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Nelson Valente: Todos os causos de Jânio Quadros

21 de julho de 2009 - 08:35

Para o leitor que perdeu um "causo" sobre Jânio Quadros, anotados por Nelson Valente, o Cassilândianews resolveu republicar todos. Acompanhe:

JÂNIO É UM LOUCO QUE SE JULGA JÂNIO

(*) Nelson Valente

Lecionava Português e Geografia no Colégio Dante Alighieri. Bom professor, mas exigente: os cadernos dos alunos tinham de estar sempre em dia e bem cuidados. Certa vez, um estudante apresentou um caderno rabiscado e rasurado. O professor perdeu a paciência: - Retire-se. O aluno embaraçado fez menção de sair pela porta. O professor atalhou-o, ríspido: - Pela janela. O senhor não é digno de cruzar essa porta.





NOVA FUNÇÃO

Presidente, Jânio Quadros vai ao Rio abrir uma exposição de pintores argentinos no Museu de Arte Moderna. Compromissos em Brasília, porém, fizeram com que Jânio atrasasse sua chegada. Duas horas depois do previsto, o Presidente chega ao museu.
Cerimônia concluída, na saída do Museu um funcionário consegue driblar a segurança e se aproxima de Jânio. Humildemente, cumprimenta o Presidente, pede um autógrafo e emenda a explicação para o gesto:
- Presidente, preciso do autógrafo para me justificar em casa. O senhor atrasou muito e passei da hora do almoço em casa. A patroa não vai acreditar que eu estava trabalhando. Ela anda muito desconfiada. Só o senhor pode me ajudar.
Jânio deu uma gargalhada, autografou uma folha de caderno e, novamente, com o semblante sério, fez a brincadeira:
- Tudo bem, compreendo seu desespero. Concordo que é preciso tratar bem as mulheres. Mas é a primeira vez na vida que sirvo de relógio de ponto.





JÂNIO E AS UVAS


A Festa da Uva, tradição da cidade gaúcha de Caxias do Sul, começou na capital do Estado, quando o Viscount presidencial ali aterrissou, conduzindo Jânio Quadros, D. Eloá e sua comitiva. O percurso para Caxias foi feito por estrada de rodagem. Trabalhadores e camponeses, enfileirados nos dois lados da rodovia, saudaram o Presidente da República com tão entusiásticos vivas e palmas que quase lhe arrancaram lágrimas de emoção. O encontro entre Jânio Quadros e Leonel Brizola resultou mais proveitoso e cordial do que imaginavam os políticos de todos os partidos. D. Eloá, descendente de gaúchos, percorreu demoradamente a exposição e recebeu as homenagens das moças que enfeitavam os stands.
- A presença de Vossa Excelência nesta solenidade restabelece a tradição do comparecimento do Presidente da República à celebração da Festa da Uva de Caxias do Sul.
Com estas palavras, o governador Leonel Brizola saudou o presidente Jânio Quadros no momento em que era inaugurada a Exposição Agro-Industrial daquela cidade. As importantes conversações políticas, horas depois mantidas entre o presidente e o governador, desenrolaram-se à margem de uma das festas populares mais bonitas do Brasil. Na semana da Festa da Uva, as grandes colinas cobertas de vinhedos que rodeavam a cidade pareciam ser transplantadas para o Centro de caxias. Toneladas de uvas faziam o cenário de fundo para louras moças que, no recinto da exposição, enfeitavam os stands dos vinicultores. Estes eram os industriais mais orgulhosos do brasil. Seus produtos adquiriram um importante papel na economia do País e estavam sendo exportados. Um capítulo à parte das alegres comemorações era a eleição da Rainha da festa. Helena Luiza Robinson, no momento em que era coroada, ouviu a piada de Jânio: - É uma uva!





Gentileza

Pouco antes do início de uma das reuniões ministeriais foi servido o clássico cafezinho. Jânio Quadros estava sentado à cabeceira da grande mesa, enquanto alguns ministros, ainda de pé, trocavam idéias.
O ministro do Exterior, senador Afonso Arinos, deixou, sem o querer, cair do pires a colherinha do cafezinho.
Jânio Quadros não se dando por achado, levantou-se e, numa atitude elegante, apanhou do chão a colher, devolvendo-a ao ministro.
O ministro Afonso Arinos, perturbado com a gentileza do Presidente, agradeceu, dizendo:
- Vossa Excelência embaraçou-me. Fez-me lembrar aquela história do poderoso imperador, que estava sentado retratado pelo pintor. Este, inadvertidamente, deixou escapar das mãos o pincel. O imperador, imediatamente, levantou-se de onde estava e ergueu, pressurosamente, o pincel do artista.
Jânio Quadros então, redargüiu :
- Foi uma honra para o imperador...








