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A crônica do Corino - Eu e Sócrates

Corino Rodrigues Alvarenga - 25 de outubro de 2006 - 05:01

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Ontem eu estava na redação do jornal O Globo e fui designado pelo jornalista Roberto Marinho, editor e redator-chefe, para entrevistar o filósofo grego Sócrates. Confesso que, de imediato, não ouvi direito. Disse a Roberto que não era da área esportiva.
- Dr. Roberto, eu não sou repórter esportivo para entrevistar o jogador Sócrates. Aliás, Sócrates já não encerrou a sua carreira e hoje está exercendo a medicina em Ribeirão?
- Jogador? Sócrates a que me refiro, Corino, é o grego, o pensador, o sapientíssimo.
- Mas, Dr. Roberto, não me sinto preparado para fazer essa entrevista, pois não tenho capacidade e cultura para entrevistar um filósofo de tamanha envergadura...
- Meu rapaz, quem tem envergadura é cavalo e lutador de boxe. Não resmungue. Vá lá e entreviste Sócrates. Já estou vendo a manchete: “O Globo ouve Sócrates com exclusividade”. Exclusividade. Adoro essa palavra... Você não vai ter que pensar. A pauta da entrevista já está aqui. A única coisa que você vai ter que fazer é ler as perguntas, fazer esta cara de intelectual que você já tem... aliás, todo otário tem cara de intelectual. E deixe que o homem, digo, o grego Sócrates, faz o resto. Pegue a pauta e vai.
Tudo bem. E lá fui eu atrás da minha missão: entrevistar Sócrates. O grego, com o seu sotaque greco-romano, com a sua roupa greco-romana e com a sua inteligência só grega, sem o romano, lá estava a minha espera. E lá estava ele: de barbas longas, parecendo Jesus Cristo.
Não quis nem saber de nada. Sou ousado da silva. Mandei logo a primeira pergunta:

Corino/O Globo – Como é um sábio ser entrevistado por um tolo?
Sócrates - É costume de um tolo, quando erra, queixar-se dos outros. É costume de um sábio queixar-se de si mesmo.
Corino/O Globo – O que o pensador grego pensa da beleza?
Sócrates - A beleza é um reino muito pequeno.
Corino/O Globo – Tudo bem, tudo bem. E você sabe tudo mesmo o que todos dizem que você sabe? Você é o sapientíssimo?
Sócrates - Eu só sei que nada sei.
Corino/O Globo – Na condição de filósofo, o senhor é liberal ou radical em relação às leis?
Sócrates - O que temos de fazer é instruir e não proibir.
Corino/O Globo – Qual é a definição que o senhor tem para a palavra “sábio”?
Sócrates - Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.
Corino/O Globo – Na sua opinião, como deve proceder um bom juiz?
Sócrates - Quatro características deve ter um juiz; ouvir cortesmente, responder sabiamente, ponderar prudentemente e decidir imparcialmente.
Corino/O Globo – Qual é o melhor caminho para o homem chegar ao verdadeiro conhecimento?
Sócrates - Conhece-te a ti mesmo.
Corino/O Globo – E, sobre o casamento, qual é o tipo de mulher ideal?
Sócrates - Meu conselho é que se case; se você arrumar uma boa esposa, será feliz; se arrumar uma esposa ruim, se tornará um filósofo.
Corino/O Globo – A respeito da arte de falar bem, qual é o segredo?
Sócrates - A eloqüência é a arte de aumentar as coisas pequenas e diminuir as grandes.
Corino/O Globo – E, para finalizar esta entrevista, qual é a sua opinião sobre a honestidade?
Sócrates - Se o desonesto soubesse a vantagem de ser honesto, ele seria honesto ao menos por desonestidade.

Terminada a entrevista, nem deu tempo de me despedir do grego Sócrates. Minha mulher, a Neide, acabou me acordando aos berros:
- Acorda, homem de Deus! Que mania é essa de falar dormindo? Acorda, homem, que já são sete horas e está na hora de ir trabalhar!
Só poderia ser sonho mesmo. E o pior: passei o dia todo pensando no encargo oferecido pelo Dr. Roberto Marinho: entrevistar Sócrates.
Imagina só. Logo eu que só conhecia um Sócrates: o jogador que batia o maior bolão no meu Corinthians.
Caí na real. Peguei a pasta e fui trabalhar. O sol já ameaçava bater pesado.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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