportivas e duas emissoras transmitiam o clássico para todo o País. Luciano do Valle, narrador da Band – que era até então TV Bandeirantes -, por pouco não perdeu a compostura:
- Datena, quem é esse maluco que está dentro do campo entrevistando o bandeirinha?
- Não sei, Luciano, pois não é comum entrevistar bandeirinhas. Mas vou checar.
No intervalo do jogo, Sena corria todo o gramado com sua filmadora e seu fiel gravador. Ao abordar o jogador Tupãzinho (que seria depois o autor do gol da final, contra o São Paulo, que daria o título de campeão brasileiro ao Corinthians), o nosso grande repórter Sena disparou, à queima roupa:
- Tupãzinho, índio véio, de que tribo indígena você é?
O jogador ficou imóvel, sem resposta. Não entendeu a pergunta. Não tinha resposta.
Sena não aceitou aquilo como uma derrota. O profissional de Imprensa é, acima de tudo, um forte. E, sendo nordestino, mais ainda. E foi à cata de mais entrevistados para levar à redação da suposta TVS Canal Independente.
Ele passou pelo treinador Mário Sérgio e demonstrou intimidade ímpar – para o espanto do profissional de futebol que não o conhecia.
- E aí, Marão? Como vai, cabra véio?
Mário Sérgio fez aquela mesma cara fechada e sisuda que o credenciou ao apelido de “Rei do Gatilho”, quando, irado, teria sacado sua arma após um jogo de futebol no interior de São Paulo. Ele fechou a cara. E Sena abriu aquele sorriso cativante. Moral: tomou conta do pedaço.
Nem Paulo Maracajá Pereira, considerado o melhor presidente da história do Bahia e responsável pelo título brasileiro conquistado em 1988, passou em branco. Sena, ligado naquelas paradas todas do futebol do Baêa, não perdeu o pique:
- Diga aí, Paulo Maracujá!
Paulo ficou mudo. E enrugou-se todo. Como um maracujá. Sena apenas se coçou. Sentiu falta do precioso líquido: a cerveja.
Sena ficou sozinho no gigantesco estádio da Fonte Nova, depois daquele jogo que terminou com o placar de 0 x 0. Sem perder o foco, permaneceu por longos minutos filmando as arquibancadas vazias do estádio.
Os últimos torcedores do Bahia, revoltados diante da desclassificação do time, atearam fogo em papéis e papelões. Sena não pensou duas vezes, pôs a fimadora para registrar os papéis queimando, pegou o microfone e filosofou:
- O estádio da Fonte Nova, cara, ó, está aí vazio. A torcida do Baêa se foi, retado porque o time jogou um futebol bem do derrubadinho. E a torcida ficou revoltada, cara, e pôs fogo em tudo por aqui.
E olhando para a lente, fulminou, filosofando:
- O estádio da Fonte Nova virou a Roma de Nero: agora só ficou... fogo e fumaça.

Corino Rodrigues de Alvarenga
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