Cego
Além de presentear Jânio com uma carabina automática de alta precisão, a delegação russa também lhe deu um litro de vodka genuinamente russa, o que levou o presidente a fazer o seguinte comentário:
- A vodka foi inventada pelos comunistas, mas por outro lado não deixa bafo, mas deixa cego...


GALOS COMBATENTES

A Sociedade Criadora de Galos Combatentes de Governador Valadares, no Estado de Minas Gerais, enviou representação ao presidente Jânio Quadros, através da qual pleiteava a revogação ao decreto que proibiu, em todo o território nacional, as rinhas de galo.
Diante do ofício da entidade de "galos combatentes", que sublinha tratar-se as rinhas de "esporte dos reis", o chefe do governo exarou o seguinte despacho:
¬- Indeferido. Exatamente o que o Governo deseja é que não haja galo combatente. 24.07.61 (a) J.Quadros.







Luzes

Como era habitual, faltou energia elétrica no Palácio do Planalto. O Gabinete de Jânio Quadros ficou às escuras.
Imediatamente, o primeiro subchefe do Gabinete Civil, deputado Araripe Serpa e o segundo subchefe, prof. Ademar Martins, apareceram munidos de lampiões e faroletes, o que fez Jânio Quadros comentar:
- Eu sempre disse que este governo era um governo de muitas luzes...


Ameaça

Quando se preparava para uma das suas visitas a São Paulo, Jânio Quadros recebeu uma série de telegramas denunciando o preparo de atentados contra sua pessoa. Depois de tomar conhecimento das denúncias, o Presidente chamou um oficial do seu gabinete e deu a seguinte instrução:
- Procure o General, Chefe da casa Militar, e diga-lhe para que providencie o adiamento da execução.


Presente

Durante uma reunião, o padre Palhano, prefeito do município cearense de Sobral, ofereceu a Jânio Quadros dois presentes: uma rapadura e uma garrafa de cachaça. O secretário particular, José Aparecido de Oliveira, disse gostar de uma ou outra coisa ganha pelo presidente:
- Tome a cachaça, Zé - disse Jânio Quadros. A rapadura, porém, eu não entrego...


Promovido

Um dos motores do Viscount presidencial enguiçou na hora da partida de Jânio Quadros em Congonhas, com destino ao Rio de Janeiro. O presidente não escondeu sua inquietação ao seu piloto, o tenente-coronel Agenor de Figueiredo. Meia hora depois, o avião levantou vôo em condições normais. Quando chegou no Rio de Janeiro, o presidente desceu as escadas e, dirigindo-se ao tenente-coronel, fez questão de cumprimentá-lo e dele despedir-se, mostrando que não esquecera o imprevisto de Congonhas:
- Muito bem. Muito obrigado, brigadeiro.





Bigode

Tomando conhecimento pelos jornais do Brasil, das notícias de que havia raspado o bigode, o presidente Jânio Quadros enviou, do hospital em que se achava internado, operado que fora da vista, o seguinte telegrama ao Chico Quintanilha:
"Bigodes intactos. Possivelmente à custa cabelos arrancados
adversários. Não há Dalila que os possa aparar."




Numa das várias visitas que fez a Jânio Quadros, D. Helder Câmara, teve a ocasião de trocar idéias sobre as relações do Brasil com os países da cortina de ferro. O cordial debate prosseguiu até a análise das vantagens e desvantagens, por exemplo, do comércio do café com aquela parte do mundo. O que levou a Jânio Quadros, com humor, indagar ao cardeal:
¬- Mas, Eminência, o Vaticano compra café?



Funcionamento

Decepcionado com o não funcionamento do hospital IPASE, em São Luiz (Maranhão), quando de sua visita ali, Jânio Quadros enviou ao presidente da autarquia o seguinte bilhetinho:
" Determino o funcionamento imediato do Hospital São Luiz. Caso não esteja funcionando, em 48 horas, tenho notícias a dar ao presidente do Instituto."


