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Dez anos de Real: juros e poder aquisitivo menores

Fabiana Silvestre / Campo Grande News - 01 de julho de 2004 - 17:58

Compra parcelada. Para o aposentado João Alves Sobrinho, de 75 anos, este foi o maior benefício proporcionado pelo Plano Real, implantado pelo Governo Federal há 10 anos. Na opinião do lavrador aposentado, comprar uma geladeira, fogão ou carro está mais fácil com a economia estável. “Lembro bem. Antes, os produtos tinham o preço do dia. Era um desespero porque não sabíamos o que fazer. Era difícil juntar dinheiro para as compras à vista e as parceladas tinham juros muito altos. Hoje, as lojas dividem o valor em 12, 24 meses, de forma que podemos pagar”, diz. Até mesmo as vendas de sorvetes na praça Ary Coelho, que complementam a renda de um salário mínimo de Sobrinho, melhoraram. “Todo mundo tem R$ 0,50 ou R$ 1,00 no bolso”, afirma.
Já para os comerciantes Miriam Paula Lucca da Silva, 20 anos, e José Peres, 24, só houve prejuízos com o novo plano econômico. Miriam, que morava com a avó antes do Real, lembra das “grandes compras da família” e diz que perdeu o poder aquisitivo. “Minha avó ia à feira com R$ 10,00 e voltava com a sacola cheia. Hoje, mal compramos a mistura para o almoço. Temos juros menores, mas o salário não é reajustado na mesma proporção das outras coisas, o que também prejudica o trabalhador”, argumenta. Ela e o marido têm uma garaparia.
O servidor público aposentado, Petronílio Vitório Silva, de 72 anos, concorda com Miriam. Para ele, a estabilidade econômica e menores taxas de juros dão ao trabalhador uma falsa impressão de que a “vida melhorou”. “Por outro lado, as taxas públicas aumentaram muito além do salário”, explica. E faz as contas. “São R$ 40 de gás, R$ 8 por pacote de arroz, R$ 2,60 por lata de óleo, isso sem contar luz, água e telefone. Há 10 anos, um salário mínimo garantia tudo isso, e ainda sobrava um dinheirinho. Hoje, sempre falta no fim do mês”. Silva acredita que o plano onerou as empresas e agravou o desemprego, o que se refletiu nos índices de violência. “Muitas vezes um pai de família perde a cabeça porque não tem como sustentar os filhos. Rouba mesmo”, destaca.
Entre os empresários, a avaliação também é controversa. Para Roberto Nakasse, 34, proprietário da Nakasse Ótica e Joalheria, hoje é possível planejar melhor as compras de produtos. “O consumidor também opta mais pela compra parcelada, com valores fixos e juros acessíveis”, diz.
Mesmo considerando mais difícil manter a empresa atualmente, devido à pesada carga tributária, ele lembra que pôde ampliar o negócio e contratar mais 2 funcionários, além dos 6 que tinha anteriormente. Segundo Nakasse, isso se deve também à conquista da clientela e outros fatores além do plano econômico.
Para Márcio Okama, 38, um dos donos do Bar do Zé, havia “mais dinheiro na praça” há 10 anos. “Interessante, os juros eram altíssimos, mas circulava dinheiro na praça. Por outro lado, vivíamos estocando produtos. Hoje, isso não é mais necessário, mas em compensação as pessoas restringiram muito o consumo, priorizando o essencial”, avalia.

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