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Produtores de MS adotam boas práticas para uso racional da água

Bruna Girotto - 19 de fevereiro de 2015 - 15:50

Com o Brasil atravessando uma grave crise hídrica, provocada pela escassez e distribuição irregular das chuvas, o que afetou o abastecimento de água de algumas cidades, a geração de energia e ameaça a produção de alimentos, a discussão e a busca por alternativas para racionalizar o uso da água em todo o país se intensificou. Em Mato Grosso do Sul, o produtor rural e ex-presidente da Federação de Agricultura e Pecuária (Famasul), Leôncio de Souza Brito Filho, de 70 anos, adotou um conjunto de boas práticas em sua fazenda, como a conservação do solo com plantio direto, rotação de culturas, integração lavoura-pecuária e captação da chuva para uso no cultivo, entre outras, que fizeram dele uma referência no estado para o uso sustentável da água na agricultura e pecuária.

A propriedade de Brito Filho, a fazenda Laudejá, esta localizada em Bonito, a 350 quilômetros de Campo Grande. O município é um polo de ecoturismo em razão da beleza das águas cristalinas de seus rios e de atrativos mundialmente famosos, como a gruta do Lago Azul. Em 2013 ganhou o prêmio de melhor destino de turismo responsável do mundo (World Responsible Tourism Awards) e no ano passado recebeu mais de 500 mil visitantes, conforme a prefeitura.

Nesta cidade, em que a preservação de seus recursos naturais, em especial, os hídricos tem uma importância ainda maior, encravada aos “pés” da serra da Bodoquena, fica a fazenda do ex-presidente da Famasul. A propriedade, de 10 mil hectares, está em sua família há mais de 50 anos. De sua extensão total, cerca de 5,2 mil hectares são de áreas de Preservação Permanente (APPs), de Reserva Legal (RL) e uma parte aO produtor explica que no que se refere a quantidade de fontes de água, a propriedade possui uma condição privilegiada, mas que depende da estação de chuvas. Na extremidade norte esta o rio Laudejá, que diferentemente de outros cursos de água corre do campo para a serra, onde desaparece para ressurgir com o nome de rio Perdido. Ao sul esta a nascente do rio Branco. Além disso, conta ainda com um córrego intermitente, chamado de Juca, nas proximidades da sede. Todo esse potencial hídrico tem seu uso planejado nos mínimos detalhes na fazenda.inda pertencerá ao Parque Nacional da Serra da Bodoquena. Os outros 4,8 mil hectares são dedicados a produção agrícola e a pecuária de corte. Em cerca de um quarto da área, as duas atividades já estão integradas.
A calha subterrânea variável dos cursos de água, por exemplo, atende a sede e as casas dos funcionários. Um deles também é responsável pelo abastecimento de uma caixa de água de 20 mil litros que é usada para alimentar os bebedouros do confinamento do gado. Outra parte da água para os bovinos confinados vem da canalização do córrego do Juca e vai para um reservatório de 300 mil litros.

Na sede, a água chega até a caixa por meio de uma roda d’água, que é movimentada com a força da gravidade e declividade do terreno. Já para atender o confinamento o recurso natural utilizado para impulsionar a água é outro. Um catavento e duas motobombas, uma elétrica e outra a diesel, que é acionada em caso de falta de energia. A elétrica, calibrada para bombeamento de 5 mil litros com bóia automática, mantém o reservatório de 300 mil litros permanentemente cheio, o que evita o desperdício do precioso liquido.
Ainda na área do confinamento, onde faz a terminação de 1.200 cabeças em dois ciclos por ano, o filho do produtor, Leôncio de Souza Brito Neto, que administra a fazenda junto com o pai, substituiu as pilhetas de concreto com capacidade para 30 mil litros de água que atendiam simultaneamente animais de vários piquetes e que demandavam para a limpeza e manutenção o esgotamento total dos reservatórios, por bebedouros de metal, com capacidade de 500 litros cada. As novas estruturas otimizaram a oferta de água ao gado e reduziram o desperdício para a manutenção e limpeza.

Sempre com foco na sustentabilidade e melhor uso dos recursos a disposição, os dejetos produzidos pelos animais do confinamento são recolhidos e depois são utilizados como adubo para as pastagens (fertirrigação), onde esta o restante do rebanho do criador, que totaliza 6 mil cabeças. A aplicação ocorre em áreas específicas, previstas no licenciamento ambiental.

O produtor já planeja, a médio prazo, armazenar e utilizar na fertirrigação também das áreas de pasto, a água que escoa dos piquetes de confinamento, e que assim como os dejetos, é rica em nutrientes que podem ser absorvidos pelo solo, melhorando a sua fertilidade.

Para fornecer água aos animais que estão nas pastagens e também a outras áreas da propriedade, Brito Filho implantou ainda um sistema de captação da água do rio Laudejá. Com quatro rodas d’água, uma bomba acionada pela turbina e uma bomba elétrica, que fica de reserva no sistema, e usando as declividades do terreno e “tambores de distribuição”, criados por ele próprio a partir de botijões de gás vazios, para equilibrar a vazão, o liquido percorre quilômetros de encanamentos. No caminho passa por dez reservatórios de distribuição e armazenamento com capacidades que variam de 150 mil litros a 300 mil litros de água, até chegar aos pontos de consumo. O volume a mais que aciona as bombas mecânicas retorna para o rio.
Rodas d’água ajudam a impulsionar água do rio Laudejá para várias partes da fazenda (Foto: Anderson Viegas/Do Agrodebate)

Na área agrícola, o produtor pratica a agricultura de sequeiro, ou seja, sem o uso de irrigação. Os cultivos dependem do regime de chuvas da região para se desenvolver. Com a utilização desse sistema, ele adotou uma série de boas práticas para aproveitar ao máximo as precipitações. Faz os plantios utilizando sempre as curvas de nível, que diminuem a força das enxurradas, evitam a erosão e aumentam a umidade do solo, por impedir a descida rápida da água.

Também realiza a semeadura com o plantio direto, em que os restos da cultura anterior são deixados no solo, assegurando com essa cobertura a preservação da umidade, reduzindo a incidência de radiação e aumentando a matéria orgânica nas áreas. Adotou também a rotação de culturas e a integração entre a lavoura e a pecuária (ILP). Pela rotação, cultiva em cerca de 20% da propriedade, aproximadamente mil hectares, soja, entre outubro e fevereiro, milho com braquiária para a produção de silagem e grãos, entre fevereiro e julho, e deixa a pastagem para o gado no intervalo entre o outono e o inverno.

Com a rotação e a integração, Brito Filho aumentou a fertilidade, a quantidade de matéria orgânica e a porosidade do solo, tendo como resultado uma melhor absorção da água da chuva. Nessas áreas, o filho do produtor projeta que a produção de soja nesta safra (2014/2015) atinja entre 56 e 58 sacas por hectare, bem acima da média prevista para o ciclo em Mato Grosso do Sul pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que deve ficar em torno das 50 sacas por hectare.

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