Rumores

Sobre rumores de crise ministerial, face a demissão do ministro Clemente Mariani, da Fazenda, Jânio Quadros dirigiu um bilhete ao seu secretário particular José Aparecido de Oliveira:
"Aparecido:
Leio num jornal que o Ministério está em crise...
Veja se localiza para mim.
Leio, também, que recebi, da Fazenda, um bilhete enérgico.
Desminta. O Ministro é educado bastante, para não o escrever ao Presidente.
E o Presidente não é educado bastante, para recebê-lo...
Assinado – Jânio Quadros
09/08/1961"


Faca gaúcha

Acompanhada de carta, Jânio Quadros recebeu, do Sul, de Duílio Giacomazzi, uma faca bem gaúcha de presente. O presidente agradeceu com o seguinte bilhete:
Prezado Sr. Duílio:
Abraços
Obrigado pela faca, bem gaúcha, que me enviou.
Asseguro que irei usá-la, até o cabo, para não anular a minha vantagem
Em uma eventual briga...
Assinado – Jânio Quadros em 23/02/1961"


Cartas

A "eficiência" do Correio Nacional até mesmo em Brasília, provocou do Presidente o seguinte bilhete ao diretor daquele Departamento:
"Senhor Diretor Geral:
Tenho notícias de que carta ou cartas a mim dirigidas foram restituídas à
Origem por não conhecerem, os Agentes do Correio, o meu endereço. Fico sabendo agora, que o mesmo sucedeu com o Sr. Oscar Niemeyer. Admito que os servidores ignorem quem somos e onde moramos, mas sugiro a Vossa Excelência recomendar, nesses casos semelhantes, interesse maior dos serviços, na identificação e localização dos destinatários.
(a) Jânio Quadros"


O relógio

O presidente Jânio Quadros era sempre o primeiro a chegar ao Palácio Itamaraty: às 6 da manhã já estava esperando pelos governadores junto ao lago do jardim. O presidente aprovava as reivindicações com um lápis vermelho e vetava com um lápis preto. Na sua frente, haviam 5 lápis vermelhos e apenas 2 pretos...
Na sessão de encerramento, o governador Celso Peçanha chegou 20 minutos atrasado. Sentou-se a mesa e, depois, reparando que não falara com ninguém, levantou-se e foi cumprimentar o Presidente. Jânio esticou a mão direita e com a esquerda puxou o relógio do bolso, não dizendo absolutamente nada.


Milagre

No discurso que pronunciou perante os delegados regionais do Imposto de Renda, reunidos no Palácio do Planalto, Jânio Quadros declarou que esperava "um verdadeiro milagre" desse setor fazendário. E quando terminou a cerimônia, disse ao professor Antônio Calderelli, diretor do Imposto de Renda de São Paulo:
- Aí está, meu amigo. Referi-me a você, milagreiro.



Paz

Um grupo de silvícolas Xavantes, maltrapilhos, procurou o Presidente para dizer da incompreensão geral para com eles, nas cidades, especialmente pela Polícia. Pediram, em conseqüência, um salvo conduto para poder exercer o direito constitucional de ir e vir.
E o bilhete saiu "para quem interessar possa":
"Os índios Xavantes, de Mato Grosso, estiveram em meu Gabinete.
Agradeço as atenções que recebam, de quaisquer autoridades.
São assim civilizados que nada pedem, a não ser que os brancos os deixem em paz.
23.03.61 (a) J. Quadros"


Apostas
Não foram poucas as críticas sofridas por Jânio Quadros pelo fato de disciplinar as corridas de cavalos. Mas, também recebeu aplausos, inclusive de juizes dos nossos tribunais, através de telegrama.
- O Brasil carece de mais escolas e menos cavalos... – comentou Jânio Quadros e, acrescentou – há onagros que apostam nos cavalos.
Obs.: onagros = sinônimo de burro.


Políticos astronautas

José Le Senechal, inventor, convidou Jânio Quadros a integrar a tripulação do primeiro disco voador concebido pelo seu engenho e arte. Num atencioso bilhetinho, o Presidente agradeceu a distinção que lhe fora conferida e disse ao inventor, entre outras coisas mais ou menos siderais, o seguinte:
- Já me imagino voando para outros mundos e tenho a convicção de que eles não poderão ser piores do que este em que vivemos.
Acrescentou que uma tal viagem daria prazer não só a ele como a muitos políticos...



São José

Respondendo à sra. Albertina Krumel Maciel, de São José, Santa Catarina, que lhe pedira a contribuição de um tijolo para o Hospital de Santo Antônio, cuja construção patrocina, em pagamento de promessa que fizera ao Santo pela vitória de seu candidato, Jânio Quadros enviou-lhe a importância de Cr$ 500,00 com o seguinte bilhetinho:
"Sra. Albertina:
Saudações
Agradeço sua carta e os votos que fez pela minha eleição. O fardo é tão pesado que hesitei, não sabendo, por alguns minutos, se deveria agradecer ou zangar-me.
Junto quinhentos cruzeiros para o Hospital de Santo Antônio.
Não sou mais rico do que o grande padroeiro o foi.
Do,
(a) J. Quadros"






