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Geral

Artigo do professor Rogerio Tenorio de Moura

Rogerio Tenorio de Moura - 10 de março de 2008 - 09:16

CIDADANIA E LINGUAGEM, DOIS LADOS DE UMA MESMA MOEDA.

Por termos por língua-mãe uma das línguas mais faladas no mundo imaginamos a todas como uma espécie de instituição inabalável, porém a verdade é que a maioria das línguas não chega nem aos 300 anos de idade e com a globalização da economia e a informatização o ritmo da economia mundial cobra maior agilidade nas relações de comunicação, portanto é natural que uma língua sobreponha-se a outras de menor prestígio (por questões meramente econômicas) e até que línguas faladas por grupos reduzidos de falantes desapareçam, de agora em diante, em uma proporção muito mais rápida que o comum. Ensinar língua estrangeira na escola, em especial a inglesa, é uma questão de cidadania, de garantir ao indivíduo o direito inalienável de liberdade, igualdade e fraternidade em relação aos indivíduos de demais partes do globo.
Bill Gates, presidente da Microsoft, maior produtora mundial de software para computadores pessoais, é quem afirma em resposta à carta a ele enviada e publicada sob a tradução de Clara Allain no Caderno de Informática do jornal Folha de São Paulo do dia 16 de julho de 1997:

“ Como a Internet faz do mundo um lugar menor, a importância de existir uma língua comum aumenta muito. Assim, aumenta a importância do inglês enquanto segunda língua. Mas não prevejo que o inglês vá tomar o lugar de alguma das línguas mais importantes de hoje, nem mesmo diminuir seu uso. Em suma, a tecnologia atual da informática não tem favoritos, em termos de línguas - embora as pessoas e as empresas publiquem muito mais software e conteúdo eletrônico em algumas línguas do que em outras. Como a internet cresceu nos Estados Unidos, a porcentagem de seu conteúdo apresentado em inglês é muito alta. Se você não souber inglês...”

O início da invasão cultural norte-americana no Brasil deu-se no início da década de 40, durante a segunda guerra mundial; as agências de notícias United Press e Associated Press passaram a difundir notícias favoráveis aos Estados Unidos no Brasil, assim como notícias sobre a América Latina para a imprensa dos Estados Unidos. Tudo sendo realizado através de negociações promovidas pelo birô que também não poupou esforços para afastar agências de notícias alemãs e italianas promovendo um verdadeiro american way life em nosso país, afastando assim o risco de perderem o nosso mercado para países do “eixo do mal”, como era conhecida a aliança nazi-fascista.
Foi parte das atividades do birô patrocinar tournées de astros e estrelas de Hollywood à América Latina e de artistas latino-americanos aos Estados Unidos. No caso de artistas brasileiros alguns foram e acabaram ficando, como Carmen Miranda. Ari Barroso, na época, foi contratado para escrever um filme para a “ Pequena Notável” . “ Na mesma linha de colaboração, o birô procurou descobrir talentos latino-americanos para filmar nos Estados Unidos e estimulou o aumento de empresas cinematográficas americanas na América Latina.” (Moura,1993, pág. 38).
Os documentários também foram alvos da ação de seção de filmes do birô. A priori, eles deveriam cobrir aspectos naturais, sociais, científicos e técnicos dos Estados Unidos e da América Latina. Porém, o que houve foi uma exibição evidente de filmes que acentuavam a superioridade da civilização norte-americana à alemã, o manancial bélico norte-americano e sua produção de armas modernas. Enquanto que os filmes sobre a América Latina a serem exibidos nos Estados Unidos tratavam de assuntos históricos, viagens e vida corrente.
Embora houvesse uma proposta igualitária de intercâmbio entre Estados Unidos e América Latina, baseadas em troca de experiência e de especialistas não foi o que se sucedeu. O número de americanos que vieram ao Brasil durante a guerra era infinitamente superior aos brasileiros que iam aos Estados Unidos.
Na verdade, o que acontecia era um intercâmbio favorável somente aos Estados Unidos, pois os especialistas que vinham ao Brasil eram para ensinar suas técnicas e exibir suas realizações, e os brasileiros que para lá iam era para aprender e retornar com sentimentos de amizade e de boa vontade para com eles.
Cabe ao educador conscientizar seus educandos das diferenças lingüísticas e culturais dos vários povos, sejam eles estrangeiros ou não, compreendendo o fato de que a diversidade não faz de ninguém melhor ou pior que os outros, apenas diferentes, enriquecendo, assim, toda a coletividade com uma enorme gama de cultura proveniente de outras civilizações.
Não podemos, entretanto, nos abrir pacificamente a todo tipo de intervenção sem questionar as intenções subjacentes ao processo, podemos e devemos ampliar nosso horizonte cultural estudando as diversas formas de vida social humana, porém não da forma ingênua e cheia de boa vontade dos indígenas que aqui habitavam quando da chegada dos portugueses.
Os administradores escolares, professores, pensadores da educação devem entender que o ensino de Língua Estrangeira Moderna não é apenas mais uma disciplina no currículo escolar, muito menos pode continuar sendo o que é atualmente, mero preenchimento de grade escolar, inclusive nas universidades.
Dominar uma segunda língua ou até terceira é um direito do indivíduo enquanto cidadão, é estar inserido no mundo como um todo, dentro de um contexto global do qual não há como fugir. Garantir, efetivamente, o aprendizado de Línguas Estrangeiras Modernas na escola é garantir ao indivíduo o direito de ter seu crescimento pessoal e profissional ilimitado, livre de fronteiras e preconceitos.

Rogério Tenório de Moura
é licenciado em Letras pela UEMS,
especialista em Didática Geral
e em Psicopedagogia pelas FIC.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MOURA, G.. A penetração cultural americana. São Paulo, Editora Brasiliense, 1993

Folha de São Paulo do dia 16 de julho de 1997

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