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Amazonia legal: Tecnologia pode reduzir desmatamento
O Brasil está diante de um grande desafio: conciliar a expansão da agropecuária com a preservação da Amazônia Legal. De acordo com dados oficiais, 65 milhões de hectares de florestas já foram desmatados e, se mantidas as tendências dos últimos cinco anos, a área destrída da região pode passar dos quase 13% em 2003, para próximo de 22% em 2020.
Segundo a Embrapa, recuperar e reincorporar áreas degradas ao sistema produtivo é um excelente caminho para conciliar desenvolvimento com conservação dos recursos naturais. A disseminação de tecnologias já disponíveis pode contribuir para evitar o desmatamento de até 75 milhões de hectares de vegetação nativa nos próximos 15 anos. O Brasil tem um eficiente sistema de monitoramento dos desmatamentos e queimadas na Amazônia Legal, mas falta criar um sistema de monitoramento do uso das áreas desmatadas, alerta o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Acre, Judson Valentim.
Ele foi o palestrante do Seminário Pecuária e Desmatamento na Amazônia Legal: tendências atuais e cenários alternativos, realizado hoje, na sede da Embrapa, em Brasília, para debater tendências emergentes e os cenários futuros da atividade pecuária na região. A Embrapa está elaborando uma proposta de pesquisa interinstitucional para auxiliar na busca de soluções capazes de conter o avanço da pecuária e o crescente desmatamento da Amazônia, mas reconhece que o desafio é muito maior que a empresa.
A idéia é integrar todas as organizações envolvidas na questão para tentar oferecer alternativas e um cenário melhor para o desenvolvimento de uma pecuária sustentável na Amazônia, explicou Judson Valentim, ressaltando que essa transversalidade de ações envolverá vários ministérios e 15 das 40 unidades da Embrapa espalhadas pelo país.
Segundo o pesquisador, o primeiro desafio é ampliar o conhecimento cientifico sobre o potencial e as restrições dos recursos naturais da Amazônia - que ainda é muito pequeno - e disponibilizar as tecnologias já geradas aos milhares de produtores da região: Precisamos buscar estratégias inovadoras para disponibilizar as informações para que os produtores possam migrar gradualmente dos tradicionais sistemas de pecuária extensiva para sistemas mais intensivos e sustentáveis.
Para ele, os fatos têm mostrado que medidas restritivas e o isolamento não são capazes de conter a devastação da floresta. As tendências sinalizam claramente para um forte crescimento da agropecuária na Amazônia que implicaria em desmatamentos acentuados e na incorporação de quase 100 milhões de hectares nos próximos 20 anos. De acordo com Valentim, conhecer melhor a situação das áreas de pastagens, recuperar áreas degradas com o plantio de frutas nativas e implantar zonas de produção pecuária são algumas das ações incluídas na atuação estratégica da Embrapa.
O técnico acredita que com aplicação de alternativas tecnológicas, como o plantio direto, por exemplo, seria possível aumentar a produtividade em áreas já desflorestadas. Ele explica que com 20% da área desmatada da Amazônia é possível produzir 50 milhões de toneladas de grãos, 60% podem abrigar 100 milhões de cabeças de gado e os 20% restantes dariam para assentar cerca de 900 mil pequenos agricultores em lotes de 20 mil hectares para cultivos perenes. Isso tudo sem desmatar sequer um hectare de terra. É possível fortalecer a agropecuária na Amazônia aproveitando melhor as áreas desmatadas e sem a necessidade de avançar de forma tão acelerada nas florestas, garante o pesquisador.