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"Cronos devorador trouxe a preguiça aos jovens
Como o jovem lida com o tempo? Para responder a essa pergunta, o Jubra, encontro fluminense que discute a situação do jovem brasileiro, trouxe a psicóloga Cristina Carneiro, que abordou de forma breve o modocomo o jovem entende conceitos como passado, presente e futuro. Na opinião da pesquisadora, o jovem de hoje ainda não se apropriou do tempo, o que pode estar comprometendo a criação de seu próprio espaço.
Segundo a pesquisadora, tendo como base seus estudos de campo, o jovem descreve ideais para o futuro, tendo como base referenciais fixos, como os arquétipos construídos pela própria sociedade. Para eles, o ideal de felicidade futura é ter uma casa com cerquinha branca, em uma estrutura familiar semelhante à da família americana retratada pelo cinema, destacou a psicóloga.
Um conceito freqüentemente lembrado pelos jovens, como lembrou a palestrante, é o de estabilidade. Frente às adversidades do universo globalizado, ter emprego, casa própria e acesso aos bens de consumo pode representar a tal estabilidade procurada pelos jovens. E mais: segundo Cristina Carneiro, essa estabilidade seria mais bem aceita pelo jovem, caso viesse de mão beijada, como citou a psicóloga, lembrando as palavras dos jovens pesquisados. Eles querem conseguir as coisas, mas não valorizam o sacrifício em tê-las. Lembro de um entrevistado que falou que o sonho dele era que seu pai fosse rico, para que ele não precisasse correr atrás de construir as coisas. É o conflito entre o ter que fazer e o encontrar pronto, lembra a profissional.
E tem mais. Eles vêem o imprevisto como uma coisa ruim. Nessa relação com o tempo, para eles, uma pausa representa o encontro com um obstáculo. Não entendem que uma pausa pode ser benéfica muitas vezes, apontou a pesquisadora. Partindo desse princípio, se a pausa é o obstáculo, na visão dos jovens, o contrário também seria verdadeiro: a rapidez, a velocidade, o não ter tempo a perder representa a eficiência, o sucesso, o ideal, segundo o pensamento de muitos jovens pesquisados por Cristina Carneiro.
Segundo ela, no contexto do tempo, outra figura bastante lembrada pelos jovens é a da preguiça. Muitos dos seus entrevistados referiram que até têm vontade de fazer, construir, mas em algumas vezes são impossibilitados pela preguiça. O elemento preguiça corresponde, grosso modo, em uma aceitação tácita do poder instituído. Significa a concordância, mesmo que contrária aos seus interesses, explicou a psicóloga.
Para Cristina Carneiro, enquanto o jovem não conseguir dominar seu próprio tempo, aprendendo a lidar com toda a sua subjetividade, não vai saber estabelecer seu espaço. Temos que entender que o tempo não é algo que pode ser destruído pelo Cronos devorador. O jovem deve identificar que pode produzir, intervir, tendo paciência para aproveitar o melhor do seu próprio tempo. Nosso papel é auxiliá-lo nessa descoberta, concluiu a palestrante.
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