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Costa Neto admite caixa 2 em campanha presidencial

Agência Câmara - 24 de agosto de 2005 - 08:12

O presidente do Partido Liberal e ex-deputado, Valdemar Costa Neto, disse em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Compra de Votos ter recebido R$ 6,5 milhões para apoiar o então candidato à presidência Luís Inácio Lula da Silva. Desse total, R$ 4,8 milhões teriam sido pagos sem recibo que comprovassem a origem dos recursos.
De acordo com Valdemar Costa Neto, o PL negociou o pagamento com o PT como forma de compensar os efeitos da regra da verticalização, que obrigou os partidos a repetirem as mesmas coligações nas esferas nacional e estadual. Com isso, o PL não conseguiria eleger muitos candidatos nos estados e perderia verbas do Fundo Partidário. O ex-deputado disse que o PT se comprometeu a repassar R$ 10 milhões ao PL, mas só repassou R$ 6,5 milhões, em um espaço de tempo de 18 meses. Costa Neto disse, ainda, que gastou todo o dinheiro para pagar fornecedores de material da campanha de Lula no segundo turno - sem recibo.
Ele informou que recebeu o dinheiro na certeza de que era limpo e de que, posteriormente, seria contabilizado no caixa do Partido Liberal com notas. "Nunca questionei a origem dos recursos do PT", disse.

R$ 6,5 milhões
Segundo o presidente do PL, todo o repasse financeiro que recebeu do PT foi usado para honrar dívidas com empresas que produziram material para ser distribuído na região metropolitana de São Paulo.
Costa Neto declarou ainda que, dos R$ 6,5 milhões, apenas R$ 1,7 milhão tinha recibo. O restante, explicou, foi pago durante os 18 meses seguintes à campanha, em dinheiro vivo e sem nota. Costa Neto informou ainda que R$ 1,2 milhão foi pago ao PL em cheques da empresa SMPB nominais à empresa Guaranhuns. "Esse dinheiro nunca passou pelo PL. Recebi todo o valor como pessoa física", informou. O presidente do PL garantiu que não repassou "nem um centavo desse valor" para candidatos do partido nos estados.
O ex-deputado afirmou ainda que foi alertado pelo vice-presidente José Alencar (do seu partido) sobre os riscos de operar com caixa dois durante a campanha. "Alencar defendia que todos os gastos fossem 'por dentro'", declarou o ex-parlamentar, que disse nunca ter informado ao vice que o PT não havia honrado o acordo com o PL.
Para o relator da CPMI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), o ex-deputado conseguiu, ao menos, esclarecer quanto de fato o PL recebeu do PT. De acordo com lista entregue pelo empresário Marcos Valério, suposto responsável pelo repasse do "mensalão" aos deputados, o PL teria recebido R$ 10,8 milhões. "Costa Neto afirmou que recebeu apenas R$ 6,5 milhões", disse Abi-Ackel, que julga no mínimo estranho o fato de não haver recibo de todo esse dinheiro.

Lula e o acordo
Costa Neto enfatizou que, durante a campanha presidencial, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva tinha total conhecimento do acordo feito entre PL e PT. "Mas o Lula nunca participou de conversas sobre acordos financeiros", disse.
Em entrevista à revista Época, Costa Neto afirmara que o presidente sabia de tudo, mas, no depoimento à CPMI, ele explicou que a declaração se referia ao "acordo político". Informou ainda que nunca houve acordo para pagamento em dinheiro ao PL, mas sim para a participação na gestão de recursos.
Segundo Costa Neto, a negociação para que o Partido Liberal recebesse um percentual da arrecadação de campanha presidencial foi feita com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Conforme o acordo, o PT repassaria R$ 10 milhões ao PL que, por sua vez, transferiria o dinheiro para reforçar o caixa de campanha dos candidatos nos estados.
Em resposta a Wladimir Costa (PMDB-PA), o ex-deputado afirmou que nunca conversou com o então ministro-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP), sobre a origem dos recursos repassados pelo PT.
O ex-deputado disse à CPMI que o acordo com o PT para a campanha presidencial "arrebentou" com o PL, que não conseguiu eleger um número suficiente de deputados federais e senadores para garantir o direito ao fundo partidário e a horários na televisão.

Reportagem - Maria Clarice Dias e Paula Bittar
Edição - Patricia Roedel

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