Pinel e cadeia
O candidato, Adhemar de Barros, sempre marcava seus comícios numa cidade antes de Jânio Quadros. Certa feita, os dois grupos se encontraram em Moji-Guacú – SP. Meu pai ( Rafael Orlando Valente) era escrivão de polícia nesta cidade e ademarista roxo e como de costume também fazia discurso em favor do velho Adhemar e contra o candidato Jânio Quadros.
Os janistas da cidade foram ver o comício de Adhemar. O candidato com os punhos fechados, adjetivos enfáticos, gestos agressivos começou a discursar:
- Entre as várias obras que fiz em São Paulo está o Pinel, hospital de loucos.Infelizmente, não foi possível internar todos. Um desses loucos havia escapado e fará comício nesta mesma praça amanhã.
Para delírio do povo (ademarista) a gargalhada era geral.
No dia seguinte, Jânio Quadros é recepcionado na cidade com banda e a famosa música “ Varre ,varre , vassourinha” e as normalistas da cidade empunhavam a vassoura que iria varrer a corrupção numa evolução jamais vista e impressionante. O Cel.Jayme dos Santos relatou tal acontecimento das táticas do candidato Adhemar , após ouvir seguiu para a Praça e dirigindo ao palanque que estava instalado no centro da Praça. Após alguns segundos de silêncio e com calma faz um relato do velho mundo, conta algumas histórias sobre o período republicano e dá o troco:
- Quando fui governador de São Paulo, construí várias penitenciárias, mas não foi possível trancafiar todos os ladrões. Um escapou e fez um comício aqui mesmo nesta praça ontem.
A gargalhada ultrapassou as cidades circunvizinhas da nossa querida hinterlândia.








Intimidades
O Prefeito Jânio Quadros, em 1987, dava entrevistas para os jornalistas sobre a sua administração ( sobre a polêmica dos homossexuais do Teatro Municipal ), quando uma jovem jornalista de um determinado jornal de primeira linha o interrompeu:
- Você é contra os homossexuais? Você vai exonerá-los?
O ex-presidente não gostou de ser tratado de “você” e deu o troco:
- Intimidade gera aborrecimentos e filhos. Com a Senhora não quero ter aborrecimentos e, muito menos filhos. Portanto, exijo que me respeite.


Animais

A sra. Carmem, que dirigira apelo ao chefe do governo em favor das sociedades protetoras de animais, sugerindo a criação de um departamento de defesa dos irracionais, o presidente Jânio Quadros enviou o seguinte bilhete:
"Minha amiga:
Seu apelo, em favor dos irracionais, encontra-me às voltas com terríveis problemas de amparo e proteção a outra raça tão digna, entre nós, de cuidado, a dos racionais."


Adão

O agricultor Antenor Vieira Borges, residente em Santa Catarina e que mandou ao Presidente Jânio Quadros um maça de 850 gramas, colhida em sua plantação, recebeu o seguinte bilhete do Presidente da República:
"Prezado Antenor:
Abraços. Recebia maçã de 850 gramas, que você enviou, produto da técnica e das terras catarinenses. Um colosso! Não há Adão que resista a essa fruta."


Justiça

Luiz Mazzuchelli, de Matão, São Paulo, aos 14 de maio de 1961, enviou a Jânio Quadros uma sentida carta em que apelava para os bons ofícios do Presidente, dada as suas parcas posses, no sentido de obter a sua naturalização. Sendo italiano, com 62 anos de idade, viveu toda a sua vida no Brasil, pois veio para cá desde o primeiro ano de idade.
O bilhetinho urgente, saiu para o ministro Pedroso Horta:
"MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
Excelência
1) Estudar este caso. É humano e de justiça.
2) Urgência no estudo. Trata-se de cidadão de idade avançada, que deseja morrer com a honra de ser brasileiro legalmente, porque, de fato, ele já o é.
(a) J. Quadros"




Língua inglesa

De Saul J. Marcus, Jânio Quadros recebeu a seguinte carta:
"Permita-me tomar um minuto do seu precioso tempo, a fim de oferecer-lhe os meus serviços como professor de inglês. Sou norte-americano nato, resido há 7 meses em Brasília e tive a satisfação de ter o primeiro curso de inglês no Plano Piloto. Entre os meus alunos conta-se o Sr. Deputado André Franco Montoro, que me falou no seu possível interesse pela língua inglesa.
À inteira disposição de V. Exa., no endereço abaixo, firmo-me atenciosamente,
(a) Saul J. Marcus"
O Presidente respondeu nos seguintes termos:
"Prezado Sr. Saul J. Marcus
Saudações
Agradeço os serviços que me oferece na condição de professor da língua inglesa. Não preciso, contudo, dessas aulas, até porque todos me entendem quando me expresso em inglês.
Minhas dificuldades são outras: nem todos me entendem na língua portuguesa, o que leva muita gente às interpretações mais extravagantes e desabusadas do que digo ou escrevo, e, aí, o Sr. não poderá ajudar..."



