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Morre o jornalista e ex-deputado Márcio Moreira Alves

Vladimir Platonow , ABr - 04 de abril de 2009 - 08:33

Rio de Janeiro - O jornalista e ex-deputado federal Márcio Moreira Alves morreu ontem (3), aos 72 anos, após um longo período de internação. Segundo a assessoria do Hospital Samaritano, sua morte foi diagnosticada às 18h25, devido à falência múltipla dos órgãos, insuficiência renal e respiratória. Ele estava internado há cinco meses, depois de ter sofrido um acidente vascular cerebral (AVC).

De acordo com a assessoria, o velório de Márcio Moreira Alves será na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O corpo será cremado hoje (4), no Cemitério do Caju.

Um discurso do então deputado federal Márcio Moreira Alves foi apontado como o motivo do Ato Institucional 5, o chamado AI 5, que determinou em 13 de dezembro de 1968 o fechamento do Congresso, a cassação de parlamentares, a suspensão dos direitos políticos por dez anos e o endurecimento do regime militar contra a oposição.

No dia 2 de setembro daquele ano, ele subiu à tribuna da Câmara e proferiu um enérgico discurso contra a repressão que os militares vinham empreendendo em diversas universidades. Dias antes, em 30 de agosto, havia sido fechada a Universidade Federal de Minas Gerais e invadida a Universidade de Brasília.

Em protesto contra as atrocidades do regime, Márcio Moreira Alves incitou o povo a não participar dos festejos do 7 de Setembro, irritando os militares.

“As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile”, disse em um trecho do histórico discurso.

Mas o trecho que mais irritou os militares foi o pedido específico feito às mulheres: “Esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje, no Brasil, que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa àqueles que vilipendiam-nas. Recusassem aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam.”

Como resultado, os militares pediram ao Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 12 de outubro, a cassação de Moreira Alves. O STF enviou à Câmara pedido de licença para processar o deputado.

Em 12 de dezembro, o plenário rejeitou por 75 votos de diferença a licença para processar o parlamentar. Um dia depois, o Brasil entrou em um dos seus períodos mais negros de repressão e crimes contra os direitos humanos.

Moreira Alves foi cassado e obrigado a seguir para o exílio, passando pelo Chile, Cuba, França e Portugal. Voltou ao Brasil 11 anos depois, em setembro de 1979, com a anistia política. Tentou retornar à carreira parlamentar, sem sucesso, e voltou às suas origens, o jornalismo, onde permaneceu como um dos mais importantes comentaristas políticos do país, mantendo uma coluna diária no jornal O Globo durante dez anos.



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