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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 22 de novembro de 2007 - 09:54

Língua portuguesa, inculta e bela!
Alcides Silva
A gente I
Quase explodiu um incidente diplomático entre Chávez, o todo-poderoso da Venezuela, e o rei Juan Carlos, da Espanha, no fim de semana passado, durante reunião da Cúpula Ibero-Americana, no Chile. O venezuelano, em discurso, desancava o ex-primeiro ministro espanhol, José Maria Aznar, quando d. Juan, em tom de censura, mandou-o que se calasse (Por qué no te callas?). Nessa reunião, Lula tornou-se o objeto de amor dos que são ou querem se mostrar democráticos ou de esquerda. De Juan Carlos a Chaves e Morales, ele, Lula, é o talismã. Uma pesquisa da ONG Latinobarômetro, divulgada na sexta-feira da semana passada, em Santiago, no Chile, afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o líder político com melhor imagem na América Latina e o único a manter o posto nos últimos dois anos. A ONG entrevistou mais de 20 mil pessoas em 18 países, à exceção de Cuba, em setembro e outubro deste ano.
Chegado ao Brasil, com a repercussão do quase incidente, em defesa do presidente da Venezuela disse o guru petista, “podem criticar o Chávez por qualquer outra coisa, inventem uma coisa para criticar. Agora, por falta de democracia na Venezuela não é. Estou há cinco anos no poder e vou chegar a oito anos, eu participei de duas eleições,” E sintetizando seu conceito de democracia bolivariana disse Lula: ‘Eu acho que na democracia é assim, a gente submete aquilo que a gente acredita ao povo e o povo decide e a gente acata o resultado. Porque senão não é democracia’.
Gente, esse substantivo singular, que um filólogo ianque afirmou ser a palavra de maior uso e emprego na língua portuguesa, espécie de regra-três do pronome nós, muito utilizado atualmente, segundo o Aurélio, significa um número indeterminado de pessoas, uma multidão ou mesmo uma só pessoa; alguém.
O uso da expressão "a gente" em substituição a "nós" é tão forte que algumas vezes dá origem a confusões. Veja o trecho da canção "Música de rua", gravada por Daniela Mercury e lembrada por Pasquale Cipro Neto no “Alô Escola”, recente matéria sobre Nossa Língua Portuguesa, na TV Cultura, de São Paulo: E a gente dança/ A gente dança a nossa dança / A gente dança /A nossa dança a gente dança / Azul que é a cor de um país / que cantando ele diz que é feliz e chora”.
"A gente dança a nossa dança". É tão forte a idéia de "gente" no lugar de "nós" que nem faria muito sentido outro pronome possessivo para "gente", não é? O "nossa" é pronome possessivo da 1ª pessoa do plural e, portanto, deveria ser usado com o pronome "nós":
"Nós dançamos a nossa dança".
Na linguagem coloquial, no entanto, diz-se sem problema "a gente dança a nossa dança", "a gente não fez nosso dever", "a gente não sabia de nosso potencial" etc. No bate-papo, no dia-a-dia, na canção popular, não seria inadequado o emprego da palavra "gente". — que nos perdoem os puristas, os radicais, os conservadores”, explica o acatado professor Pasquale.
Só não é possível aceitar construções como "a gente não sabemos escolher presidente/ a gente não sabemos tomar conta da gente / a gente não sabemos nem escovar os dente / tem gringo pensado que nóis é indigente./ Inútil? A gente somos inútil", do profético Inútil, que a Banda “Ultraje a Rigor” transformou em hino de uma geração de jovens reprimidos pelo Golpe de 1964.
Gente, como já dito, é substantivo singular, mesmo que signifique ‘multidão’ e, em face disso, exige verbo também no singular: A gente está cansada de ouvir promessas.
Semana que vem retornaremos à palavra ‘gente’.

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