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Artigo: O Brasil que queremos

Por Renato Giusti - 04 de novembro de 2003 - 15:16

O que todo brasileiro já percebia a olho nu e sentia na própria pele, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) confirmou recentemente, com a publicação do estudo "Estatísticas do Século XX". O Brasil é hoje um país não só em desenvolvimento, sob o aspecto sócio-econômico consagrado internacionalmente, mas principalmente um país em construção.
Construímos muito e de tudo ao longo das últimas décadas - de estradas de Primeiro Mundo a barragens multinacionais, de aeroportos a pistas de Fórmula 1, de grandes metrópoles a prédios de última geração. A tecnologia aplicada nessas construções nada fica a dever ao conhecimento mais avançado empregado hoje nos países mais desenvolvidos. A identificação de soluções criativas e racionais é uma prática já consagrada entre nossos especialistas, que são cada vez mais demandados junto ao mercado internacional. Mas o resultado de todo esse esforço ainda é, em essência, a construção de uma contradição de dimensões continentais: somos cérebros brilhantes do século XXI que convivem cotidianamente com as dificuldades que deveriam ter ficado esquecidas no século XIX.
Registramos hoje, no Brasil, um total de 1,7 milhão de quilômetros de uma malha viária projetada para integrar à vida moderna brasileiros de Norte a Sul. Um propósito nobre que só deveria nos orgulhar - não fosse o detalhe de que, de todo esse montante, apenas 9% estão pavimentados. Destes, apenas 2% são em concreto (número equivalente a 0,18% do total da malha viária brasileira), solução que assegura maior durabilidade e, conseqüentemente, otimização dos escassos recursos disponíveis. Ou seja: rasgamos o país de ponta a ponta, mas esquecemos de viabilizar a economia de escala desse investimento.
Aumentamos o PIB nacional 110 vezes no período de 1901 a 2000, mas o déficit de habitação ainda é de seis milhões de moradias, por mais e melhores que sejam as intenções de nossos executivos no sentido de identificar soluções populares que permitam multiplicar o rigoroso Orçamento da União, dos Estados e dos Municípios de modo geral. Isso significa que, em que pesem os esforços e a tecnologia aplicada ao desenvolvimento de sistemas e métodos, alijamos do patamar mais básico da cidadania uma parcela significativa de nossa gente.
O mesmo vale para o saneamento básico, primeiro passo na construção de uma sociedade saudável e cidadã. Atualmente, registramos um total de 10,2 milhões de domicílios carentes de infra-estrutura. Desses, 6,9 milhões carecem de um único serviço, sendo que 79% não têm esgoto e 15% carecem de abastecimento de água. São moradias que não contam com o mínimo necessário à civilização em seu conceito mais abrangente - água, esgoto, saneamento etc. São meros abrigos de pessoas que merecem ser incorporadas à vida moderna que todos sonhamos desfrutar. E é em nome dessa gente e de sua luta para chegar ao século XXI que toda a indústria nacional precisa se unir e definir seu papel.
A indústria de cimento como um todo sabe que tem uma grande responsabilidade no processo de construção do Brasil que todos sonhamos. E se orgulha de ser e sempre ter sido, sem dúvida alguma, um dos grandes agentes e vetores do muito que já se fez e do que está sendo feito. Nos orgulhamos de participar da inteligência de implantação de obras de qualidade e importância incontestáveis, como o imprescindível Rodoanel de São Paulo, que ajuda a desafogar o trânsito urbano ao mesmo tempo em que agiliza o transporte rodoviário de cargas e passageiros, símbolo da pujança e do crescimento de nossa economia.
Nos orgulhamos, também, da parceria tecnológica que resultou no incremento da oferta de energia hidrelétrica. Da conscientização cada vez maior das autoridades de que o concreto é a solução ambientalmente mais adequada para estradas essenciais que precisam cortar nossas matas preservando ao máximo as riquezas naturais. Do desenvolvimento de sistemas construtivos que permitem reduzir em grande escala o desperdício de materiais nas obras cotidianas, tornando-as competitivas e, por isso mesmo, permitindo sua disseminação. Dos projetos audaciosos, sim, mas também economicamente viáveis de habitação popular ao alcance de todas as comunidades.
Nos orgulhamos, enfim, de sermos parte inseparável dessa construção que precisa ser incentivada em nome do futuro de todos nós.

* Renato Giusti é Presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)



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