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Matrículas de mulheres no ensino superior crescem

Vitor Abdala/ABr - 27 de janeiro de 2006 - 17:15

Em 13 anos, o número de mulheres matriculadas em instituições de ensino superior cresceu 22% a mais que as matrículas de homens. No mesmo período, entre 1991 e 2004, o número de estudantes do sexo feminino cresceu 181% frente ao crescimento de 148% de estudantes masculino, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).

De acordo com a gerente de projetos da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Dirce Grosz, o aumento da escolarização das mulheres começou a ser verificado na década de 80. Ela diz que não há estudos que expliquem o fenômeno da explosão de matrículas femininas no ensino superior, mas há algumas possíveis respostas.

"Há uma proporção maior de mulheres na população, principalmente a partir dos 20 anos de idade. Tem mais mulheres terminando o ensino médio do que homens. E, ao mesmo tempo, a mulher está buscando se aperfeiçoar para conseguir uma melhor colocação no mercado e no mundo do trabalho", avaliou Dirce. "Ela está despertando para a procura dos seus direitos e de seu espaço. Está começando a questionar os papéis que até então a sociedade colocava para ela, que era o cuidado da família", acrescentou.

A agente de viagens Maria Antônia Ferreira, de 59 anos, moradora do Rio de Janeiro, é de uma família de três irmãs que não cursaram o ensino superior, segundo ela, por falta de estímulos e de oportunidades. Sua filha de 21 anos é a primeira mulher da família a se matricular em uma universidade.

"Tudo mudou. Hoje em dia, se você não tem uma faculdade, tudo fica muito mais complicado. É muito mais difícil o acesso ao mercado de trabalho", observou, acrescentando que o ensino superior é fundamental para qualquer pessoa. "Mas especialmente para a mulher, porque existe uma competição enorme no mercado de trabalho e, sem um preparo, você não consegue uma colocação".

Entre 1991 e 2004, o número de matrículas de mulheres passou de 833 mil para 2,3 milhões, enquanto que as de homens passaram de 731 mil para 1,8 milhão. Dirce Grosz explica essa maior participação resulta em uma melhor qualificação da mulher. A escolarização maior, no entanto, não é suficiente para acabar com a disparidade de salários entre homens e mulheres.

"Se olharmos as pesquisas, as mulheres recebem até 60% do que um homem recebe para fazer o mesmo trabalho, no mesmo posto, no mesmo tempo. Essa é uma grande luta que a gente está travando e que a sociedade, como um todo, homens e mulheres, deve travar, para a gente poder alcançar a igualdade de espaço, de poder e de trabalho para homens e mulheres", alerta.

O diretor de Estatísticas do Ensino Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Dilvo Ristoff, compartilha da análise de Dirce Grosz. Ele acrescenta, no entanto, que esse fenômeno expõe um problema do sistema educacional brasileiro: a evasão escolar dos homens por conta do trabalho, que já começaria no segundo segmento do ensino fundamental e se agravaria ao longo da escalada educacional.

Se em 1991, a diferença de matrículas entre os dois sexos era de 132 mil, hoje ela já chega a 529 mil. Atualmente, cerca de 56% das matrículas nos cursos de graduação pertencem a mulheres. Isso em uma sociedade em que as mulheres representam cerca de 50,7% da população.

"Quando os números ultrapassam a proporção do que existe na sociedade, algo parece estar errado. Se o homem trabalha mais cedo, se quiser continuar trabalhando e se ele é pobre, como é o caso de 25% dos mais de nove milhões de estudantes do ensino médio, ele enfrentará uma dificuldade tremenda. Isso é um estímulo muito grande à evasão", destaca Ristoff.

O diretor do Inep conta que, muitas vezes, esse homem não tem dinheiro para pagar uma universidade particular e nem tempo para se preparar para um vestibular de universidade pública. Por isso, Ristoff acredita serem importantes políticas como o Programa Universidade para Todos (ProUni), do Ministério da Educação (MEC), que democratizariam o acesso da população mais carente à universidade e, assim, poderiam reduzir a diferença de matrículas entre homens e mulheres.

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