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Língua portuguesa, inculta e bela, por Alcides Silva

Alcides Silva - 14 de setembro de 2012 - 09:08

O zeugma e a vírgula vicária

Zeugma é uma figura de linguagem na qual omitimos uma palavra já expressa anteriormente na oração. Trata-se de um caso especial de elipse (= supressão). “Nossos bosques têm mais vida / Nossa vida em teu seio, mais amores (Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias. Versos reproduzidos no “Hino Nacional, por Joaquim Osório Duque Estrada”: ‘Teus risonhos lindos campos têm mais flores / Nossos bosques têm mais vida,/ Nossa vida, no teu seio, mais amores”.

Os estudiosos chamam o zeugma também de vírgula vicária, quando este sinal exerce a função de representar um outro termo, geralmente um verbo, no caso, ‘tem’.

Vicária é uma palavra que tem a mesma origem do termo vigário (do latim vicarius- a- um: que faz as vezes de..., substituto, padre que responde pela diocese na ausência do bispo). Palavra da família do advérbio latino vice (= em vez de..., à moda de...), com uma conotação ideológica de substituição. Etimologicamente, vice-presidente, vice-governador, vice-prefeito, vice-almirante, vice-cônsul seriam aqueles que agissem à maneira do respectivo titular. cf. visconde (do latim, vicecomite = substituto do conde).

Hoje, vice é o substituto ou sucessor natural do titular de determinado cargo, aquele que lhe faz as vezes.

Gramáticos há, como Said Ali (‘Gramática secundária”, 8ª ed;, Melhoramentos, São Paulo, 1969, p. 217), que consideram que só ocorre zeugma quando a palavra subentendida tiver forma flexional diferente da do termo mencionado anteriormente: A casa era modesta e as crianças, tímidas (as crianças eram tímidas). Outros, e a maioria, dizem que existe zeugma sempre que “uma palavra já exprimida numa oração se subentende na outra, que lhe é análoga ou ligada: A aurora é o riso do céu, a alegria dos campos, a respiração das flores, a harmonia das aves, a vida e o alento do mundo” (Carneiro Ribeiro, “Serões Gramaticais”, 5ª ed., Livraria Progresso Editora, Salvador, 1950, p. 763).

Zeugma é um substantivo comum de dois gêneros, embora alguns estudiosos entendam-no exclusivamente masculino (Napoleão Mendes de Almeida: “Dicionário de Erros e Correções”, Saraiva, São Paulo, 1955, p. 272, por exemplo) e outros, unicamente feminino (Celso Cunha: “Gramática do Português Contemporâneo, 2ª ed., Editora Bernardo Álvares S.A., Belo Horizonte, 1971, p. 442).

Pode ocorrer antecipadamente, isto é, a omissão é feita na primeira oração, para ser expressa a palavra na oração seguinte: Não fora este, outros fatos teriam acontecidos.

Nem sempre no zeugma é necessária a vírgula. Vezes há em que a esta, se colocada, pode trazer ambigüidade:
Nem ele nos entende, nem nós a ele (entendemos).

Se, no exemplo, houvesse vírgula vicária, a leitura seria de compreensão mais difícil: Nem ele nos entende, nem nós, a ele.

Por isso, como a virtude está no meio, a vírgula vicária não é panacéia gramatical; deve ser utilizada com muita cautela, levando-se em consideração que o principal é a clareza do que se fala ou se escreve.

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