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Alcides Silva: Língua Portuguesa, inculta e Bela

Alcides Silva - 26 de novembro de 2008 - 08:54

Tempos verbais
Nestes tempos de vestibulares, por solicitação, volto a tratar de um assunto que, na escola, geralmente se passa por cima, mas que é de importância fundamental conhecê-lo para o emprego correto da língua portuguesa: os tempos verbais.
“Se eu fosse você, eu voltava pra mim” é um verso tirado da belíssima canção de Sílvio César “Pra você”. Mas na língua padrão, essa frase mereceria pelo menos duas correções: “Se eu fosse você, eu voltaria para mim”.
Na escola estudamos, na base da decoreba, o sistema verbal da língua portuguesa, sem nunca nos preocuparmos com sua coerência. Vamos relembrar:
O verbo é uma palavra dinâmica que exprime um fato (ação, estado ou fenômeno) em relação ao tempo (passado, presente, futuro).
Quando digo uma frase, o jeito como o verbo é empregado reflete a maneira (no latim, modus) como estou vendo o fato relatado. São três essas maneiras, ou melhor três os modos do verbo:
1 - o modo da certeza, da informação objetiva, denominado de modo indicativo:
Votarei na terça-feira;
2 - o modo da vontade, da dúvida, da hipótese, chamado de modo subjuntivo:
Queria que você voltasse logo;
3 - o modo da ordem, do aconselhamento, da súplica, que é o modo imperativo:
Volte logo - Vá pela sombra - Senhor, tende piedade de nós.
O verbo sempre indica uma ação (estado ou fenômeno) no tempo, que pode estar acontecendo (presente), ter ocorrido (passado) ou vir a realizar-se (futuro).
No modo indicativo os tempos verbais são:
* o presente que apresenta um fato que está ocorrendo: volto;
* o pretérito (passado) que pode se referir a um fato ocorrido completamente (o chamado pretérito perfeito: voltei), ou indicar uma ação presente em relação a uma passada, ou ação não terminada quanto a sua duração (o denominado pretérito imperfeito: voltava), ou ainda, apresentar um fato ocorrido no passado, mas anteriormente a outro fato também no passado (pretérito mais que perfeito: voltara); e
* o futuro que indica uma ação (ou fato) posterior ao momento em que se fala (denominado futuro do presente: voltarei), ou um fato (ação) que poderia realizar-se depois de um outro que não ocorreu e, provavelmente, não vai ocorrer (chamado de futuro do pretérito: voltaria).
O subjuntivo apresenta também tempos no presente (presente do subjuntivo: volte), no passado (pretérito imperfeito do subjuntivo: voltasse), no futuro do subjuntivo: voltar.
Os tempos verbais se formaram a partir de três fontes que se podem chamar de primitivas: o infectum (do latim in fectum “não perfeito”) que exprime a ação inacabada, que ainda está acontecendo, sem contornos definitivos no tempo, que é o presente do indicativo, de onde vieram o imperfeito do indicativo, o imperativo e o presente do subjuntivo; o perfectum, que indica a ação acabada, completa, que é o pretérito do indicativo, de onde nasceram o mais que perfeito do indicativo, o imperfeito do subjuntivo e o futuro do subjuntivo; e o infinitum, expressivo da ação em abstrato, que é o infinitivo, que na língua portuguesa deu origem ao futuro do presente e futuro do pretérito. Ainda do infinitivo nasceram as formas nominais: o infinitivo pessoal (voltar), o gerúndio (voltando) e o particípio (voltado).
Dentro de uma frase as formas verbais se correlacionam, isto é, há uma relação de tempo e de modo:
Quero (presente do indicativo) que você volte (presente do subjuntivo).
Queria (pretérito imperfeito do indicativo) que você voltasse (pretérito imperfeito do indicativo).
Só posso correlacionar um verbo com um outro que com ele se entrelace no tempo e no modo. Assim não posso dizer Queria que você volte logo, porque ‘queria’ exprime uma dúvida e, como tal, exige o modo subjuntivo.
No exemplo Quero que volte logo, o fato de querer (presente do indicativo) que alguém regresse não é suficiente para que exista a certeza de que essa pessoa efetivamente retornará, pois o ato de voltar é apenas uma hipótese. Daí a necessidade do emprego do volte, que é presente do subjuntivo.
No verso de Sílvio César o verbo ser, apresentado no pretérito imperfeito do subjuntivo (fosse), exige voltaria (futuro do pretérito do indicativo) porque a ação por ele expressada (voltar) só poderia realizar-se após uma outra ação, no caso de impossível concretização: Se eu fosse você, eu voltaria para mim.

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