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Geral

Crônica do Corino - Boletins médicos

24 de dezembro de 2006 - 08:51

Eu tenho um medo terrível, um verdadeiro pavor, de boletins médicos. E olha que, desde os quatro anos de idade, nunca fiquei internado em hospital. Graças a Deus, que me deu boa saúde. Já passei dos quarenta. A saúde vai bem, obrigado. Não sei até quando, mas vai bem.
Estou perto dos quarenta e cinco. E vai bem, graças a Deus. E obrigado, claro. Sou o sujeito mais ignorante do mundo. Estou esperando, assim, a comunidade científica inventar um aparelhinho, muito inteligente e eficaz, portanto, para substituir o dedo do médico urologista.
A minha religião, que foi inventada por mim, não me permite ir ao urologista.
O leitor vai dizer que estou dando um péssimo exemplo, que estou prestando um desserviço aos colegas da média idade, que eu teria, como cronista, a obrigação de esclarecer a opinião pública sobre a necessidade do toque retal, com aquele dedinho simpático do urologista. E estou mesmo.
Estaria eu sendo machista e preconceituoso? Não. Eu tenho medo é de me apaixonar. Pelo dedo do zeloso profissional da medicina. Toque retal. Sei não...
Mas, voltando aos boletins médicos, teve um que me chamou abordando a saúde do ex-jogador Valter Casagrande, que é hoje comentarista da Globo. Diz o rápido boletim médico:
"Casagrande permanece sob observação, tem respiração espontânea e seu quadro de saúde é estável. Ainda não há previsão de alta", diz o boletim médico divulgado pelo hospital na manhã desta quarta-feira.”
Curto e grosso. Objetivo. Frio. Um verdadeiro boletim médico.
Eu fico a imaginar o meu boletim médico. Deveria ser mais ou menos assim:
“Corino vai de mal a pior, mas pode piorar um pouco mais ainda. Tentamos fazer um exame de sangue do paciente, mas ficamos impossibilitados, já que o sangue evaporou devido ao alto teor etílico verificado na hora da coleta. O paciente está consciente, pois acaba de pedir mais uma dose de uísque. Ao ter pesadelo à noite, prometeu, em alto e bom som, que irá tirar o atraso no Bar de Baianinho da Rodoviária. Não tem previsão de alta. Nem de baixa. Pelo menos é o que esperamos. Boa-noite.”
E o boletim médico do Papai Noel? Imagino que seria mais ou menos assim.
“Papai Noel vem apresentando quadro de infecção generalizada provavelmente devido a constantes mudanças de temperatura em seu vôo da região nórdica para o hemisfério sul. O paciente apresenta problemas estomacais, pois comeu um acarajé com muito dendê ao passar por Salvador. O quadro se agravou ao ter o seu trenó roubado no Rio de Janeiro. Previsão de alta: próximo Natal. Se não chover.”
E o boletim médico de Fidel Castro? Já pensou aí?
“Fidel ya fue. El hombre ya muerto. El adiós, el amigo. Ahora está con usted, Raul!”
O problema não é o boletim médico. O problema é o último boletim médico. E pensar que muitos vão para o andar de cima sem direito a um boletim médico, resumido, sintético, frio, com palavras bem escolhidas pelos doutores dos hospitais.
Pensando bem... é melhor uma morte sem boletim médico. Ali, sob o pé de manga, tomando um ar fresco.
Morte com boletim médico fica muito formal, muito certinha.
Como o amável leitor e a estimada leitora puderam perceber, a minha saúde vai muito bem, obrigado. Permitiu-me até terminar esta crônica. Deus existe. Deus está lá cima. Olhando tudo. Vendo tudo. Dando ordens. E boletins. Médicos, não. Celestiais. Mas boletins. Muitos boletins.
PS: Como vou tirar uns dias de férias e estarei indo para uma roça onde não há nem energia elétrica – graças a Deus! -, tenho uma boa notícia para o leitor: irei poupá-lo de minhas crônicas até o dia 5 de janeiro de 2007. Feliz Natal e um Venturoso Ano Novo!
Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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