Bang

Depois de comunicar ao Presidente ser ele sócio honorário do Club Estern de Cinema, de Salvador – Bahia, os diretores da entidade - prof. Adroaldo Ribeiro Costa, Bel. Luiz Eugênio Tarquinho, Bel. Ary Guimarães, Dr. José Berbet de Castro e Bel. Rômulo de Almeida - informaram "que nesse negócio de cinema parece que há mais bandidos que artistas!" E explicam a odisséia do clube: começaram bem, exibindo os filmes de "mocinho", com os seus tradicionais "bang-bangs", mas de uns tempos para cá uma entidade denominada Associação Brasileira de Cinematografia, dirigida por Harry Stone, proibiu - ao que dizem - o aluguel das películas, apesar dos apelos que lhe foram dirigidos pelos interessados.
O presidente Jânio Quadros, ante o documento, exarou o seguinte despacho ao seu secretário particular:
- Aparecido: veja quem é o bandido nesta história, e BANG!


Noticiário
Este bilhete provocou uma das mais sérias reações contra o Governo Federal. Foi através dele que a Rádio Jornal do Brasil se viu suspensa por três dias. Pela primeira vez se punha em prática antigo preceito legal que figurava como letra morta no papel:
"MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
Excelência:
1) No noticiário das 7:55h no dia 3 do mês corrente, a Rádio Jornal do Brasil transmitiu notícia inverídica, com dois aspectos gravíssimos:
a) envolvendo as relações entre o nosso País e outro Estado Americano;
b) podendo provocar intranqüilidade nas Forças Armadas.

2) Em conseqüência, adote Vossa Excelência as providências necessárias para suspender aquela Emissora por três (03) dias.
(a) J. Quadros - 05.06.1961"




Tito

Tinha o Presidente da República conferenciado com o Embaixador da Iugoslávia. Minutos depois, na sala ao lado, percebeu ele que, pelo telefone, alguém se anunciava a um seu oficial de gabinete como Tito.
- Tito? Que Tito? - perguntou o Presidente.
- Já está aí?
Tito era um fotógrafo que conversava com o auxiliar do Presidente.




Homenagem

O Maestro Archando Manzo, de São Paulo, enviou ao Presidente, uma música de sua autoria, como homenagem. Recebeu de Jânio Quadros o seguinte bilhete:
"Maestro:
Recebi o seu "Dobrado", com o meu nome. Muito obrigado. Constituiu para mim, creia, motivo de satisfação.
Não entendo de notas musicais. Meu conserto é outro. Com "S". E ainda que aprecie imensamente os com "C", o "S" dos meus consertos, na maior das vezes, depende de traços verticais em seu centro...
Vou enviar o dobrado "Jânio Quadros", de sua autoria, a uma das nossas gloriosas corporações musicais militares. Observo que o "Jânio Quadros", afinal, não é assim tão barulhento.
...
Felicidades, meu amigo. E muito obrigado uma vez mais.
(a) J. Quadros"



Beleza

Ao passar pelo Maranhão, ouviu a crítica segundo a qual era muito feio para ser Presidente da República. Jânio Quadros explicou à eleitora:
- Mas minha senhora, nós não estamos num concurso de beleza.



Imperador
Jânio Quadros caminhava pelos corredores do Palácio do Planalto quando foi abordado por um auxiliar, dos mais bajuladores.
O funcionário começou a fazer comentários sobre Napoleão Bonaparte, tentando criar uma semelhança entre o imperador francês e o Presidente.
Incomodado, Jânio deu logo o corte: - Por falar em Napoleão, onde será que deixei meu cavalo branco?




Em posição de sentido

O telex do gabinete do Presidente transmitiu:
"Uma mensagem para o Exmo. Sr. Presidente. Posso passar?"
Resposta de JQ: "Pode"
Mensagem:
"Sensibilizado, agradeço a V.Exa, as felicitações pela passagem do meu aniversário. Respeitosas saudações. General Nilo Guerreiro, Comandante da Segunda Região Militar."
E perguntou o operador do telex:
"Quem recebeu? Foi transmitido pelo sargento Gonçalves."
JQ, então respondeu pelo telex:
"Obrigado, sargento. É o próprio Presidente. Jânio Quadros."
E o telex, mais que depressa:
"Muito grato, Excelência. Estou em posição de sentido!" ...





