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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 13 de dezembro de 2012 - 14:35

As palavras também têm história


Sendo obrigado, por não haver opção, a ouvir e ler todos os dias notícias escabrosas sobre corrupção governamental, deparei-me com um texto em que se dizia que a ex-chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, teria sido indiciada pela Polícia Federal pelos crimes de falsidade ideológica, tráfico de influenciam corrupção ativa e de formação de quadrilha, porque barganhava pareceres técnicos fraudulentos com favores de ordem pessoal.
Barganhar é palavra de dupla origem (do italiano barbagnare = “vender com fraude”, e do francês borganjan = “vender (ou comprar) fiado”. Hoje, barganhar tanto significa “fazer acordo político, como realizar uma transação fraudulenta.
A propósito, fiado (particípio do verbo “fiar”,do latim fidare = confiar, acreditar) é um advérbio com a significação de crédito, que, aliás, é o sentido do voto dado pelo eleitor. Muitos dos eleitos, ao depois, transformam-se em mensaleiros ou fraudadores, mas, isso já é outra história.
As palavras não fenecem como os seres vivos; repousam nos dicionários, ficando delas o registro. Um dia poderão berganhar de sentido e ressurgir com roupagem nova e significações semelhantes.
Rosemary se dizia namorada do ex-presidente Lula, tendo com ele participado de uma vintena de viagens internacionais, embora seu nome jamais constasse da lista oficial da comitiva. Estava deslumbrada com o tal de “namoro” e achava que podia tudo.
Vindo do castelhano lumbre (luz, clarão, fulgor), já tivemos o desaparecido verbo lumbrar, com a significação de alumiar, clarear. Renasceu com deslumbrar (ofuscar pelo excesso de brilho, de luz), deslumbrado (maravilhado, assombrado, fascinado, embevecido) e deslumbramento (encantamento, maravilha, cegueira, obcecação).
A propósito, obcecação não é parente de obsessão e nem com ela tem afinidade. A primeira significa ficar cego, perder o entendimento, a razão; a segunda, é impertinência, persistência.
No antigo Portugal, havia uma moeda de cobre, de pequeno valor, chamada mealha: (“Querei vós, senhor, um conselho, e não vos custará nem mealha?”- Alexandre Herculano: “Lendas e Narrativas”, 13ª ed. vol. II, p. 17). A mealha deixou de ser cunhada, a palavra foi esquecida, até renascer em amealhar, juntar pouco a pouco, economizar, poupar.
Cunhada, particípio do verbo cunhar (amoedar, fazer moeda, imprimir cunho), nada tem a ver com a homófona e homógrafa, descendente do latim cognata que é a irmã de um dos cônjuges.
Guarir é um verbo fora de moda, que já significou curar, sanar. Tem raiz germânica warjan (proteger). A prole dele é grande: temos hoje guarida (asilo, refúgio, abrigo, proteção) e guarita (casinha destinada ao abrigo de guardas ou sentinelas), guarnição (prover do necessário).
Alvenel ou alvanel, ou, ainda, alvaneu só encontramos nos bons dicionários. De origem árabe, significa mestre-de-obras, ou, simplificando, pedreiro. E quem era o pedreiro no passado? O operário que construía casas de alvenaria. Segundo o Houaiss, em 1611, alvenaria era um processo de utilização de pedras não lavradas no levantamento de paredes, muros, arcos, etc., com ou sem argamassa de ligação. Essas pedras eram tiradas da rocha com o auxílio de alvião (picareta). Hoje, alvenaria é o nome que se dá ao conjunto de elementos utilizados na construção de paredes, alicerces, muros, etc.: alvenaria de pedra, alvenaria de tijolo ou alvenaria mista.
É isso aí: as palavras também têm história.

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