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Alcides Silva explica a origem de Bacana

Alcides Silva - 20 de dezembro de 2008 - 11:15

Bacana
Nos carnavais de minha juventude, no final dos anos 40 – e lá se vai tanto tempo – o jeito travesso e voz sensual de Emilinha Borba, explodiam alegria numa marchinha de João de Barro, o Braguinha: “Chiquita bacana lá da Martinica / Se veste com casca de banana nanica / Não usa vestido / Não usa calção / Inverno pra ela é pleno verão / Existencialista com toda a razão / Só faz o que manda / O seu coração”.
Naqueles tempos de recato – o corpo da mulher era mais sonhado do que visto -, o ‘escorregadio’ da casca de banana, deu ao qualificativo de Chiquita um continente de êxtase. Bacana passou a ser um termo com tantas acepções de atributos positivos de pessoas ou de cosias, que adquiriu o status de palavra-ônibus, isto é, vocábulo de larguíssimas aplicações: uma pessoa bacana (correta); um professor bacana (compreensível); uma roupa bacana (elegante); um perfume bacana (inebriante); um livro bacana (inteligente); uma música bacana (deliciosa), uma idéia bacana (simpática), uma viagem bacana (gostosa), férias bacanas (alegres), amor bacana (leal), homem bacana (grã-fino), sonhos bacanas (lindos) etc.
É obscura a origem dessa palavra, aliás, usada somente na linguagem informal. Alguns, como Antenor Nascentes (“A gíria brasileira”), dão-lhe o significado de ‘indivíduo endinheirado, em condições de ser roubado’; outros, como Manoel Viotti (“Novo Dicionário da Gíria Brasileira”), de pessoa abastada, porém comprometida com a polícia. Diríamos hoje, o colarinho-branco. Antenor Nascentes a deriva do genovês bacan, o amo, o senhor (até a Idade Média, amo era o dono da terra, o fidalgo). O excepcional etimologista português José Pedro Machado, diz ser cognata de Baco, na mitologia romana o deus do vinho e do delírio místico.
O conteúdo de sensualidade empregado por João de Barro em sua “Chiquita Bacana” está mais para festa báquica que para pessoa endinheirada.
Conta a lenda que criança, Baco, filho de Júpiter e de Semele, foi mandado a Nisa, onde as ninfas o educaram. Adulto, saiu mundo ensinando a cultura da vinha e os prazeres do vinho. Em sua homenagem, os romanos celebravam as bacanais (do latim bacchanalis). Inicialmente, uma festa só de mulheres, que corriam os campos, carregando fachos em homenagem a Evoé, um dos nomes de Baco. Ao depois, com a presença dos homens, acabaram se transformando em festas licenciosas, com excesso de bebidas, orgia, libertinagem e devassidão, a ponto de o Senado romano proibi-las, prescrevendo pena de morte aos transgressores.
Como o que é proibido é mais desejado, nem a ameaça da pena máxima impediu que as bacanais continuassem a ser festejadas, inclusive no Brasil, em Pernambuco, onde no século XIX, Baco era comemorado, durante a Páscoa, com procissão, cânticos e banquetes, estes, por óbvio, regiamente regados a bom vinho. O historiador Pereira da Costa descreveu, em “Folclore Pernambucano”, uma dessas festas realizadas no Recife: “afluía pela manhã imensa multidão e guardadas as solenidades das festas pagãs, tinha lugar o batismo de Baco no Rio Jordão. Terminado o ato, dispunha-se toda gente em ordem de marcha para os Prazeres, formando pelotões, conduzindo cada indivíduo um galho de árvore, e no fim vinha Baco, com uma coroa de folhas na cabeça, montado sobre uma pipa que, disposta em forma de charola (andor), era conduzida aos ombros dos circunstantes, revezadamente, Baco trazia uma garrafa com vinho na mão direita e um copo na esquerda, de cujo líquido vinha fazendo libações...”
Todavia, em 1869, a Igreja proibiu, em razão do caráter licencioso dos festejos a sua realização, “e uma numerosa força de infantaria e cavalaria, obstou a execução da tradicional festa, e desde então nunca mais se tentou a sua celebração” (cf. “Folclore Pernambucano). E os bacanais, já agora como substantivo masculino, ficaram restritos as sessões de sexo grupal.

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