Colega

O próprio presidente Jânio Quadros, às vezes transmitia seus bilhetinhos para os ministros por meio do aparelho de Telex que mandou instalar em seu gabinete, ligado diretamente com os Ministérios em Brasília e no Rio de Janeiro. Ele mesmo datilografava os "memorandos".
Transmitiu ele um bilhete para um ministro e na mesma hora recebeu a seguinte resposta, pelo telex:
"Prezado colega. Não há mais ninguém aqui."
Ao que o presidente respondeu:
"Obrigado, colega. Jânio Quadros."
Do outro lado do fio, porém, o outro não se perturbou:
"De nada. Às ordens, John Kennedy..."







RENÚNCIA, SEMPRE A RENÚNCIA

Na intimidade, Jânio suportava conversar sobre a renúncia, assunto explosivo se provocado em público ou em ambiente com muitas pessoas. Um dia, aos próprios amigos, que insistiam em fazê-lo confessar algo mais do que a explicação que dava, respondeu com surpreendente calma:
- A verdade sobre a renúncia vocês já sabem. Se quiserem ingressar na ficção, conversem com o Vladimir Toledo Piza, que tem mais de dezoito versões. Escolham uma delas.






FRASES

"De que importam as legendas neste país? O que significam elas? Têm conteúdo programático, ideológico ou filosófico?"
Jânio, sobre os partidos, em 01/11/1981


"O trabalhador que me elegeu, humilde e sofredor, não me sujeita a qualquer partido, a qualquer indivíduo. Sujeita-me tão só e exclusivamente ao bem comum."
Sobre sua relação com os partidos, em 1954


"Senhor presidente. Se a providência na sua misericórdia houver por bem dar alento, saúde, aqui estarei no final do mandato para transmitir, ao sucessor que o povo m der, os símbolos da autoridade."
Ao receber a faixa presidencial das mãos de Juscelino Kubitschek, em 31/01/1961


"A conspiração está em marcha, mas eu não vergo."
Sobre a elaboração de um manifesto contra sua política externa, em 25/08/1961


"Falei em forças terríveis, porque ocultas não foram."
Em entrevista ao Pasquim, em 1979

"Disse aos que me cercavam: não nasci presidente, nasci livre e com consciência. E fui para casa."
Sobre a renúncia, em 25/08/1976

"Eu fui presidente do Brasil e falhei."
Em entrevista ao "O Globo" em 09/08/1968
Se eu tivesse repartido o governo, teria ficado não cinco, mas dez anos na Presidência da República."
Sobre a Renúncia, em 08/08/1980


"Minhas memórias não virão tão cedo pelo menos enquanto alguns cavalheiros estiverem vivos."
Em 29/03/1983

"Vivo um desquite permanente com o poder."
Em 02/09/1987
"Quero me livrar disso logo."
Sobre a política, em 02/09/1987


"Estou pronto a colaborar se a nação reencontrar-se a si mesma."
Após desistir de concorrer à Presidência, em 05/06/1989


"Não mudo minhas decisões jamais. Nem se Deus me pedisse pessoalmente."
Em 16/11/1988


"Já prestei todas as declarações possíveis sobre isso. Quem afirmar que eu tenho depósitos fora pode ficar com eles. Faço uma declaração de doação."
Sobre a denúncia de que teria contas no exterior, em 18/08/1989


"Não tenho nada a ver com esse rapaz."
Sobre o candidato Fernando Collor de Mello, em 05/06/1989


"Sobre mim inventaram de tudo, até que atravessei o Mar Egeu nadando."
Em 06/04/1989


"Não tenho nada a ver com a opinião pública. Não tenho nenhuma satisfação a dar."
Em Nova York, sobre sua ausência da Prefeitura, em 25/11/1988


"Se a democracia correr perigo, saio candidato."
Sobre a possibilidade de disputar a Presidência, em 22/11/1989


"Dos meus concorrentes, o único que tem programa é o Silvio Santos."
Em 11/03/1989


"Eu não posso impedir que velhinho nenhum, apoiado em bengala, seja candidato."
Sobre a candidatura de Ulysses Guimarães à Presidência, em 25/01/1988


"Apoio Ulysses Guimarães para presidente mesmo que tenha que sair das sepulturas."
Em 14/11/1988


JÂNIO E A RENÚNCIA - VÁRIAS EXPLICAÇÕES

"No documento (da renúncia), acusei as "forças terríveis" que me pressionaram. Lembro-o porque as "forças ocultas", que me foi atribuída, corre por conta dos interesses dos grupos que castiguei, procurando rasgar outros rumos, locais e cristãos, para a nossa pátria. Essas forças, às vezes, poderiam aparecer mascaradas, mas ocultas não o eram. Não quis, no meu benefício, rasgar a Constituição – embora anacrônica – dissolver o Congresso – embora deformado pela lei eleitoral e quase inoperante – lançando nosso povo à inevitável guerra civil. Sacrifiquei-me sem hesitações."
Carta ao General Castelo Branco, em 1964


