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O que pensa um economista sobre o Dia das Mães

João Mellão Neto - 08 de maio de 2010 - 06:42

Peço desculpas ao Júlio César Mesquita, meu chefe. Minha obrigação das sexta feiras é escrever sobre economia e política. Mas hoje, rompendo parcialmente nosso trato, arriscarei desenvolver um tema diferente.

Domingo é o Dia das Mães. Há quem torça o nariz a essa data, alegando ser ela uma jogada de marketing. Tanto faz. A data pode ser uma invenção do comércio, mas a minha mãe seguramente não é. Sinto-me no dever de homenageá-la e, através dela, a todas as mulheres, razão maior de nossa existência, sentido único de nossas vidas.

Depois de Deus, o único ser onipresente em nossas vidas é a mulher. Nascemos do útero de uma, morreremos nos braços de outra. Entre um evento e outro, em nome delas construímos a civilização. Seus desígnios, como o do Senhor, são imponderáveis. Nunca chegamos a compreendê-las. A natureza, para nosso alívio, nos poupou dessa missão impossível: cabe-nos apenas amá-las e respeitá-las.

Fui criado dentro da mística machista. Mas, confesso que através da vida, nunca presenciei nenhum fato que me provasse ser o homem realmente o sexo forte. Na escola, do primário à universidade, os primeiros dez lugares da classe, em notas, invariavelmente pertenciam às mulheres. O primeiro marmanjo vinha em décimo – primeiro, e, diziam as más línguas, ele não era tão marmanjo assim.

Pertenço à geração que, profundamente incomodada, assistiu à ascensão da mulher no mercado de trabalho. Dói-nos reconhecer, mas o fato é que elas são mais eficientes, esforçadas e determinadas do que nós.

Pobre do executivo que, em uma reunião de negócios, topa pela frente com um interlocutor do sexo feminino. A luta é desigual. Quando não nos fulminam com uma argumentação mais bem fundamentada (elas sempre estudam o ponto antes…), tratam de derreter nossa intransigência com um simples sorriso. Isso para não citar o extremo e desleal recurso da lágrima, sem dúvida, a mais poderosa força hidráulica jamais criada pela humanidade.

Apesar de sua inegável superioridade, ainda lhes reservamos, nas organizações, funções quase exclusivamente subalternas. Elas alegam que isso é chauvinismo. Talvez tenha sido, no passado. Hoje, infelizmente, é puro instinto de sobrevivência.

Se, aos poucos, vão nos superando no campo profissional, desde sempre nos suplantaram na política da vida. São biológica e afetivamente mais resistentes do que o homem: vivem mais tempo que nós e, o que é pior, são plenamente capazes de viver sem nós. Quem nos dera poder afirmar o mesmo!

A arena onde os dois sexos medem esforços é o matrimônio. O homem o procura em busca de carinho e sentido para a sua vida. A mulher, em geral mais prática, procura nessa aliança o ninho seguro para criar os filhos. Obviamente o poder de barganha do homem é muito menor. Acabam restando, nos dias atuais, apenas três tipos de casamento: aqueles que não dão certo; aqueles em que a mulher manda e aqueles em que o homem pensa que manda…

A mulher concebe, o homem não. E aí está, fundamentalmente, a diferença. Deus delegou a elas, e não á nós, o dom de reproduzir a vida. E nós nunca as perdoamos por isso.

Através dos séculos, as flagelamos, as dominamos, as submetemos justamente para que, dessa forma, pudéssemos camuflar a nossa revolta, a nossa frustração, o nosso inconsciente sentimento de inferioridade.

Impusemos a sua virgindade, exigimos a sua exclusividade, trancamo-las, a sete chaves, em nossos castelos. Elas, mais seguras, nunca nos reivindicaram nada disso. As mulheres multiplicam a vida, os homens só possuem a sua. A mulher, espiritualmente, é o maior e único tesouro do homem. Assim sendo, ela a guarda, esconde e trancafia. Abençoada ela que, mesmo na clausura, possui a luz para gerar, de seu próprio ventre, os objetos de seu amor.

A mulher, acima de tudo, é mãe. E não há palavra mais bela, mais suave e mais plena de conteúdo que lábios humanos sejam capazes de pronunciar. No pensamento de Khalil Gibran, o vocábulo “mãe” é tudo nessa vida.

Essa palavra, ao mesmo tempo pequena e imensa, significa o consolo na aflição, a luz na desesperança, a força na derrota; é o peito onde reclinamos nossa cabeça, a mão que nos abençoa, o olho que nos protege.

Quer o destino que nossas mães cruzem os portões do infinito antes que nós o façamos. E assim, por sabedoria de Deus, aprendemos a transferir todo o seu significado para nossas mulheres, que são mães de nossos filhos, que serão mães de nossos netos. Este é o sublime milagre da vida. Este é o sentido de nossa existência.

Meu caro Júlio Mesquita, perdoe-me por ter fugido aos temas usuais desta página. Não podia me furtar a fazê-lo. Acima da política, da economia e da nossa carreira, paira um símbolo maior que tudo. E todos nós, intimamente, esperamos poder repetir as palavras de Maurice Chevalier, já idoso, na última página de seu livro de memórias: “…Quando a Dama de Negro vier, poderei sempre embelezar o momento, imaginando que é minha mãe que me estende os braços dizendo: – Trabalhaste bastante…vem, meu filho…que agora eu cuido um pouco de ti”.

Artigo publicado no jornal “O Estado de São Paulo” em Maio de 1989.

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