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A crônica do Corino - Pobre Chalita

Corino Rodrigues de Alvarenga - 25 de novembro de 2006 - 06:56

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O jovem Chalita, filho do casal descendente de árabes Mohmud e Sarah, sempre foi uma criança problemática. Herdeiro de uma rede de lanchonetes especializadas em quibes, charutos de folha de uva e salgados árabes espalhada por São Paulo, Chalita, cada dia mais gordo, trabalhava com o pai numa das 15 lojas do grupo de lanchonetes. Às vezes cuidava da lanchonete da Pamplona, às vezes da Haddock Lobo, às vezes do Jardim Anália Franco, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo. Chalita fazia revezamento contínuo, pois criava problemas por onde passava.
Um dia o cada vez mais gordo Chalita, já com seus 19 anos e mais de cem quilos, saiu do trabalho, naquela segunda-feira, foi para a escola e, lá pelas 21 horas, chegou em casa.
Só que Chalita chegou muito estranho. Não era o Chalita de todos os dias. Parecia agoniado, frenético, arredio. Não era o mesmo Chalita. Havia algo de diferente em seus gestos, no caminhar, no jeito de ser.
Não deu nem “boa-noite” para a mãe, foi ao aparelho de som e pôs Cazuza no volume máximo. O rock carioca, devido ao volume ensurdecedor, perdia, assim, a sua melodia e só se ouvia as batidas da guitarra da banda do poeta desbocado, ídolo da perdição urbana.
A mãe pediu ao filho para pôr o som num volume mais baixo, ao passo que Chalita, ameaçador, mandou-a calar-se.
Já eram 21h30 e o pai acabava de chegar. Não ouviram, naquela noite, o barulho do carro. O volume do som passava dos 90 decibéis. O pai, já estressado depois de uma hora perdida no sagrado engarrafamento da Marginal Pinheiros, começou a berrar:
- Desliga essa porcaria, Chalita! Que desgraça é essa, filho?
- Não desligo, não! – gritou, também, Chalita.
O pai, mais nervoso ainda, deu um tapa no rosto de Chalita.
Chalita foi até a porta e gritou, ainda mais ameaçador:
- Você vai se arrepender disso! Eu juro! Você vai se arrepender disso!
E saiu, em disparada, rumo à rua.
Pegou o carro, um BMW novinho em folha, e saiu em altíssima velocidade rumo ao centro da cidade. Chalita nem sabia para onde estava indo. Ao passar em frente o prédio do Ministério Público, viu um senhor muito bem vestindo, atravessando a rua, indo na direção do seu carro.
Chalita diminuiu a velocidade do BMW azul. O logotipo do veículo, em metal, reluzia naquela noite de lua minguante. Chalita estacionou o carro próximo ao veículo do homem bem vestido, com terno preto de linho, camisa alva, gravata com motivos florais, sapatos bem pretos e engraxados.
Ele desceu do carro e aproximou-se do homem.
O homem era Dr. Fenelon Fontana Cerqueira Leite de Morais, promotor de Justiça paulistano de grande credibilidade, e que, por sinal, estava movendo importantes denúncias contra o governador da época. Era filho de um desembargador e de uma juíza de Direito igualmente renomada.
Chalita estava descontrolado. Deu uma gravata no promotor, jogou-o no chão e pegou duas armas que estavam em poder dele: uma 765 e um revólver calibre 38.
Como o promotor tentou uma rápida reação, Chalita, cego e trêmulo, alvejou-o, dando três tiros, sendo um na cabeça, um no peito e um nos glúteos. O homem tombou, sem vida. Morte instantânea. Uma enorme poça de sangue formou-se ao lado do pneu traseiro do carro.
Chalita entrou no BMW e saiu, sem direção, deixando marcas do pneu no asfalto.
Meia hora depois, com o tráfego mais tranqüilo àquela hora, Chalita estava estacionando o carro próximo ao portão de sua casa, na diagonal, tomando boa parte da rua.
Entrou e, assim que encontrou com o pai, de toalha, saindo do banheiro, alvejou-o com dois tiros certeiros na cabeça. A mãe chegou, aos berros:
- O que você fez, meu filho? Matou o seu pobre pai? Por que fez isso, meu filhinho Chalita?
- Mãe, eu vou matar você também!
- Por que, meu filho? Por que essa violência? Nós te amamos, meu filho!
- Vocês nunca me amaram, não, mãe! Eu caí no mundo das drogas! Vocês nunca me falaram sobre as drogas, mãe! Eu vim aprender o que é droga quando um filho de uma égua me deu droga, no meu refrigerante, na boate! Vocês nunca me falaram nada sobre isso, mãe!
Quando a mãe tentou falar, Chalita disparou contra ela. A cena violenta voltou a quebrar o silêncio daquele bairro aparentemente tranqüilo. Dois tiros atingiram Sarah: tórax e cabeça.
A polícia chegou logo a seguir. Chalita, sem reagir, foi detido pelos policiais da Rota – Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, com sede na avenida Tiradentes.
Chalita só balbuciou, repetindo várias vezes, esta frase:
- Sou filho da droga! Sou filho da droga! Sou filho da droga!
A história de Chalita foi parar nas manchetes dos jornais de São Paulo e de todo o País. Foi parar na TV. O caso ganhou até tema principal sobre as manchetes: “O Crime do Quibe Árabe”.
A rede de lanchonetes fechou as portas. A Justiça fechou as portas da cadeia para Chalita. E as drogas fecharam mais um caso policial. Sempre as drogas. As drogas... Sempre elas.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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