"Há quem diga que eu estava embriagado (quando renunciou). Eu passei sete meses em Brasília tomando ocasionalmente cerveja e vinho nacional no almoço."
Agosto de 1976


"Porque, ó Deus do Céu, todos os lobos saíram do covil para me morder na planície (sic) e eu já não estava lá em cima."
Sobre as infâmias que sofreu depois da renúncia


"Governar, então, no regime que me elegeu, dando-me, na vice-presidência, ao mesmo tempo, um adversário que era inimigo, era jogar nos dados a honra da República e de seus filhos."
Novembro de 1978


"Se houve golpe, eu não o comuniquei a nenhum militar. A Presidência da República não me deu nada. Pelo contrário: andou me tirando. Lá furtaram-me um terno, uma camisa e um par de sapatos."
Fevereiro de 1978


"Deixei o governo porque não podia ser presidente. Como podia governar com o embaixador americano ameaçando-me em meu gabinete, pedindo uma brigada para invadir Cuba."
Universidade Mackenzie, em agosto de 1982
"Renunciei porque não gostava da comida do Palácio."
Disse J. Quadros aos berros, em setembro de 1982


"Por alguns segundos pensei em fechar o Congresso. E ter-me-iam bastado um cabo e dois soldados."
Agosto de 1985

"Eu só tomei conhecimento disso (que a Câmara ia transformar-se em Tribunal Regional de Inquérito) quando cheguei ao Palácio, cerca das sete horas da manhã. Então tinha duas hipóteses: 1) fechava o Congresso, o que seria fácil, mas teria conseqüências imprevisíveis. 2) renunciava ao poder, já que tinha tido a minha autoridade alcançada. Cair à frente do Congresso Nacional de joelhos eu nunca faria, porque significava abrir o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal à voracidade da politicalha que (ele, Jânio da Silva Quadros) vencerá nas eleições."
Agosto de 1985

"Renunciei porque entendi que não podia cumprir meu dever. De maneira que foi o mais nobre e altruísta gesto da minha vida, que irá me consagrar como um êmulo de Deodoro da Fonseca e de Rui Barbosa."
Agosto de 1986








Epidemia

Prefeito de São Paulo, 1986, Jânio Quadros notou que o Departamento Médico estava concedendo licença a granel. Irritado, Jânio publicou o seguinte bilhete no Diário Oficial do Município:
"Sr. Secretário:
Verifique se há alguma epidemia que acomete o
funcionalismo público municipal.
(a) J. Quadros"




Opinião importante

Jânio Quadros em uma de suas viagens a Londres, para um turismo de observação (projetos especiais para a cidade de São Paulo, ex.: ônibus, obras e garagens). Retorna ao Brasil com a barba crescida semelhante a usada pelo presidente norte-americano Abraham Lincoln, a quem sempre admirou.
O jornalista da Folha de São Paulo, Paulo Cerciari, elogiou Jânio Quadros:
- Presidente, o senhor fica bem de barba!
Jânio deu alguns passos, parou, pensou e disse:
- O senhor acha? Eloá também gostou. E continuou a caminhar. Não satisfeito, para e complementa:
- Só que a opinião de Eloá é mais importante do que a do senhor.
Boas gargalhadas foram dadas pelos jornalistas que ali estavam a espera do ex-presidente Jânio Quadros.



Banana

Na eleição para a Prefeitura de São Paulo em 1985, contra o hoje presidente Fernando Henrique Cardoso, Jânio Quadros usou quase todos os truques que aprendeu em sua vida política.
Janista histórico, o ex-vereador Aurelino de Andrade convidou Jânio para ir ao populoso bairro de são Miguel Paulista, na zona leste da cidade.
A visita começou com uma feijoada acompanhada de caipirinha na casa da irmã de Andrade. No final, Jânio não resistiu e pediu uma cama para cochilar. Jânio acordou, já atrasado, às 18 horas. Levantou, vestiu o terno amarrotado e, para surpresa de todos, pediu uma banana, que colocou no bolso.
No início do comício, Jânio Quadros falou:
- Político brasileiro não se dá ao respeito. Eu não. Desde as 7 horas da manhã estou caminhando por este bairro e até agora não comi nada. Então, com licença.
Jânio tirou a banana do bolso e a devorou, sob ovação da massa.





