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A crônica do Corino - Reminiscências

Corino Rodrigues de Alvarenga - 11 de fevereiro de 2007 - 17:30

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Mantive contato, nesta semana, com o meu sobrinho Júlio César, o cassilandense filho de João Marinho e Delaide, que acabou virando médico veterinário.
Julião Bacamarte, o seu apelido na infância, não tinha outro caminho a seguir.
Sempre foi um amante dos animais. Só teria dois caminhos a seguir: trabalhar como tratador de animais no zoológico ou virar médico veterinário. Optou pelo segundo caminho. E fez muito bem.
E como mencionei o apelido dele, um presente do saudoso primo Vanderlei, vale lembrar as demais alcunhas. Eu era o Tio Couro; o Jáimisson, o Jaca; Álvaro, o Capitão- de-Sete-Cus; Antônio Carlos era simplesmente o Botina.
Falei com Jáimisson também nestes dias e ele lembrou que os Alvarenga estão espalhados, estrategicamente, pelo Brasil: eu estou na Bahia; Antônio Carlos, no Paraná; Jáimisson, em São Paulo; Júlio César, em Brasília; e o restante da família, em Cassilândia.
Se fosse a organização de uma guerriha, poderia se dizer que os Alvarenga estão estrategicamente espalhados pelo Brasil afora.
Mas Alvarenga não faz guerrilha. Alvarenga faz resenha, como se diz aqui na Bahia.
Recordando da nossa infância e adolescência, lembro-me das férias. Jáimisson, Antônio Carlos e Júlio César estudavam no interior de São Paulo, e, nas férias, faziam o maior sucesso em Cassilândia, mormente junto às meninas.
As partidas de vôlei praticadas na Praça São José eram bastante concorridas. As meninas iam para lá. Era aquele frisson.
Eu não fazia parte do time. Primeiro porque era baixinho demais e depois porque era da turma do futebol.
É verdade que anos depois virei levantador de vôlei. Um levantador medíocre, é verdade. Mas levantador.
Eu nunca fui herói nem valente. Sempre soube disso. Mas havia alguém que acreditava no contrário: o Carlos. Ele me achava um herói.
Certa feita ele apareceu chorando e me chamou de bate-pronto:
- Tio, tem um moleque que mexeu comigo, ameaçou me bater e eu disse-lhe que iria chamar o meu tio. Vamos lá, tio. Vamos dar uma lição naquele moleque.
Eu, sem pensar direito, topei logo a parada:
- Vamos lá, Carlos! Deixa este moleque comigo, ora!
Ao chegarmos lá, deparamos com um moleque gigante, que dava dois deste Corino aqui. Pensei bem e cheguei à conclusão:
- Carlos, vamos deixar esse negócio de violência para lá. Brigar não resolve. O melhor é conversar, entrar num acordo.
Carlos, com certeza, interpretou a minha filosofia com algo mais ou menos assim: “O tio se borrou!” E, se pensou assim, acertou na mosca. Eu nunca fui de pôr a mão em cumbuca, meu amigo.
As férias na fazenda Água Limpa eram inesquecíveis. A única lembrança ruim que tenho de lá foi a morte de meu pai, José Marinho. Ele morreu sob um pé de laranja.
Hoje tenho 43 anos, já estou descendo a montanha e os meus irmãos Jáimisson, Carlos e Júlio estão beirando os 40 anos.
Mas, aqui na memória, são todos crianças. Melhor: somos todos crianças. Faz 18 anos que eu não vou a Cassilândia. Morei em São Paulo e hoje estou na Bahia, em Jacobina.
Espero voltar a escrever sobre a nossa infância. E adolescência, claro.
E certamente não faltarão reminiscências de imagens do Salto do Aporé, da Lagoa Santa, da escola, do bem-querer, dos primeiros amores, das primeiras tentações, das primeiras dores, dos primeiros prantos, das primeiras lágrimas.
A infância é isto: é o início de tudo. E o fim de tudo. Depois da infância, a vida deixa de existir na sua plenitude. A vida é dividida com a responsabilidade, o medo e o futuro.
A vida, em sua intensidade, morre quando a infância termina.
Hoje estou filosofando demais.
Vou parar por aqui.
Outro dia, menos rabugento, prometo escrever sobre aquela tenra idade – em que a vida tinha princípio, meio e fim. E, cá entre nós, promessa é dívida.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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