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Radicais livres aceleram o envelhecimento das células

Irene Lôbo/ABr - 10 de janeiro de 2004 - 11:11

Com a chegada do verão, muitas pessoas aumentam a carga de exercícios físicos e modificam hábitos alimentares para não “fazer feio” nas praias e nas piscinas. Mas o que parece ser uma rotina saudável pode se tornar também perigoso, já que o excesso de atividade física num curto período de tempo combinado a uma alimentação inadequada acelera o envelhecimento das células.

A explicação está no aumento excessivo do número de Radicais Livres de Oxigênio (RLO) no corpo, moléculas formadas durante o processo de respiração celular. “O número de RLO aumenta muito e, quando a alimentação (e/ou suplementação antioxidante) não é adequada para atender às necessidades extras do organismo, o dano se acentua e acumula, e o envelhecimento fica acelerado”, explica o professor Danilo Wilhelm Filho, do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Mais de duzentas doenças humanas estão diretamente relacionadas com os chamados RLO. A formação dessa substância no organismo ocorre durante a “queima” de açúcares, quando partículas de oxigênio “escapam” e se transformam em radicais superóxidos, ou seja, moléculas instáveis com elétrons livres em busca de outras moléculas, átomos ou compostos do corpo humano para se estabilizarem.

A ação dos RLO pode ser vista a olho nu quando, por exemplo, utiliza-se água oxigenadas nos cabelos. A interação da substância com o ferro forma o radical hidroxila, que ataca e destrói os pigmentos do cabelo.

Pelo seu poder de “atacarem” moléculas, os RLO podem ser úteis na defesa do organismo. Vírus, bactérias ou qualquer elemento estranho que entre no corpo humano são imediatamente combatidos por anticorpos que engolem e trituram os corpos estranhos, conhecidos como neutrófilos e macrófagos. Estes, por sua vez, utilizam o potencial destruidor dos radicais livres para “bombardear” o inimigo.

Mas os RLO podem eventualmente ser tornar estáveis, produzindo reações lesivas ao organismo. Doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e do envelhecimento são algumas das conseqüências relacionadas aos RLO.

A doença de Alzheimer, por exemplo, que causa degeneração cerebral e atinge 18 milhões de pessoas em todo o mundo, pode ter grande contribuição dos radicais livres. Nos cérebros afetados pela doença são formadas placas que provocam a degeneração e morte dos neurônios. Recentemente, cientistas descobriram que o principal componente das placas - a proteína beta-amielóide -, ao se fragmentar, libera moléculas de ferro. Estas, quando se encontram com água oxigenada, formam radicais livres do tipo hidroxilas, que “corroem” os neurônios provocando a sua morte.

Uma outra doença, denominada AMD (sigla em inglês de degeneração da mácula associada à idade), uma das causas da cegueira, também pode ter ligação com os RLO. A doença afeta a mácula (região que envolve a retina), rica em gorduras poliinsaturadas que são oxidadas por radicais livres. Dessa maneira, forma-se uma barreira que envolve a retina e provoca perda de visão.

Alguns tipos de câncer também estão ligados aos radicais livres, que podem atacar o material genético humano. Nos derrames cerebrais, os radicais livres podem piorar a situação da vítima e nos diabéticos, as degenerações e dificuldades de microcirculação periférica e oftálmica são causadas por elevados níveis de RLO.

Vencer os radicais livres não significa eliminá-los, já que a sua produção está relacionada ao próprio metabolismo do corpo e ao processo de respiração. Diariamente, cada célula transforma 2% do oxigênio consumido em RLO. Considerando que cada célula consome cerca de 1 trilhão de moléculas de oxigênio, pode-se estimar que são produzidas uma média de 20 bilhões de RLO por dia para cada célula.

O próprio organismo desenvolve defesas antioxidantes que transformam alguns RLO em água, mas o aumento da expectativa de vida faz com que o corpo humano perca essa capacidade de defesa. Não é à toa que a maior quantidade de RLO é encontradas em pessoas idosas.

Algumas causas externas como o tabagismo, a poluição do ar, remédios que contém oxidantes, radiações ionizantes e solares, maior consumo de gorduras e choques térmicos também contribuem para aumentar o “poder” dos RLO e, conseqüentemente, sua ação prejudicial ao organismo.

Uma alimentação rica em antioxidantes é apontada como o melhor método de prevenção aos efeitos nocivos do RLO. Certos minerais como zinco, cobre e selênio e principalmente as vitaminas E, C e o betacaroteno agem como antioxidantes, inibindo a atuação de alguns RLO.

No grupo da vitamina C, recomenda-se o consumo de acerola, frutas cítricas, tomate, melão, pimentão, repolho cru, morango, abacaxi, goiaba, batata e kiwi. Alimentos ricos em vitamina E contém germe de trigo, óleos vegetais, vegetais de folhas verdes, leite, gema de ovo e nozes. No grupo dos betacarotenos estão a cenoura, mamão, abobrinha, alguns vegetais e frutas de cor alaranjada.

Outras substâncias muito importantes no combate aos RLO são os leucopenos, encontrados principalmente no tomate, a glutationa, presente no abacate e os flavonóides, presentes em grande quantidade nos sucos de uva, vinhos tintos, chás e diversos vegetais. Uma vez estabilizados, os RLO deixam de ser um atentado ao organismo.

Um outro fator de extrema importância na regulação dos RLO é o repouso, principal recomendação do nutricionista esportivo Leonardo de Sousa Costa. “É o sono que regula a produção dos hormônios anti-stress e dos radicais livres”, explica. De acordo com ele, uma pessoa que pratica diariamente entre duas e três horas de atividade física intensa dever dormir no mínimo oito horas para conseguir inativar os RLO produzidos.

Apesar de sua importância, o interesse pelo estudo dos radicais livres é relativamente novo. Mesmo sendo abundantes no corpo humano, o estudo e a observações desses compostos era dificultado por sua curta meia-vida e grande capacidade de modificação.

Em 1954, a pesquisadora argentina Rebecca Gershman, várias vezes indicada para o Nobel de Medicina, alertou pela primeira vez para a produção de RLO durante o metabolismo e sua toxidade. Em 1969, os pesquisadores Irwin Fridovich e Joe McCord relacionaram os RLO à existência de uma enzima abundante em todas as células aeróbicas, a superóxido dismutase (Sod), descoberta que aumentou o interesse científico na área.

A partir da década de 70, o número de pesquisas cresceu e hoje são desenvolvidos em todo o mundo cerca de 50 mil estudos a cada ano. No Brasil, o professor Danilo Wilhelm Filho é um ativo pesquisador dos RLO. Suas pesquisas envolvem animais como peixes, berbigão e mariscos para diagnosticar a poluição do ambiente, por meio de testes que revelam a quantidade de antioxidantes e RLO existente nesses animais.

Um outro estudo é realizado com pacientes que sofrem da Doença de Chagas, com a medição das defesas antioxidantes durante todo o tratamento, visto que todo processo inflamatório aumenta a produção de RLO e os medicamentos específicos também contribuem para isso.

Um terceiro projeto analisa os efeitos do tratamento com pó de tomate e extrato de goiaba, que são antioxidantes naturais, em animais obesos, uma vez que o aumento de gordura favorece o aumento de RLO, entre outros.

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