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História de tropeiros está entre as selecionadas

Alessandra Bastos/ABr - 09 de novembro de 2004 - 08:14

Há mais de 50 anos, tropas de homens montados em jumentos levavam cargas de Carnaubeira da Penha, em Pernambuco, para vender nas cidades. Pelo caminho, os tropeiros faziam um tipo de café curioso: misturavam um pouco de água, café e rapadura para adoçar. Acendiam a fogueira, jogavam umas três pedras no fogo e, quando elas estavam bem quentes, colocavam no café para fervê-lo. Quem conta essa história é Arthur Gomes dos Santos, um comerciante de 50 anos, filho de um tropeiro.

O progresso trouxe os caminhões, que substituíram os tropeiros. Agora, Arthur pretende descobrir o motivo para o uso das pedras. E contar em um filme de até 20 minutos essa história, uma das 40 selecionadas pelo programa Revelando os Brasis, do Ministério da Cultura. Os filmes serão exibidos pela Radiobrás.

Inscreveram-se para o programa 417 pessoas de comunidades com até 20 mil habitantes. "O material seria muito rico nas mãos de um sociólogo, porque mostra o imaginário popular e as diferenças culturais. No Sul, os projetos são mais ficcionais e voltados para o documentário. Já no Norte e Nordeste percebem-se os causos, lendas e a tradição da cultura oral", afirma Caio Julio Cesaro, um dos quatro integrantes da comissão de seleção.

Um dos critérios adotados para a seleção foi a possibilidade de filmagem em apenas uma semana. "Algumas histórias exigiam centenas de figurantes ou muitos cenários, o que impossibilitaria a produção", conta Cesaro. Ele observou que muitos projetos vieram datilografados, revelando que a velha máquina de escrever continua a ser usada por muita gente.

Dos 21 estados que têm municípios representados no projeto, a Paraíba teve o maior número de histórias selecionadas (cinco), seguida por Espírito Santo (quatro), Bahia, Santa Catarina, Alagoas, Rio Grande do Norte e Minas Gerais (três); Ceará e São Paulo (dois); e Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Pará, Roraima, Sergipe, Rondônia, Pernambuco, Paraná, Amazonas e Piauí, com um texto selecionado.

Durante uma semana, os autores das 40 histórias selecionadas participarão de um curso no Rio de Janeiro, onde aprenderão a desenvolver roteiro, usar o equipamento de filmagem e produzir vídeos. Em seguida, retornarão a suas cidades para iniciar a filmagem.

Para contar a história dos tropeiros, Arthur pretende entrevistar alguns que ainda estão vivos e sonha reunir alguns jumentos na retomada do caminho. "Meu pai me contava essa história e eu, criança, não dava muita importância. Quando essa gente que já está na faixa dos 90 anos desaparecer, ao falarem de tropeiro ninguém vai saber o que é", observa o novo documentarista.

Cada autor participará ainda de outro curso, para aprender a editar os filmes, que deverão estar concluídos até fevereiro de 2005. O investimento do Ministério da Cultura é de R$ 1 milhão.

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