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Geral

Genética e desempenho esportivo

Educação Física - 08 de julho de 2016 - 11:00

Para um sujeito atingir nível de excelência no esporte deve possuir algumas características que o distingue das demais. No entanto, altos níveis de treinamento são o requerimento mínimo para alcançar níveis de excelência. De acordo com a teoria da prática deliberada, é preciso treinar muitas horas com muita concentração e intensidade, ou seja, ter mais de 10.000 horas acumuladas ao longo de pelo menos 10 anos, para se atingir o nível de excelência no esporte, pois a prática constante e sistemática pode ativar os genes “dormentes”.

No entanto, é preciso levar em consideração a individualidade biológica dos sujeitos e as especificidades de cada modalidade esportiva, pois cada indivíduo tem um “limiar” para executar determinado tipo de exercício físico e atingirá determinado nível e isto dependerá da natureza e do grau de dificuldade da tarefa e da interação de múltiplos fatores ambientais e genéticos.

É preciso destacar que o desempenho esportivo de alto nível requer a combinação integrada de múltiplos fatores internos como a genética privilegiada e a idade cronológica; e fatores externos como o ambiente; a nutrição e o treinamento físico adequado; a participação em competições; os aspectos socioculturais e econômicos; a motivação; o gerenciamento da carreira e o suporte científico.

Alguns desses fatores são treináveis (fisiológicos), alguns ensinados (táticos) e outros estão fora do controle dos atletas e dos técnicos (genéticos). No entanto, sugere-se atualmente que o fator determinante do potencial atlético são os “dotes” genéticos, o que inclui características físicas e biológicas e a capacidade de adaptação ao treinamento físico. Em geral, há duas categorias de atletas de alto nível, os geneticamente talentosos e os que treinam arduamente.

A quantidade de indivíduos que tentam tornarem-se atletas de elite e aqueles que efetivamente atingem tal nível demonstra a importância de se conhecer os fatores, ambientais e/ou genéticos, que podem definir o desempenho de alto nível. Considerando os atletas de elite de nível mundial, verifica-se que com a progressiva evolução tecnológica e científica, está cada vez mais difícil encontrar sujeitos que tenham potencial para atingir tal nível. Isto acontece principalmente porque, para tal, é necessário superar não somente adversários, mas também os limites do corpo humano. Além disto, para obter êxito nessa árdua tarefa, é necessária uma infraestrutura moderna e especializada, assim como profissionais altamente especializados trabalhando em regime multi- e interdisciplinar.

Os cientistas do esporte, há tempos vêm estudando sujeitos com níveis excepcionais de desempenho físico e esportivo, a partir de análises morfológicas e funcionais. Dessa forma, acreditava-se que os excepcionais níveis de desempenho dos atletas de elite eram decorrentes exclusivamente do treinamento e acompanhamento nutricional. No entanto, tais fatores têm se mostrado, ao longo do tempo, insuficientes para caracterizar fenótipos associados ao sucesso esportivo. Nesse sentido, a “investigação genética” vem se destacando na busca de respostas para a complexa problemática que é a detecção de talentos esportivos, pois auxilia na identificação de genes envolvidos no desempenho atlético, abrindo não só a possibilidade de usá-los na descoberta de novos talentos, mas também para o desenvolvimento de técnicas de treinamento mais específicas e na prevenção de lesões decorrentes de sobrecargas excessivas de treinamento físico para que dessa forma seja possível evitar quadros de overtraining, o que pode culminar com o abandono da prática esportiva.

O sucesso esportivo é o resultado de uma combinação multifatorial bem sucedida. No entanto, é improvável que o excepcional desempenho dos atletas de elite seja apenas consequência de características genéticas, pois o funcionamento orgânico final é o resultado da interação de múltiplos fatores genéticos com os inúmeros estímulos ambientais a que estamos expostos. Além disso, quando se fala do desempenho esportivo é preciso levar em conta que os sujeitos apresentam diferentes níveis de treinabilidade e responsividade aos mesmos estímulos.

Já foram descritos genes associados ao desempenho físico tais como da resistência cardiorrespiratória, da força muscular, dos traços de desempenho muscular e da intolerância ao exercício. Além disso, o número de genes e polimorfismos genéticos para explicar a variação individual no desempenho esportivo só aumenta e, os avanços da genética esportiva caminham paralelamente ao crescimento da complexidade e das diversidades entre os estudos, pois diferenças quanto ao gênero, aos grupos étnicos assim como as metodologias estatísticas utilizadas dificultam a comparação de resultados.

Podemos afirmar que a genética tem e terá grande impacto no futuro da atividade esportiva, pois servirá para orientar de forma mais precisa a atividade física para iniciantes e desta forma favorecerá a adesão de praticantes. Também contribuirá para a preservação da qualidade física e longevidade esportiva dos atletas bem como com a saúde e qualidade de vida da população geral. Por fim, poderá auxiliar na identificação na decoberta de talentos e na geração de atletas de elite.

Fonte: Rodrigo Luiz Vancini é Profissional de Educação Física e Especialista em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Mestre e Doutor em Ciências pela UNIFESP. Professor do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

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