Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Sexta, 26 de Abril de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

O recado de Cheida: Asas para quem sabe voar

Luis Eduardo Cheida* - 27 de julho de 2007 - 15:00

Ícaro era filho Dédalo, o homem que construiu o labirinto do palácio do rei de Creta, afim de aprisionar o terrível Minotauro, metade homem, metade touro.

Dédalo, porém, cometeu um erro: ajudou Ariadne, filha do soberano, a fugir com Teseu, o que provocou a ira real. Como punição, pai e filho foram atirados dentro do labirinto, no monte Egeu.

Ao pé do Egeu, o mar bravio. Acima dele, o céu inexpugnável.

No interior daquela prisão indevassável, Dédalo não se entrega. Projeta asas, juntando penas de aves caídas no chão e as fixa com cera, para que não descolem. Coloca-as em si e em Ícaro e o ensina a voar.

Antes do vôo final, porém, adverte-o:
- Filho, voe moderadamente. Não tão alto que o calor do Sol derreta a cera que cola as penas, nem tão baixo que as ondas do mar possam molhá-las.
Beijando-o, atira-se no precipício, seguido por Ícaro.

Dédalo voa moderadamente, passa por sobre as ondas revoltas e chega em terra, com segurança. Mas, enquanto salva a si, vê o filho voar para além de seus conselhos. Vê o Sol brilhando forte em suas asas, a cerra derretendo, o filho caindo ao mar.

Ícaro, deslumbrado com a bela imagem do Sol, voou em sua direção, inebriado pela súbita sensação de poder.
O pai consegui escapar. O filho morreu.

Foram as asas que mataram Ícaro?

Não, porque as mesmas asas salvaram o pai.

Como analogia, a essa estória tão conhecida, as asas projetadas são o produto da tecnologia. A tecnologia, manejada em respeito à natureza, salva o pai. Utilizada em desacordo com ela, tira a vida do filho.

O progresso tecnológico não precisa ser, necessariamente, ruim, devastador. O progresso pode ser bom, promover o desenvolvimento harmônico, reduzir as desigualdades e implantar a paz social. Os meios e objetivos com que é construído é que definem isso.

Entretanto, uma coisa vai ficando certa: o segredo da ciência, ou a ciência do segredo, é agir em acordo com a natureza.

Fora disso, é encrenca na certa.

O surrado dito popular, asas a quem sabe voar, certamente não foi cunhado pensando em ecologia, mas cai como uma luva quando se trata de botar nos trilhos a descarrilhada tecnologia.

Um forte abraço e até sexta que vem.


*Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná. Foi prefeito de Londrina, Secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

SIGA-NOS NO Google News