O estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mostra o crescimento agrícola no período 1999-2004 e a explosão da área plantada com soja admite, inclusive, uma possível crise financeira no setor. O estudo assinala que a fase decrescente dos preços internacionais de soja (1998-2001) coincidiu com uma fase de elevados estoques mundiais do produto, e que a "elevada volatilidade recente" também está associada a expectativas aos estoques previstos para o final do ano na safra americana.

Segundo o documento, ao menos que ocorra uma quebra de safra no Brasil, na Argentina ou nos Estados Unidos seja curta – o que só se saberá a partir de julho ou agosto deste ano -, é provável que os preços da soja sejam baixos também em 2005, com conseqüente queda da rentabilidade agrícola e, possivelmente, "uma crise financeira na agricultura brasileira", devido ao seu "provavelmente alto" nível de endividamento contraído na fase anterior de preços favoráveis.

Na avaliação de Gervásio de Rezende, um dos autores do documento do Ipea, os preços internacionais da soja vão continuar baixos. "Esse é o problema que a soja tem. A agricultura brasileira tem que criar mecanismos de defesa e embuti-los nessa estratégia de expansão. Não é possível ficar com oba-oba", adverte. Para Rezende, o governo deve buscar a "formulação de políticas que saibam atuar nesses momentos, prevenindo os possíveis prejuízos".