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Artigo: Turismo não é para amador

Ariosto Mesquita - 25 de setembro de 2007 - 15:33

Há pelo menos 20 anos tenho ouvido falar (e garanto que muitos dos leitores também) de que o turismo é o “futuro do Mato Grosso do Sul” além de chavões clássicos como “é a indústria sem chaminés” e a “redenção econômica de nosso estado”. Muito bonito não fosse pela veia demagógica e insossa de pelo menos 90% destas declarações. O futuro continua distante uma vez que quase nada ou muito pouca coisa mudou de lá pra cá: o setor insiste no amadorismo e na improvisação, mesmo com os inúmeros cursos superiores de turismo, administração, marketing e comunicação que se multiplicaram neste período e por algumas evoluções na parte oficial de fomento.



Além disso, a infra-estrutura aumentou minimamente e a visão estratégica permanece quase inexistente. Algumas alternativas criadas e desenvolvidas – corredores, sistemática de capacitação, programas de financiamento, etc. – são dignas de registro, mas ainda pontuais, sem uma continuidade ou amplitude maior. Quem conhece o turismo no litoral do Nordeste sabe bem a diferença.



Os mais tradicionalistas vão me contestar sob o argumento de que hoje temos destinos consolidados como Pantanal e Bonito, este último com acesso por rodovia asfaltada e aeroporto (sic). Opa, aeroporto, não! Pista de pouso, sim! E mesmo uma infra-estrutura aeroportuária não resolve por si só. Corumbá, por exemplo, tem o seu aeroporto, mas seu turismo não decola. É verdade que há 20 anos chegar a Bonito era uma aventura recheada de buracos e pó, sobre uma estrada de terra batida. Mas acesso por asfalto quase todas as cidades do Mato Grosso do Sul já possuem. Se Bonito não o tivesse seria o fim da picada. Era fechar a porta, pegar o boné e ir embora!



Mas nem tudo está perdido. No turismo oficial do Mato Grosso do Sul a visão parece ter deixado de ser míope. Até meados dos anos 90 os poucos cargos disponíveis eram, em sua maioria, acomodações políticas. Seus ocupantes, com algumas exceções, se esbaldavam em viagens. Faziam turismo e não trabalhavam para o fomento ao turismo. Hoje já se prioriza a visão técnica e os primeiros frutos começam a ser colhidos pela forma profissional como passou a ser tratado o turismo oficial. Restam os municípios seguirem o mesmo caminho.



Alguns estão mais adiantados, como Campo Grande, Bonito e Corumbá (que trabalha a duras penas pra manter um fluxo turístico em um município ainda estagnado economicamente); outros começam a focar a atividade profissionalmente como Costa Rica, mas a maioria ainda insiste em deixar o setor, administrativamente, em segundo ou terceiro planos.



Uma das boas expectativas de consolidações de resultados práticos é a Feira Internacional e 1º Salão de Turismo de MS, que acontece de 18 a 22 de outubro, em Campo Grande. Será uma oportunidade única para os empresários e municípios efetivamente mostrarem ao público, ao segmento turístico e à imprensa nacional e internacional (jornalistas brasileiros e estrangeiros já confirmaram presença) seu potencial de operação, logística, atendimento e satisfação ao turista. Entendo que, potencialmente, o turismo rural ou agroturismo (como prefere o governador André Pucinelli) pode ser um dos mais beneficiados com o evento. Mas quem não se preparar através de uma estrutura de marketing e comunicação vai ficar a ver navios.



Lembro de quando ministrei o workshop “Comunicação para o Turismo” durante o IV Festival de Inverno de Bonito e uma empresária recente no ramo comentava da ineficiência de seu material de folheteria. Indaguei sobre como ele foi concebido, com que estratégia e quem cuidava de sua distribuição. Em resumo, ela e seu filho resolviam tudo. A distribuição? Bom, o material só era deixado na recepção de seu empreendimento. Uma visão pra derrubar qualquer negócio. Afinal, em uma atividade profissional, cada um deve responder pela sua área dentro de uma harmonia administrativa estratégica.

Infelizmente vários empresários ainda pecam por uma visão amadora do turismo. Teimam em empregar sobrinhos, filhos, netos e primos em suas agências, operadoras, hotéis e destinos turísticos em detrimento de profissionais com capacitação comprovada, como os bacharéis em turismo, em hotelaria, administradores, guias, profissionais de marketing e de comunicação. Os cursos de turismo, por exemplo, eram a grande sensação em Campo Grande no início dos anos 90. Hoje amargam uma demanda muito pequena diante do que se esperava.

E essa visão ainda amadora sobre o turismo está longe de ser uma exceção. Durante o lançamento do 1º Salão de Turismo de MS, o secretário municipal de Fomento ao Agronegócio, Indústria, Comércio, Turismo, Ciência e Tecnologia (ufa!), Rodolfo Vaz de Carvalho, fez um apelo ao governador: “por favor, interceda junto aos nossos deputados e senadores, pois nossa bancada federal é a campeã negativa no Brasil em número de emendas voltadas para o turismo”. Fecha a cortina!

E pelo amor de Deus! Vamos parar com esta história de “indústria sem chaminés”! Graças às exigências nos processos de licenciamento ambiental, estes “charutões” em novas indústrias são tão raros quanto às chegadas de vôos charter de turistas europeus ao Mato Grosso do Sul.

De qualquer forma prefiro não generalizar e nem ser pessimista. Apenas realista dentro de uma perspectiva de que a coisa ainda vai andar.

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