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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela

Alcides Silva - 30 de maio de 2008 - 08:11

Língua portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva

Casamento e lua-de-mel
Por que o período logo após o matrimônio, quando os nubentes geralmente empreendem viagens, chama-se ‘lua-de-mel’?
Embora na atualidade o casamento esteja perdendo seu simbolismo, foi ele sempre um solene ritual religioso.
Na antigüidade, cada família possuía seus deuses particulares, que eram os antepassados masculinos. O morto era sepultado nos jardins ou nos arredores da vivenda e, a partir daí, cultuado, através do fogo que jamais se apagava, porque ele representava espírito protetor que velava pela casa onde havia morado. Por isso eram chamados de deuses lares. O culto a esses deuses era uma obrigação diária.
Para se casar, a moça renunciava aos deuses e aos ritos em que fora criada e assumia os da casa de seu noivo. Isso significava uma ruptura com todo o seu passado. Vai daí, como que simulando um rapto, o noivo a arrebatava e ela esboçava reação para significar a dor que sentia por estar abandonando seus deuses. Ao depois, era conduzida à casa do futuro esposo. Nesse andar, ia coberta de véus brancos e com uma coroa à cabeça. Ao seu redor, cantava-se o himeneu, uma espécie de marcha nupcial. A palavra himeneu é derivada de hymên, a membrana virginal da noiva, “preciosa moeda em tempos antigos, com a qual os pais podiam arranjar um bom casamento” (Deonísio da Silva: “A vida íntima das palavras”, 1ª reimpressão, Editora Aex, São Paulo, 2002, p. 241).
Ao ultrapassar o umbral da casa onde iria morar, a moça era tomada nos braços pelo noivo, que a levava ao colo, para que seus pés não tocassem a soleira da casa que, então, estava besuntada de mel.
A cerimônia do casamento consistia na apresentação do fogo sagrado à noiva, levando-a o noivo ao lar onde o fogo ardia, o qual, daí para frente, deveria cultuar. Após as libações sacrificais (ritual que se realizava com a aspersão de óleo, vinho ou mel e a água lustral, nos noivos e no fogo sagrado), comiam os dois um bolo (panis farreus [far, farris = trigo]), que depois era distribuído aos demais presentes. Em seguida, ambos recitavam algumas orações e a partir daí a mulher ficava associada ao novo culto: eram marido e mulher. Definia o ‘Digesto’, um dos quatro livros do Corpus Juris Civilis, que durante muitos e muitos séculos foi a lei civil dos povos, que nuptiae sunt conjunctio maris et femine, consortium omnia vitae, divini et humani communicatio: “o matrimônio é a união do varão e da mulher, o destino comum de toda a vida, a comunicação do direito divino e humano”.
Celebrado o casamento, os noivos recebiam mel e vinho e depois se retiravam, indo geralmente para o campo ou para um lugar afastado, onde se iniciavam na convivência marital.
Esse período de adaptação conjugal demorava uma lua, que tanto podia ser uma semana (quarto de lua) ou um mês. Retornavam quando acabadas as provisões de mel e de vinho.
Daí a origem da expressão lua-de-mel, que em inglês é honeymoon (honey = mel; moon = lua); em francês, lune di miel, em italiano, luna di miele.
Como na gíria brasileira pão significa uma pessoa bonita, na gíria inglesa honey é a pessoa querida.

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