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Análise de DNA de linguiças identifica irregularidades em 84% das amostras

Campo Grande News - 03 de novembro de 2019 - 11:00

Pesquisadores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) analisaram o DNA de 40 amostras de linguiças artesanais comercializadas em Campo Grande e descobriram que 84% das peças continham “matéria-prima não declarada”: as que deveriam ter somente carne bovina, por exemplo, apresentavam em sua composição carne de ave ou suína.

A verificação feita no Laboratório de Biologia Molecular da faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (Famez/UFMS) faz parte do projeto de pesquisa “Desenvolvimento e avaliação de métodos biotecnológicos para detecção de fraudes por substituição em produtos de origem animal”.

A ideia do projeto é utilizar as ferramentas existentes no Laboratório de Biologia Molecular para fazer a identificação e mensurar qual a frequência de substituições ou não conformidades com os alimentos analisados.

Na pesquisa, foi utilizada a técnica PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), em que são feitas milhões de cópias de região específica de DNA para avaliar a autenticidade de produtos de origem animal. Além das linguiças comercializadas em dez supermercados de Campo Grande, também foram avaliados hambúrgueres industrializados.

Os pesquisadores analisaram produtos elaborados a partir de espécies usuais de comercialização: bovino, suíno e aves. Apenas 16% de 40 amostras de linguiças artesanais obtidas em dez supermercados diferentes, em dois períodos distintos, estavam de acordo com o que era declarado no rótulo pelo fabricante. E de três marcas de hambúrgueres industrializados, somente uma atendia as especificações declaradas na rotulagem.

No caso das linguiças artesanais, os pesquisadores encontraram em quase todas as linguiças de bovino, DNA de suíno e aves. Houve ali adição intencional ou pelo menos a contaminação daquele produto com carne diferente, segundo o coordenador do projeto, o professor Carlos Alberto do Nascimento Ramos.

“Nas linguiças de suíno encontramos DNA de aves, mas dificilmente bovino, o que é esperado, pois quando existe substituição a ideia é que se utilize uma carne de menor valor em um produto de maior valor comercial”, disse Ramos.

Contaminação - Na pesquisa com hambúrguer industrializado foram analisadas três marcas distintas, não necessariamente fabricadas em de Mato Grosso do Sul. Somente uma marca estava acordo com a rotulagem: em todas as outras foram encontrados resíduos de DNA de outras espécies além da declarada.

Neste caso, não significa necessariamente fraude, mas, a contaminação não intencional. ““Em algumas situações, como por exemplo, em uma indústria que processa diferentes produtos, e durante o processamento, no mesmo equipamento passam espécie bovina, suína e aves. Como estamos utilizando uma técnica (PCR) muito sensível, resquícios podem ser detectados, oriundos dessa contaminação. Embora não seja uma fraude, essa contaminação pode indicar uma falha no processo de fabricação que deve receber mais atenção por parte dos fabricantes”.

Para alguns produtos processados, como hambúrguer, a indústria muitas vezes compra carne mecanicamente separada (CSM) para fabricação. Segundo o professor, o problema pode estar na cadeia produtiva, com a carne chegando já com resquícios de carnes de outras espécies para a produção final do produto.

Nas três marcas analisadas pelo Laboratório, os fabricantes declaravam que os hambúrgueres eram 100% feitos com carne bovina. Em duas, foram encontrados DNA de carne suína e de frango.

“A nossa ideia é fazer essa análise, verificar a situação do estado com relação a esses produtos, e identificar o que tem mais ou menos problema”.

Os pesquisadores estão agora analisando outras marcas e lotes dos produtos, inclusive salsichas e linguiças industrializadas. Também irão procurar DNA de soja na carnes e, futuramente, lácteos e pescados também serão verificados.

Segundo o professor, a intenção é que as empresas podem utilizar essa informação para se beneficiar, realizando periodicamente a análise dos seus produtos e divulgando esses resultados, o que deve elevar a credibilidade das empresas junto aos consumidores.

Para o professor, ainda existe um estigma muito grande com relação a todas as técnicas que utilizam DNA, mas ele salienta que hoje a reação em cadeia da polimerase (PCR), é uma técnica extremamente barata e simples, com poucos equipamentos e investimentos, é possível ser feita pela própria indústria.

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