SEM EXCEÇÕES

Uma das entrevistas de Jânio Quadros à Rádio Bandeirantes de São Paulo, comentando sobre sua vida política pós-renúncia.
O jornalista José Paulo de Andrade teceu comentários a respeito de seu desafeto, Sr. Carlos Lacerda, no episódio em que Jânio teria colocado a bagagem do então governador da Guanabara na rua, Jânio confirma, descreve e argumenta:
- Vejamos, abrir uma exceção ao governador em questão, abriria também para outros governadores, prefeitos de cada capital e seus vereadores, deputados estaduais e deputados federais, prefeitos de todos os municípios brasileiros como também os vereadores. Tenho a nítida impressão que o Palácio seria uma grande estalagem ou um grande hotel, por isso coloquei seus objetos pessoais na porta do palácio, pois abriria uma perigosa exceção como se lá fosse a Meca brasileira.






DEPOIMENTOS:

-”Jânio foi importante para a história do Brasil, pela carreira política sempre fortalecido no voto popular. Dos presidentes que conheci, foi de longe o mais inteligente e o mais estadista, embora em cultura geral e em amor pela coisa pública.”
Saulo Ramos (ex-ministro da Justiça e amigo pessoal de Jânio Quadros).



-”Jânio foi o protagonista de um dos mais importantes episódios da história política do País; a chamada revolução pelo voto. Ele havia sido um bom governador de São Paulo. Quando foi eleito, o sentimento de mudança era profundo. Sua renúncia frustrou todo esse sentimento.”
Mário Covas (ex-governador do Estado de São Paulo)

-”Foi uma personagem que preencheu, num dado momento, um vácuo a partir da política de São Paulo. Não mais que isto. Preencheu um vazio na vida brasileira que se gerou com a morte de Vargas. Mas teve uma experiência fugaz. Aqueles sete meses foram muito passageiros.”
Leonel Brizola (ex-governador do Rio de Janeiro)

-”Jânio Quadros foi o precursor da modernidade no Brasil. Ele foi o primeiro a falar em equilíbrio orçamentário, austeridade, rigor nas contratações do serviço público, nos gastos públicos, bandeiras até hoje usadas. Os discursos de hoje são repetições do que Jânio falava há 30 anos: reforma administrativa, redução do déficit público e defesa da desestatização.”
Gastone Righi (deputado federal/PTB-SP)

-”Jânio refez a linguagem política. Ao invés da palavra e do argumento, agora manejava símbolos e emoções... (sic) Pena que essa capacidade tenha sido pouco utilizada em benefício do povo, que ele soube manipular como ninguém.”
Fernando Henrique Cardoso (presidente da República/PSDB-SP)


-”Presidente dinâmico e honesto, que sabia trabalhar de igual para igual. Um dos donos do mundo, recusando ostensivamente, se necessário, suas pretensões políticas e econômicas.”
Oscar Niemeyer (arquiteto)


-”É aquele que poderia ter sido e não foi.”
Darcy Ribeiro (antropólogo e senador)




-”Ele inaugurou um novo tempo. Na política, na linguagem e na comunicação. Ele lutou para colocar o Brasil no primeiro plano mundial. Jânio se elegeu derrotando não só os partidos dominantes, mas a maioria dos deputados e senadores. É o único na história contemporânea que só foi mandatário do povo”.
José Aparecido de Oliveira (ex-governador do Distrito Federal e ex-secretário particular de Jânio)


-”O presidente Jânio Quadros teve duas marcas: a força de uma liderança carismática sem paralelo no País com o poder mágico de comunicação com a massa e a pobreza de estadista que o levou à renúncia.”
Cláudio Lembo (vice-governador de São Paulo) é o único político que conhece com profundidade a história das ”cartas-renúncia” da capital da República; desde Jânio Quadros, Auro de Moura Andrade e João Belchior Marques Goulart.

- ”Analisar Jânio é tentar verificar o que estava verdadeiramente por trás de palavras, gestos e entonações. Sempre soube dominar de maneira inteligente os recursos comunicacionais de que dispunha. Um verdadeiro artista.”
Geraldo Alckmin ( Governador do Estado de São Paulo)

Amigo da onça

O prefeito de Itanhaém, enviou ao governador Jânio Quadros um filhote de onça, dizendo ser o bichinho, meigo, mansinho e amigo, “ apesar de onça”.

O governador não teve dúvidas: enviou este bilhetinho ao prefeito:

“ Prefeito:

Muito grato pelo bicho. Vou estudar os pulos que dá...”.





Linguagem secreta de Jânio

Dirigindo-se ao professor Carvalho Pinto, num processo contendo informações sobre a operação financeira pela qual o Estado passaria os estúdios da Vera Cruz para um grupo particular, ressarcindo-se o Banco do Estado da importância ali empatada:

“ Professor:

!!!

$$$

? !

(a) – J.Quadros




(*) é professor universitário, jornalista e escritor










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