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Alcides Silva: Linguagem popular e gíria

Alcides Silva - 07 de julho de 2011 - 16:35

Virou moda, difundida pela linguagem televisual, aceito sem qualquer embargo pela juventude, o emprego do substantivo ‘galera’ com o significado popular de turma, grupo de pessoas, torcida, platéia etc. Até a música popular, dita country (sertanejo universitário...?), abusa do termo:
“Alô, galera de caubói / alô, galera de pião
Quem gosta de rodeio bate forte com a mão!”
‘Galera’, na língua padrão, designa um navio antigo, de guerra, como na música carnavalesca “Pirata da Perna de Pau”.
Nos parlamentos, nos teatros e casas de espetáculo, o conjunto de assentos localizados em um piso mais elevado, chama-se galeria. Por derivação metonímica, o público se instala naquelas cadeiras também é denominado de galeria. Daí, por metaplasmo, o substantivo galera.
Galera não é gíria, é linguagem popular.
Gíria é a linguagem informal, mas efêmera, de um determinado grupo social coeso e, no dizer de Houaiss, “caracterizada por um vocabulário rico em idiomatismos metafóricos, jocosos, elípticos, ágeis e mais efêmeros que os da língua tradicional”.
A linguagem popular é o modo de expressão de uso geral, escrito e/ou falado de uma comunidade humana..
Gladstone Chaves de Melo (“A Língua do Brasil ” , 3ª ed., FGV, Rio, 1975, p. 209) diz que “o que caracteriza linguisticamente as gírias, é, de um lado, a preocupação esotérica, o cuidado que têm os componentes do grupo de criar a sua linguagem diferente, ininteligível a estranhos e claríssima a si próprios. A linguagem deles é uma barreira, uma defesa”.
A mídia moderna influencia significativamente os fenômenos da linguagem. Ao utilizar gírias contribui para a difusão desses termos por todas as camadas sociais.
A linguagem popular é única na comunidade humana, é a língua coloquial, aprendida de ouvido, própria para atender as necessidades diárias da comunicação oral. Seus vocábulos geralmente têm sentido concreto, “constituindo moeda corrente de circulação franca na transação das idéias”, como afirma Othon M. Garcia em “Comunicação em Prosa Moderna, 2ª ed., FGV, Rio, 1969, p. 163).
“Cuca”, na linguagem popular, é sinônimo de inteligência. “Cuca cheia” é gíria de ‘bêbado’; cuca fresca, de pessoa tranqüila; cuca fundida, de pessoa preocupada; cuca quente, de pessoa explosiva.
A gíria varia conforme o grupo que a utiliza. Há gíria entre os desportistas, os estudantes, os soldados, os malandros, a súcia, a corja, a caterva, a polícia, os ‘funkistas’ etc.
A gíria, porém, não é calão, o palavrão rude ou chulo, a expressão obscena ou pornofônica. Também não é jargão, que é linguagem técnica de uma determinada profissão ou atividade. Para os médicos, a dor de cabeça é cefaléia; a falta de açúcar no sangue é hipoglicerina; o fastio, anorexia; a fraqueza, astenia.
A linguagem popular é duradoura, tendendo transformar-se em linguagem padrão ou literária; a gíria, normalmente, transitória, de vida curta, muitas vezes sem registro.

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