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Geral

Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 27 de outubro de 2011 - 15:23

Caramba, carambola...

A interjeição “caramba”, expressão de espanto, de surpresa, de ironia, teve origem no linguajar popular da Espanha como uma gíria jocosa, porém, obscena. Carambola é o nome de uma fruta.
No latim existiu o termo caraculus ou characulus que designava a estaca de madeira roliça empregada para proteger a enxertia das videiras. Com o tempo, no linguajar grosseiro do homem rude [tinha por tendência evitar as palavras proparoxítonas], caraculus passou a ser caraclus já aí como um apelativo do pênis.
Na evolução para as línguas românicas, a maioria das palavras primitivas não conservou o mesmo som, a mesma voz: episcopu = bispo; apotheca = bodega; formicicida = formicida; Iesus = Jesus; memorare>membrar = lembrar; bellitia = beleza.
Quando a palavra latina possuía o grupo consonantal CL entre vogais, ao evoluir para o português a tendência natural era a pronúncia de LH; para o espanhol, a pronúncia de j Acucla = agulha, em português; aguja, em espanhol; Aurícula – orelha, em português; oreja, em espanhol. Assim também a expressão que nomeava a estaca da enxertia: caraclus, em castelhano carajo.
“Caramba” surgiu na língua popular da Espanha como um eufemismo para suavizar o peso conotador de carajo, da mesma forma e conotação que no falar brasileiro do jovem atual são usadas as palavras cacilda (cacildis, no dizer caricato do Muçum) e caraca.
O Houaiss data de 1873 o seu ingresso no vernáculo, quando arrolada no “Grande Diccionário Portugez ou Thesouro da Língua Portugueza”, publicado de 1871 a 1874 no Porto, pela Casa dos Editores Ernesto Chardron e Bartholomeu H. de Moraes. São cinco volumes com grande quantidade de informações. O manuscrito que deu origem a esse dicionário foi elaborado por Frei Domingos Vieira (\"dos Eremitas Calçados de Santo Agostinho\"). Trata-se de uma \"publicação feita sobre o manuscrito original, inteiramente revisto e consideravelmente augmentado\". Um dos colaboradores dessa revisão foi F. Adolpho Coelho, conhecido filólogo da época.
E de lá para cá teve muito uso, mas sempre com significação menos chula: Chi, você chegou tarde prá caramba1 - Caramba! Que vestido bonito! -
Um livro legal prá caramba - “Que noite fria! Caramba!” (Vargas Neto. Tropilha Criola e Gado Xucro, p. 113 – citado pelo “Aurélio, Século XXI).
No carnaval de 1939, João de Barro e Alberto Ribeiro lançaram a marchinha “Touradas de Madri”, que fez muito sucesso e que tinha um trecho mais ou menos assim;
“Eu conheci uma espanhola natural da Cataluña
queria que eu tocasse castanhola e pegasse o touro à unha....
caramba, carambola, sou do samba não me amola
pro Brasil eu vou fugir
isso é conversa mole para boi dormir
Parará tibum, bum, bum
Parará tibum, bum, bum ”.

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