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Manoel Afonso: "Pensando bem - aposentadoria é fria”

Manoel Afonso - 28 de abril de 2008 - 08:01


É de dar inveja: aos 81 anos de idade Gervásio Batista continua na ativa como fotógrafo oficial da Radiobras e do STF, após cobrir 7 Copas, a Guerra do Vietnã, Revolução Cubana e a derrubada de Perón. O seu argumento: “ainda não fiz a minha grande foto”. Claro que nem todos chegarão onde ele chegou – com a mesma saúde e principalmente com tamanha motivação, usando inclusive terno e gravata no dia a dia.
É de se preocupar: encontrei na Assembléia Legislativa, semana passada, um amigo no terceiro mês de aposentadoria. Com menos de 60 anos estava vestido esportivamente,, barba por fazer e bronzeado. Disse-me que estava curtindo a nova fase, tinha viajado muito e visitara parentes que não via há muito tempo. Mas no final do rápido papo admitiu estar preocupado com o futuro, pois já fora prevenido de que irá sentir falta de cumprir a antiga rotina dos tempos de ativa.
Vejam que são dois casos distintos que caem como luvas em nosso texto. No primeiro o personagem mostra a busca incessante pelo aprimoramento da arte de fotografar, mesmo não precisando mais dos rendimentos financeiros para a sua sobrevivência. É o fazer por prazer, paixão, por gostar mesmo do que faz. A tal “busca da grande foto” não passa de uma gloriosa desculpa para se sentir útil e continuar no meio social a que pertence. São dois empregos em horários distintos e cada qual com suas peculiaridades. Imagino o prazer que o nosso Gervásio tem em contar suas aventuras e experiência de vida nos eventos que cobriu. Claro que daria material para um bom livro de memórias.
No segundo o personagem – apesar de ainda novo e em excelente forma física, entendeu talvez que já tivesse cumprido sua missão laborial e que teria direito ao descanso. É possível até que venha a ter mais sucesso em outra atividade, se realizando mais pessoalmente inclusive, mas isso normalmente é difícil de ocorrer. Só o fato de não estar atrelado ao cumprimento de uma jornada diária de trabalho, acabará aos poucos refletindo no seu psicológico. Não se pode ignorar que o trabalho é a melhor fonte de relações humanas. Através dele fazemos amizades e construímos nosso mundo social por toda a vida. Fora dele virá a marginalização social gradativamente.
Tenho ouvido reclamações de aposentados dos mais diferentes níveis sociais. Claro que o choro pela falta de dinheiro existe em alguns casos. Mas em todos eles, a reclamação maior versa sobre o preconceito social e familiar. Eles se sentem marginalizados no meio produtivo, não recebem visitas; as correspondências e os convites rareiam. Dizem que o grande sonho da aposentadoria acabou se transformando em pesadelo e que até se arrependem de terem requerido os benefícios da aposentadoria. Fazer o que?
É preciso respeitar cada caso, claro! Mas a intenção nossa é mostrar vários aspectos que envolvem o problema e proporcionar subsídios para uma reflexão. Cá entre nós: aposentadoria amarga não! Ela só vale sem mágoas e com boas histórias para contar como tem nosso personagem Gervásio.

Manoel Afonso
(comentarista da TV. Record-MS)
[email protected]

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