Contar histórias não é privilégio de poucos, mas quem tem acesso a maior grau de escolaridade tem mais coerência na fala. Pelo menos é o que garante um estudo da Universidade Federal de Pernambuco, que investigou se coerência textual está relacionada à aquisição de leitura.

O estudo, publicado na revista Psicologia: Reflexão e Crítica (Vol.16 n.1), abordou alunos entre 15 e 45 anos, do 1º e 2º ciclos de um curso de educação básica de jovens e adultos. Os alunos eram solicitados a produzir uma história oralmente, a qual era avaliada segundo um sistema que expressa níveis de coerência textual. Os estudantes que tiveram maior habilidade na leitura e escrita conseguiram maior nível de coerência em suas histórias.

Para os pesquisadores, o uso da linguagem comunicacional no contexto escolar difere muito de seu uso no cotidiano dos alunos: “Em geral, a escola não tem contribuído para que os alunos tenham uma concepção de linguagem escrita como uma forma de comunicação, e tampouco como instrumento para apropriação de outros conhecimentos escolares”.

Segundo o estudo, conhecer o mundo favorece o processo de compreensão, realizado por meio da linguagem oral e escrita: “a coerência abrange, além da coesão textual, outros fatores de ordens diversas, tais como, elementos lingüísticos, conhecimento de mundo, conhecimento partilhado, situacionalidade, informatividade, intertextualidade, intencionalidade e aceitabilidade”. Assim, o saber intelectual seria um dos fatores responsáveis pela construção de sentido — pela coerência textual.

O estudo revelou que jovens e adultos que estão iniciando o processo de alfabetização apresentam dificuldades para relacionar o desfecho ao evento principal e aos episódios narrados ao longo da história. No entanto, ao contrário, alunos que estão concluindo a educação básica de jovens e adultos não apresentam tal dificuldade. A pesquisa também identificou que alunos pertencentes ao mesmo ciclo, mas com níveis de experiência escolar distintos, apresentam performance melhor do que os alunos sem nenhum tipo de escolarização: “a partir desses resultados verificou-se que a aquisição da leitura e da escrita é muito importante no estabelecimento da coerência em situação de produção oral de histórias”, dizem os pesquisadores.

Contudo, para o estudo, o importante é saber qual o papel da escola na superação dessas dificuldades de coerência na linguagem. Para que os alunos entendam a organização lingüística e a estrutura do texto, concluem os autores, é fundamental “o planejamento de situações didáticas” que permitam aos alunos refletirem sobre as partes que constituem e dão sentido a um texto.