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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 15 de junho de 2007 - 10:42

Língua portuguesa, inculta e bela!
Alcides Silva
Paradoxos e redundâncias
No “Tendências/Debates” da Folha de S. Paulo, de sábado, dia 9, o juiz Douglas Alencar Rodrigues, do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, defendendo o “sim” para o tema “É positivo o balanço dos dois primeiros anos de atuação do Conselho Nacional de Justiça?”, do qual ele é membro, e dizendo da atuação daquele órgão soberano em “problemas tão sérios quanto antigos, como o nepotismo e a falta de transparência nas decisões administrativas”, escreveu: “encaramos de frente e abertamente a questão do teto remuneratório do Poder Judiciário”.
Para os fins desta coluna, o que nos interessa é a expressão utilizada pelo eminente juiz “encaramos de frente”, com a qual ele inicia o segundo período do segundo parágrafo de seu artigo.
“Encarar”, segundo o Aurélio, é “olhar de frente, de cara; fitar os olhos em; olhar com atenção; enfrentar, afrontar, arrostar, acarar”.
Difícil seria aquele egrégio Conselho ‘encarar de costas’, ‘encarar de trás’ ou ‘encarar de lado’. “Cara” é a parte da frente da cabeça, tanto dos homens como dos demais animais. “Encarar” é olhar de frente, jamais de soslaio, de esguelha. “Encarar de frente” é um paradoxo.
No aspecto gramatical e da comunicação, paradoxo é o absurdo, a afirmação na mesma frase de um conceito contraditório ou expresso por termos incompatíveis. E redundância é o excesso ou a superfluidade de palavras
É muito comum, na fala do dia-a-dia, o cometimento desses pecadilhos, muitos dos quais parecem-nos de bom português. Na linguagem formal, escrita, naquela que perdura, devem ser evitados.
Atendo o telefone de outro lado da linha alguém me pergunta: “Da onde?”. Fico irritado por dois motivos: falta de educação e agressão à gramática. “Da onde” não existe em língua portuguesa. Em expressando uma idéia de procedência, a pergunta deveria ser “De onde”: “De onde está falando? de onde você veio?” As regras de comportamento e de etiqueta indicam que ao ser atendida uma ligação telefônica devemos ou nos anunciar ou, então, perguntarmos com quem estamos falando.
“Lugar incerto e não sabido”. Embora comum no jargão forense, há desnecessária redundância que nada acrescenta, pois todo lugar incerto é local não sabido!
“Fulano faz parte integrante da diretoria do clube”. Quem faz parte de uma diretoria, dela integra, da mesma forma quem a integra, dela faz parte.
“O clima era festivo; todos exultaram de alegria”. O verbo exultar significa sentir ou manifestar grande júbilo. Daí, impossível alguém exultar de tristeza.
Elo de ligação. Se é elo (do latim anellu = anel) é uma argola ou aro que compõe uma cadeia, como uma corrente, por exemplo, portanto só podendo ser de ligação. Absurdo seria um elo de separação.
No cardápio eram me oferecidos ovos estalados. Não os comi, porque ovos dão estalos devem estar podres ou gorados. Prefiro ovos estrelados, porque o estalado é pura asnice.


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