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Geral

Língua portuguesa, inculta e bela, por Alcides Silva

Alcides Silva - 24 de fevereiro de 2006 - 07:17

Megassena

A quase unanimidade dos jornais desta última quinta-feira antevéspera de carnaval noticiou que “somente um apostador, do Paraná, acertou os números da mega-sena, sorteados na quarta-feira em Corumbá, no Mato Grosso do Sul. O paranaense vai receber um prêmio de R$ 26.132.814,65. As dezenas sorteadas foram: 12, 16, 28, 29, 47 e 50”.
Bela bolada; invejo-o na sorte, se bem que não costumo participar de jogos de azar. O que me preocupa aqui é que vi na notícia a palavra megassena escrita com os dois elementos que a compõem – mega e sena -, unidos por hífen.
No meu entender não está correto.
Em palavras compostas pelos prefixos mega, mini, micro, macro ou maxi jamais se usa hífen: megalegoria, megainsvestidor, megassena, megassismo (terremoto de grande intensidade), minissaia, maxicasaco, microcéfalo (cabeça pequena), maxidesvalorização, microcomputador, microempresa, microprocessador, microssaia, minibiblioteca, maxissaia (aquela que chega ao tornozelo), macroeconomia, macrorregião, macrossomia (dimensão exagerada do corpo), microrregião, minissaia, minivestido, minicomício, miniovo, minirreforma, dentre outras.
O hífen, sinal gráfico representado por um pequeno traço (-), é usado:
1 – para ligar os elementos de palavras compostas ou derivadas por prefixação: ex-diretor; couve-flor; pré-escola; super-homem;
2 – para unir pronomes átonos a verbos: deram-me, amei-a, far-lhe-ei; e
3 – para no fim da linha, separar as palavras em duas partes: candida-to, candi-dato, can-didato.
O emprego do hífen é meramente uma convenção. Não tem justificativa lingüística.
Um princípio estabelecido pelo “Formulário Ortográfico”, da Academia Brasileira de Letras, determina que “só se ligam por hífen os elementos das palavras compostas em que se mantém a noção de composição, isto é, os elementos das palavras compostas que mantém a sua independência fonética, conservando cada uma sua própria acentuação, porém formando o conjunto, perfeita unidade de sentido”.
Assim como não admito a tal ‘mega-sema’, não me desce o imposto ‘santa-fé-sulense’.
Há algumas ‘regrinhas’ sobre o uso desse ‘tracinho separador’.
Assim, deve-se empregar o hífen:
a – nas palavras compostas, cujos elementos perderam sua significação própria: água-marinha, arco-íris, bel-prazer;
b – nos vocábulos cujo primeiro elemento seja de forma adjetiva: luso-brasileiro, latino-americano, econômico-financeira;
c - nos compostos com os radicais pan e mal: pan-americano, mal-educado, mal-humorado;
d – nos termos compostos por bem, quando o elemento seguinte tem vida autônoma: bem-amada, bem-aventurança;
e – nas palavras compostas com sem, além, aquém, recém; sem-cerimônia; além-mar; recém-formado;
f – nos vocábulos formados pelos prefixos auto, contra, extra, infra, intra, neo, proto, pseudo, semi, supra e ultra só se usa o hífen quando se lhes segue palavras começadas por vogal ou pelas consoantes h, r ou s.
Desta maneira devem ser escritos os exemplos a seguir: auto-análise, auto-acusação, auto-escola, auto-elogio, auto-hemoterapia (tratamento com injeções do próprio sangue do doente), auto-instrução, auto-ataque, contra-reforma, contra-regra, contra-senso, extra-aula, extra-escolar, extra-humano (exceção é o adjetivo extraordinário, consagrado pelo uso), infra-assinado, pseudo-revelação, semi-selvagem, supra-excitante, ultra-sensível, ultra-som, etc. Fora desses casos, esses prefixos se unem à outra palavra diretamente, sem utilização do hífen. Assim escrever-se-á sempre autofagia, contramão, contracapa, semibárbaro, suprapartidário, ultravioleta, etc.
Lembre-se: quando a prefixação se iniciar pelos elementos mega, mini, micro ou maxi jamais se utilizará o hífen, mesmo que a palavra seguinte comece com vogal ou com as consoantes h, r ou s.
O assunto não se extingue aqui.

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