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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 11 de outubro de 2007 - 10:22

Língua portuguesa, inculta e bela!
Alcides Silva

Pescaria frustrada

Programada e preparada desde o feriado de Sete de Setembro para este começo de primavera, época de seca, quando o lago, com sua capacidade de acumulação reduzida à metade, indica samburá repleto, a pescaria foi um absoluto fracasso. Nem um minguado ‘zoiúdo’ ou raquítica tilápia. Nada!. Nadinha!. Neca!. Neres!. Patavina!. Vai daí, me perguntaram qual a diferença entre as frases: “Não peguei nem um peixe” e “Não peguei nenhum peixe”.
Nem um sempre expressa uma quantidade: ‘Não tenho nem um real no bolso’, significando que não há dinheiro no bolso, “Não peguei nem um peixe” (ao menos, um peixe de determinada espécie), ao contrário de nenhum, que geralmente refere-se a uma especificidade, indivíduo ou coisa indeterminada ‘Não tenho nenhum real no bolso’, expressando a possibilidade de haver dinheiro no bolso, porém não possuir notas ou moedas de R$ 1,00 no bolso. “Não peguei nenhum peixe” (qualquer peixe). Este último nenhum pode ser substituído por qualquer, pronome que indica coisa, lugar ou indivíduo indeterminado.
Assim, nem um é usado para indicar coisa, fato, acontecimento ou indivíduo determinado; 1nenhum, quando houver indeterminação.
A palavra nem funciona como conjunção ou como advérbio, portanto, palavra invariável. É uma conjunção coordenativa aditiva quando liga palavras ou orações negativas, indicando conexão: Nada quis e nem pediu a seu favor. Nada fisgou; nem um simples lambari - Coitado: não tem pai e nem uma mãe que o ampare – Jamais soubemos a verdade: nem você e nem eu. Pode funcionar, ainda, como conjunção alternativa: Não fui ao jogo e nem às comemorações da vitória.
Como advérbio, modificador de um verbo, de um adjetivo ou mesmo de um outro advérbio, a palavra nem exprime negação e pode ser substituída pelas expressões ao menos e sequer: Nem lágrimas ela as teve (sequer, ao menos).
Nenhum já no latim era a junção de nem (nec) mais um (unu): “Não havia nenhum sinal de gente por ali”. É pronome indefinido. Palavra que se flexiona em gênero (nenhuma) e em número (nenhuns - nenhumas),
A forma sintética contém mais força de expressão. Apanhemos a lição que nos legou Napoleão Mendes de Almeida: “Dizendo: “Nenhum homem é capaz de fazer isso”, demonstraremos, simplesmente, não haver, dentre os homens, quem possa fazer determinada coisa. Dizendo, porém “Nem um homem é capaz de fazer isso”, indicamos, explicitamente, não haver nem mesmo, como se disséssemos não ser capaz disso não somente uma mulher, mas nem sequer um homem. Outra diferença: O nenhum, contraído, opõe-se a um indivíduo, ao passo que nem um, separado, opõe-se a um só, um único, um verdadeiro” (Dicionário de Erros, Correções e Ensinamentos de Língua Portuguesa).
Em orações negativas, quando empregado após o substantivo, o correto é a forma concisa (nenhum) “Em nenhum caso comentarei o ocorrido”.
A dica é substituir na frase a palavra nenhum por algum.
A diferença então é esta; “Não peguei nem um peixe” (= um exemplar de determinada espécie); “nenhum peixe” (= peixe algum, de qualquer espécie).






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