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"Cronos devorador” trouxe a preguiça aos jovens

Agência Notisa - 23 de outubro de 2004 - 06:18

Como o jovem lida com o tempo? Para responder a essa pergunta, o Jubra, encontro fluminense que discute a situação do jovem brasileiro, trouxe a psicóloga Cristina Carneiro, que abordou de forma breve o modocomo o jovem entende conceitos como passado, presente e futuro. Na opinião da pesquisadora, o jovem de hoje ainda não se apropriou do tempo, o que pode estar comprometendo a criação de seu próprio espaço.



Segundo a pesquisadora, tendo como base seus estudos de campo, o jovem descreve ideais para o futuro, tendo como base referenciais fixos, como os arquétipos construídos pela própria sociedade. “Para eles, o ideal de felicidade futura é ter uma casa com cerquinha branca, em uma estrutura familiar semelhante à da família americana retratada pelo cinema”, destacou a psicóloga.



Um conceito freqüentemente lembrado pelos jovens, como lembrou a palestrante, é o de “estabilidade”. Frente às adversidades do universo globalizado, ter emprego, casa própria e acesso aos bens de consumo pode representar a tal estabilidade procurada pelos jovens. E mais: segundo Cristina Carneiro, essa estabilidade seria mais bem aceita pelo jovem, caso viesse de “mão beijada”, como citou a psicóloga, lembrando as palavras dos jovens pesquisados. “Eles querem conseguir as coisas, mas não valorizam o sacrifício em tê-las. Lembro de um entrevistado que falou que o sonho dele era que seu pai fosse rico, para que ele não precisasse correr atrás de construir as coisas. É o conflito entre o ter que fazer e o encontrar pronto”, lembra a profissional.



“E tem mais. Eles vêem o imprevisto como uma coisa ruim. Nessa relação com o tempo, para eles, uma pausa representa o encontro com um obstáculo. Não entendem que uma pausa pode ser benéfica muitas vezes”, apontou a pesquisadora. Partindo desse princípio, se a pausa é o obstáculo, na visão dos jovens, o contrário também seria verdadeiro: a rapidez, a velocidade, “o não ter tempo a perder” representa a eficiência, o sucesso, o ideal, segundo o pensamento de muitos jovens pesquisados por Cristina Carneiro.



Segundo ela, no contexto do tempo, outra figura bastante lembrada pelos jovens é a da preguiça. Muitos dos seus entrevistados referiram que até têm vontade de fazer, construir, mas em algumas vezes são impossibilitados pela preguiça. “O elemento preguiça corresponde, grosso modo, em uma aceitação tácita do poder instituído. Significa a concordância, mesmo que contrária aos seus interesses”, explicou a psicóloga.



Para Cristina Carneiro, enquanto o jovem não conseguir dominar seu próprio tempo, aprendendo a lidar com toda a sua subjetividade, não vai saber estabelecer seu espaço. “Temos que entender que o tempo não é algo que pode ser destruído pelo Cronos devorador. O jovem deve identificar que pode produzir, intervir, tendo paciência para aproveitar o melhor do seu próprio tempo. Nosso papel é auxiliá-lo nessa descoberta”, concluiu a palestrante.

Cobertura especial - Agência Notisa - direto do Simpósio Internacional sobre a Juventude Brasileira, no campus Praia Vermelha da UFRJ, Rio de Janeiro



Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)



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